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As panelas vão às ruas?

03/12/2016Da Redação
As panelas vão às ruas? | Jornal da Orla
10 de março de 2016: 1,4 milhão de pessoas ocupam a avenida Paulista, em São Paulo, protestando contra a corrupção, a presidente Dilma Rousseff, Lula, o PT, os políticos em geral… Em Santos, o movimento “Vem pra Rua” mobiliza cerca de 10 mil pessoas, que ocupam a Praça da Independência, no Gonzaga, gritando palavras de ordem.
 
Dezembro de 2016: o movimento “Vem pra Rua” convoca nova manifestação, outra vez contra a corrupção. Agora, no entanto, não se vê o mesmo grau de adesão.
 
A falta de engajamento não acontece porque as questões levantadas nos atos anteriores ao impeachment de Dilma Rousseff foram resolvidas? Muito pelo contrário. 
 
A situação econômica do país se agravou, o novo governo gera controvérsia com suas propostas de reforma (corte de gastos públicos, aumento da idade mínima para a aposentadoria) e diversos de seus integrantes envolvidos em episódios suspeitos – inclusive o próprio presidente, Michel Temer (PMDB), citado por delatores na Operação Lava Jato e participante de um caso nebuloso envolvendo um empreendimento imobiliário em Salvador.
 
Em seis meses, seis ministros do novo governo caíram, cinco deles por conta de envolvimento em casos sombrios. Um deles, Romero Jucá (PMDB), foi flagrado em uma gravação defendendo “estancar a sangria” e barrar as investigações.
 
Executivos da empreiteira assinam um acordo de leniência que, por prometer entregar centenas de políticos, é conhecido como “a delação do fim do mundo”.
 
No Poder Legislativo, dezenas de deputados e senadores aparecem enfiados até o pescoço em casos suspeitíssimos. Surge, por duas vezes, um projeto que prevê perdão aos políticos flagrados em ilegalidades. Preso, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), insinua fazer uma delação premiada estremecedora. Na calada da noite, os parlamentares aprovam emendas a um projeto anticorrupção que praticamente o desfigura.
 
No Poder Judiciário, vem à tona os valores dos super-vencimentos pagos a seus servidores. Centenas deles ganham por mês mais do que o teto constitucional, isto é, R$ 33,4 mil. Enquanto isso, a população acompanha processos morosos, decisões controversas, enxurrada de casos indo parar no Conselho Nacional de Justiça… Portanto, motivos não faltam para a população ir às ruas protestar contra a corrupção. Mas será que as manifestações deste domingo (4) terão adesão maciça? 

Manifestação foi convocada de emergência, diz coordenador 
O coordenador do Movimento Vem prá Rua em Santos, o advogado Luiz Fernando Lobão, acredita que a manifestação não repetirá o sucesso das anteriores, por ter sido convocada em cima de hora, e também por um certo descrédito da população. 
 
Vai ter manifestação em Santos neste domingo?
Luiz Fernando Lobão- Não estava no calendário nacional esta manifestação. Ela foi convocada de emergência diante da ação dos congressistas, que estão tentando enterrar a Operação Lava Jato. Nossa maior dificuldade é a estrutura, ainda não conseguimos arrecadar os recursos necessários para alugar um carro de som. A tendência é que tenha. Será nossa nona manifestação, não tem muito segredo. 
 
Você não está sentindo uma menor mobilização agora, em comparação àquelas contra Dilma Rousseff?
Lobão- Acredito que sim, até pela situação econômica do país, pela dificuldade e o desgaste muito grande. Cada vez que você se mobiliza, faz uma pressão e não vê resultados palpáveis, desanima. A presidente Dilma recebeu o impeachment, o que aconteceu no dia seguinte? Infelizmente, assumiu o Temer, companheiro de chapa dela, a população não percebeu mudanças reais. Mas acreditamos que a pressão tem que continuar. Há um recall muito menor para esta manifestação, mas nunca dá para saber o que vai acontecer. Na primeira manifestação, em 2015, esperávamos umas 50 pessoas, a gente se surpreendeu. Não tem como mensurar, eu mesmo já parei de tentar. Essa de domingo não tenho grandes expectativas por um motivo: é a que teve menos tempo de preparo, de divulgação.
 
Tem gente que acha que, na verdade, as manifestações eram motivadas por ódio a Dilma, Lula, o PT e companhia, do que propriamente à corrupção…
Lobão- Não, você pode ver que existe uma coerência muito grande. Por exemplo, esta manifestação está sendo convocada em repúdio a Renan Calheiros, à tentativa de melar a Lava Jato, à tentativa de anistiar o caixa 2. O pau que bate em Chico bate em Francisco. A presidente Dilma representava um governo corrupto. Existe uma tentativa muito grande em dizer que “o problema era o PT”. Não era só o PT, mas o sistema político do Brasil. 
 
E se esta manifestação reunir poucas pessoas?
Lobão- Já teve manifestação em Santos que não foi divulgada e teve 250 pessoas. Lembro que na época as pessoas falaram: “nossa, é muito pouco”. Logo em seguida, na outra, que ficou famosa, reunimos 15 mil pessoas. 
 
E qual a sua expectativa para este domingo?
Lobão- Não tenho expectativa. Não tem como mensurar. A gente está com problema de estrutura, de mobilização, temos muitos voluntários que sempre estiveram conosco com problemas pessoais. A economia tem acabado com a vida particular das pessoas. O carro de som é sempre a questão mais delicada porque não temos financiamento externo. Sempre um autofinanciamento da população, há uma “vaquinha” entre os simpatizantes. Como são valores altos, é muito difícil você arcar. Acredito que a população sempre espera que se  resolva por ela. Está na hora de ela se mobilizar para ela mesma resolver. A falta de mobilização é que permitiu que a situação chegasse a esse ponto.