Ele foi um autêntico brasileiro até no nome. Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é uma referência para a nossa música e, pela sua real e marcante importância, conseguiu quebrar as barreiras territoriais e geográficas, se tornando um personagem sem pátria, um cidadão do mundo, que amou imensamente seu país de nascimento chamado Brasil, embora tenha vivido mais fora do país do que por aqui. No ano de 1987, quando ele completou 60 anos de vida, a TV Globo preparou uma histórica homenagem ao maestro, exibindo o especial “Antonio Brasileiro”, dirigido por Roberto Talma, e com roteiro assinado por Euclides Marinho e Nelson Motta, gravado parte em Nova York, na primavera, e no Rio de Janeiro, no outono.
Suas cidades preferidas e que sempre foram homenageadas em suas músicas. O programa foi exibido, a primeira vez no dia 29 de maio de 1987 e depois teve uma reprise exibida pelo canal a cabo Multishow, em 24 de abril de 2005, ano em que a emissora completou 40 anos, e a recentemente, em 18 de maio de 2012, nas comemorações dos 2 anos de existência canal a cabo Viva.
Somente 3 exibições oficiais que tornaram o material objeto de desejo para muitos, inclusive para mim. Mostrando a universalidade do homenageado, o programa foi vendido para diversos países e ganhou diversos prêmios internacionais.
Em 2008, ganhou merecidamente uma edição especial no formato DVD, lançado em parceria pelo selo Jobim Biscoito Fino Produções e a Globo Marcas. Nas belas imagens que contaram com uma edição primorosa, vemos Tom descontraído em conversas deliciosas no Central Park e no Museu de História Natural em Nova York e no Jardim Botânico no Rio de Janeiro. Na parte musical do programa, incríveis duetos intimistas gravados ao lado de Caetano Veloso (Eu Sei Que Vou Te Amar), de Chico Buarque (Anos Dourados), novamente com Chico e Edu Lobo (Choro Bandido), de Gal Costa (Dindi), de Joyce e Gilson Peranzzetta (Insensatez), de Marina Lima (Ligia) e outros belos números ao lado da sua Banda Nova. E, como cereja do bolo, nos extras, imagens raras de Jobim tocando o tema “Samba de Uma Nota Só”, além de uma conversa bem descontraída ao lado do saxofonista de Jazz, Gerry Mulligan, que foi um grande incentivador da Bossa Nova nos Estados Unidos.
O DVD também é abençoado com a execução do tema “Samba do Avião”, inspirado no belo cenário em torno do Cristo Redentor, que está sempre de braços abertos para acolher a todos nós.
As leituras dos poemas de Carlos Drummond de Andrade, feitas por Jobim no Jardim Botânico no Rio de Janeiro, emocionam demais. O diretor do especial, Roberto Talma, conseguiu realizar seu grande sonho de vida ao fazer “Antonio Brasileiro”, que ele descobriu quando tinha 13 anos de idade. Ele se encantou com as suas melodias, seus poemas, suas imagens, seu bom gosto. E afirmou: “Tenho certeza de quem não viu vai se apaixonar e quem já assistiu matará um pouco da saudade que temos do Tom”. Um grande prazer reencontrar neste documentário primoroso o nosso eterno maestro, que continua vivo e eternamente presente em nossos corações.
“Caçulinha na Bossa Nova”
O simpático e sorridente músico Caçulinha, paulista de nascimento e carioca por opção, durante muitos anos frequentou as nossas casas nas tardes de domingo, oferecendo seu talento e carisma num grande programa da TV brasileira. Ele sempre teve uma intensa relação musical com a MPB e com a Bossa Nova, participando de “O Fino da Bossa”, ao lado de Elis Regina e Jair Rodrigues, e também acompanhando, em mais de 50 anos de carreira, os grandes nomes da nossa MPB em shows e gravações. No ano de 2006, após receber uma sugestão definitiva e obrigatória do seu grande amigo, o cantor e violonista João Gilberto, lançou pelo selo MZA Music/Universal um dos CDs mais preciosos de Bossa Nova que já ouvi, com destaque para a sonoridade marcante do seu acordeom. Ao lado de Ricardo Leão nos arranjos, piano e teclados, Fernando Souza no contrabaixo, Cacá Collon na bateria, Tavinho Menezes no violão e Jakaré na percussão, ele selecionou um repertório de 13 faixas, que enchem nossos ouvidos de alegria e satisfação.
Além disso, trouxe um time de convidados de primeira linha: Roberto Menescal, João Donato, Marcos Valle, Rildo Hora, Paulo Braga, Paulinho Trompete, Lula Galvão, João Lyra, Marcelo Martins, Bocato e Zé Canuto. O repertório traz os clássicos conhecidos: “Triste”, “O Barquinho”, “Samba de Verão”, “Amazonas”, “Garota de Ipanema” e “Corcovado” e as menos celebradas e também extremamente bonitas, “Estate”, “Velas Içadas”, “Olhar de Mulher” e a composição de sua autoria “Tudo é Possível”, um inspirado improviso em que todos os convidados deixam sua marca. E que marca.
E, para finalizar, Caçulinha escreveu: “Se há um poema em cada melodia, em cada melodia há sempre um músico. O músico alimenta o espírito das pessoas”.
Nara Leão – “My Foolish Heart”
Lançado por uma encomenda para o selo Polygram do Japão, no ano de 1989, este foi o último disco da carreira de Nara Leão e, no Brasil, foi lançado pelo selo Phillips, contando com a produção e os arranjos do seu grande amigo e parceiro Roberto Menescal. Foi a segunda experiência da dupla com esta proposta musical, que agrada em cheio ao gosto dos japoneses. A primeira, realizada em dois anos antes, em 1987, com o álbum “Meus Anos Dourados”, com clássicos do cinema. No seu último trabalho, Nara gravou 15 versões cantadas em português de clássicos americanos dos anos 50, numa contagiante levada da Bossa Nova. As versões para o português são assinadas pela própria Nara Leão e por Nelson Motta e, uma única versão, assinada por Zé Rodrix e Miguel Paiva.
Ao seu lado, Luiz Avelar nos teclados, Jacaré no contrabaixo, Rubinho na bateria, Barney na percussão e o próprio Roberto Menescal no violão. Meus destaques ficam por conta de “Maravilha” – “S’ Wonderful”, “Adeus no Cais” – “My Funny Valentine”, “Mas Não Para Mim” – “But Not For Me”, “E Se Depois” – “Tenderly”, “Onde e Quando” – “Where Or When” e “Alguém Que Olhe
Por Mim”.
Eu, particularmente, gosto destas misturas de ritmos e línguas, saindo do lugar comum, no entanto, mantendo a essência das suas composições. Nara Leão teve dificuldades para colocar as vozes em algumas das canções do disco, pois infelizmente já estava doente. Nada, no entanto, que pudesse ofuscar a docilidade, a afinação e o sentimento que ela empregou a cada canção.
Não poderia ser diferente. Ela fez isso pela última vez, com muita categoria e talento.