Santos

Legião de excluídos

25/06/2016 Da Redação
Legião de excluídos | Jornal da Orla
O frio intenso que vem fazendo não só surpreendeu quem não está acostumado às baixas temperaturas, como desviou a atenção da população para pessoas que vivem invisíveis ao olhar na maior parte do tempo: os moradores de rua. Uma legião de excluídos, homens em sua grande maioria, que perambulam pelas ruas da cidade, improvisam abrigos na tentativa de se proteger do frio e contam com a solidariedade de moradores, instituições assistenciais e religiosas, que distribuem alimentos e outros donativos. 
 
Não se sabe ao certo quantos são. O último censo é de 2013 e apontou 591 pessoas em situação de rua, 72% oriundos de outros municípios – a maioria de São Paulo. É uma população sazonal, que cresce no verão. Santos é considerada atraente por ter praia e clima ameno a maior parte do tempo, ser plana, ter a facilidade para obter dinheiro e oferta de roupa e comida.
 
Os focos de maior concentração de moradores de rua estão nas áreas mais pobres da Cidade, como o entorno do Mercado Municipal e do terminal de catraias, onde funciona um restaurante Bom Prato. A refeição a R$ 1 é o chamariz. A Rua Luíza Macuco, na quadra da Hospedaria dos Imigrantes, no Macuco, também virou uma espécie de “moradia permanente”, ainda que a itinerância seja uma das características da população de rua. Como companhias fiéis, os cães. 
 
Um empurrão para as ruas
As justificativas se assemelham na hora de explicar a situação de rua: uso de drogas (principalmente o crack), alcoolismo, desavenças familiares, desemprego, violência doméstica … Mas cada ser é único e, como tal, tem sua própria história de vida. Muitos contam que já tiveram vida normal, com casa, família, emprego. Caso de Wellington, 50 anos, dois filhos. Ele se diz calceteiro por profissão e foi para as ruas devido às drogas. “Usei cocaína, crack, fui preso por traficar. Há um ano e meio que parei. Foi força de vontade mesmo”, garante.
 
“Não tem que condenar o crack, tem que condenar a si mesmo. Ninguém obriga a usar”, censura Edilson, 42 anos, ele próprio viciado assumido. Funileiro por profissão e com quatro filhos, ele conta que vivia no bairro do Paquetá, mas há muito tempo está pelas ruas. Já Everson, de 39 anos, veio de João Pessoa, na Paraíba, há mais de 20 anos para viver com a irmã, em Santos. Aqui foi eletricista, encanador, até que caiu no mundo. “Era muita crítica. Quis ficar independente, em ambos os aspectos, por isso larguei trabalho e família”, relata, enquanto cozinha miojo com ovo em fogareiro improvisado na calçada.
 
Se é verdadeira a história de Everson não dá para saber, mas uma questão por ele colocada leva a pensar: “É fácil viver hoje nas ruas em Santos, todo mundo ajuda. Tem sempre alguém que traz comida, uma roupa usada. Isto é bom, mas atrapalha, ajuda a não deixar a rua”.  Uma das poucas mulheres do grupo, Márcia não sabe se tem 28 ou 29 anos, mas lembra ter saído de casa, em Presidente Prudente, aos 13. Dali em diante passou a viver na rua. O estado de resignação percebido nesses indivíduos é definido por Messias, ex-soldador de 46 anos, há 2 vivendo nas ruas: “sou um sem futuro”. 

Prefeitura abre Abrigo de Emergência

A Prefeitura informa que Santos possui quatro abrigos para a população em situação de rua que funcionam o ano inteiro e somam 202 vagas. Desde o início deste mês, devido às baixas temperaturas, também foi aberto o Abrigo de Emergência para acomodar essas pessoas, totalizando a oferta de 266 vagas. Ainda segundo a Prefeitura, as equipes de abordagem social atuam das 7h à meia-noite (durante a madrugada o atendimento é feito a partir de denúncia pelo telefone 0800-177766 e o objetivo é convencê-los a ir ao Centro Pop, a porta de entrada desse público na rede de serviços socioassistenciais. 
 
No Centro Pop ele pode tomar banho, fazer um lanche, guardar seus pertences, ser encaminhado para a retirada de documentos no Poupatempo, ser inscrito em programa de transferência de renda, caso tenha direito, e ser encaminhado para abrigo. A Prefeitura mantém convênio com duas entidades de acolhimento (Albergue Noturno e Casa das Anas). As iniciativas de distribuição de roupas e alimentos são isoladas.

Carreata

A carreata da 11ª Campanha Metropolitana de Agasalho, será realizada dia 2 de julho, com ponto de concentração na Avenida Conselheiro Nébias, 388, às 9h. Será percorrido um trajeto de mais de 11 km, por diversos bairros da Cidade para recolher peças de roupas, cobertores e calçados doados pela população.