Blog do Carpentieri

Churrasco no velório

08/05/2020
Churrasco no velório | Jornal da Orla

No final do mês passado, quando mais de 5 mil brasileiros já haviam morrido em decorrência da Covid-19, o presidente Bolsonaro foi questionado e respondeu, bem a seu estilo: " E daí? Lamento. Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagre".

Bem, demorou alguns dias, o número de mortos dobrou, o país e o mundo estão parados e, finalmente, Bolsonaro anunciou à Nação o que pretende fazer. "Um churrasco para uns 30 amigos, "mas sem bebida alcoólica", frisou, para não deixar a primeira-dama brava. Acontece neste final de semana, em Brasília, a capital da República, quando o número de vítimas fatais da Covid-19 já passa de 10 mil e os hospitais brasileiros estão lotados.

A festinha vai ocorrer em um momento de luto mundial, de tristeza globalizada, mas isso não parece incomodar muito o líder brasileiro. Sua preocupação maior é com os rumos da economia, com a reeleição em 2022, a mesma reeleição que ele se dizia contra na última e bem sucedida campanha eleitoral. Como também não parece preocupar o presidente sua aliança com os políticos do centrão, aqueles mesmos políticos que no verão passado ele chamava de patifes ou  de representantes da velha política.

Bolsonaro parece apostar na versão de que brasileiro tem memória curta. Sua tese de criar confrontos diários com adversários, com inimigos reais ou imaginários e até com aliados tem tido aprovação de uma parcela significativa de cidadãos.

O jeito agressivo do presidente, de atacar a imprensa, de ofender minorias, de desprezar a ciência, de falar palavrões, enfim, de adotar um comportamento de cafajeste de botequim – nem a primeira-dama da França escapou -, faz com que psiquiatras e psicólogos sinalizem que Bolsonaro não demonstra estar em seu juízo perfeito, na melhor das hipóteses, apresenta abalos emocionais. É aí que vem o X da questão. Como pode um chefe de Estado, que despreza os mais elementares princípios civilizatórios, ser aclamado e aplaudido por parcela significativa de brasileiros?

Você, caro leitor, pode ser de direita, de centro ou de esquerda, ou simplesmente não se importar com ideologia alguma, mas como é possível achar bonito a grosseria, a estupidez, a ignorância e, agora, o desprezo pelo sofrimento de milhões de famílias em todo o planeta? Na construção de uma Nação, valores éticos e morais são essenciais. Formam os pilares de uma sociedade decente. E cabe ao líder dar bons exemplos.

O ex-presidente americano, Barack Obama, disse certa vez, em um discurso para estudantes, uma frase que talvez sirva de reflexão para muitos brasileiros: "Na vida, e na política, a ignorância não pode ser uma virtude". Pois é. Mas o herói de Bolsonaro é Donald Trump, que faz o estilo "cafajeste de primeiro mundo".

Enfim, é o que temos para o momento. Talvez a Covid-19 não seja o nosso maior problema.

 

Bom churrasco, presidente.