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Lula lá

05/03/2016 Da Redação
Lula lá | Jornal da Orla
Seis horas da manhã, em São Bernardo do Campo: toc-toc-toc! Não era o Japonês, já deslocado para outras funções, mas colegas dele da Política Federal, que faziam uma visita ao dúplex do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva com ordem do juiz Sérgio Moro de levá-lo, de forma coercitiva, a depor sobre o escândalo de corrupção que sacode o Brasil. O ex-presidente Lula, que já foi chamado de “o cara” por Barack Obama, desta vez não teve como dizer não. Já em Brasília, a presidente Dilma Rousseff (PT) se disse inconformada com a decisão da Justiça.
 
No aeroporto de Congonhas, onde Lula prestou depoimento, e na frente da casa do ex-presidente, houve confrontos entre manifestantes pró e contra  o líder petista.

No seu depoimento, que durou horas, o ex-presidente revelou irritação em vários momentos, em especial quando lhe foi perguntado sobre os pedalinhos, do sítio em Atibaia, que levam os nomes de seus netos: “Essa pergunta não está à altura da Polícia Federal”, disse.

 
Ataques à imprensa e ao Judiciário
Lula atacou a imprensa e o Judiciário, em especial o juiz Sérgio Moro, e condenou o espetáculo midiático em que, segundo ele, se transformou o seu depoimento. Disse que cobrava caro por suas palestras “porque sabe o que fez por esse país”, “não tem complexo de vira-lata” e usava como parâmetro o preço cobrado pelo ex-presidente dos EUA, Bill Clinton. 
 
Lula só não disse que 47% dos valores recebidos por palestras (R$ 10 milhões) e 60% de recursos doados ao Instituto Lula (R$ 20 milhões) saíram das empresas envolvidas na Lava Jato – Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiróz Galvão, Andrade Gutierrez e UTC. É justamente por que essas empresas foram tão “generosas”, digamos, que a força tarefa da Lava Jato está investigando Lula. O ex-presidente também vai ter de explicar por que o Instituto Lula repassou R$ 1 milhão para a empresa de seu filho e esclarecer os episódios envolvendo o tríplex no Guarujá, e o sítio em Atibaia.
 
O japonês amigo
Paulo Okamoto, o japonês amigo de Lula, também foi levado, como outras nove pessoas, a prestar esclarecimentos sobre a origem dos recursos no Instituto Lula e na Lils, empresa onde ele é sócio (tem 2% e Lula 98%). A prisão preventiva de Okamoto foi solicitada pelo Ministério Público, mas negada pelo juiz Sérgio Moro.
 
Obstrução da Justiça
Além da suspeita de que Lula pode ter obtido ganhos milionários de forma ilegal, o ex-presidente também tem mais problemas pela frente: a delação do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral. O senador revelou que Lula sabia do esquema de corrupção na Petrobras e que mandou comprar o silêncio de Nestor Cerveró,  preso na Operação Lava Jato. Denúncia que também atinge a presidente Dilma Rousseff. E, mais, segundo Delcídio, dinheiro das empreiteiras bancaram ilegalmente as campanhas presidenciais do próprio Lula e de Dilma.
 
Resumo da ópera: um furacão sem precedentes atinge o centro do poder em Brasília. As consequências são imprevisíveis.
 
PT vê regime de exceção
O Partido dos Trabalhadores condenou a condução coercitiva de seu líder. Em nota oficial, o PT diz que a nação está sendo sangrada pela construção de um regime de exceção, com “ataque à democracia e à Constituição.”
 
Ainda na nota, o PT faz um alerta: “Que não se iludam os pescadores das águas turvas do golpismo: o povo brasileiro, do qual o ex-chefe de Estado é seu filho mais ilustre, saberá resistir e derrotar as forças do ódio e do retrocesso”.

Manifestações do dia 13 serão decisivas, diz líder do MBL

Em entrevista a Edison Carpentieri, o coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri,  acredita que a manifestação marcada para dia 13 será crucial para decidir o futuro da presidente Dilma Rousseff (PT).  “É um momento importante. Todo mundo que orbita a presidente e o ex-presidente Lula está envolvido em escândalo”, afirma.
 
Segundo ele, a força das manifestações populares é reflexo da falta de representatividade política.  “Mais do que fazer um discurso genérico contra a corrupção, a gente tem que falar como combatê-la. A corrupção não é causa, é efeito. Ela acontece porque existe um Estado inchado. Tem muito dinheiro e poder nas mãos dos políticos”.
 
Kataguiri garante que o MBL também é coerente e rigoroso em relação às denúncias de corrupção envolvendo o PSDB e outros partidos. “O MBL tem núcleos municipais e estaduais que fazem manifestações contra governos tucanos. Depois do PT, o partido que eu mais critico é o PSDB, não só pelas denúncias de corrupção, mas, também, pela oposição frouxa que faz, a nível nacional”.

Confira a entrevista completa.