Coluna Dois

O futuro do Peixe em xeque

26/12/2015
O futuro do Peixe em xeque | Jornal da Orla
O torcedor do Santos pode aproveitar essa pausa de final de ano para uma reflexão sobre o futuro do clube. O conselheiro e o dirigente, para uma análise ainda mais profunda. 

Dois pontos merecem destaque nessas considerações. O primeiro está na formatação política anacrônica do Santos. O segundo, na rota atual do Peixe em relação a permanecer, ou não, numa elite que está em processo de formação no futebol brasileiro.

O Estatuto do Santos passou por uma oxigenação vigorosa em 2011. A estrutura administrativa do clube ganhou um perfil profissionalizado que o futebol do século 21 exige. Saíram de cena dezenas de diretores amadores de carteirinha. Entraram no lugar deles gerentes e superintendentes. As decisões saíram do circuito fechado do presidencialismo monocrático e passaram a ser compartilhadas num Comitê de Gestão de 9 membros. O exemplo de Carlos Miguel Aidar no São Paulo deixa claro o risco da concentração de poderes nas mãos de uma única pessoa – o presidente.

O modelo de diretores colocou e manteve o Santos na elite do futebol brasileiro por cem anos. Mas perdeu o fôlego na estrutura profissionalizada do futebol atual.

O Conselho tem pouco mais de 300 membros. Ao longo de décadas, tem sistematicamente aprovado ou rejeitado de acordo com o momento político e com os resultados do futebol. E o conselheiro, qualquer que seja a tendência política dele, deve se perguntar com honestidade:

“Em que eu consegui ajudar o alvinegro nesse tempo todo?”.

Não é má vontade. É inadequação da estrutura. Entra gestão e sai gestão e o clube patina politicamente entre fofocas, vaidades e rivalidades de facções.   

Em relação ao processo de formação de uma elite no futebol brasileiro, a reflexão traz uma angústia ainda maior para o santista. Os quesitos que vão afunilando essa seleção são cotas de TV, bilheterias, força política nas ligas que vão se formar, quantidade de sócios, utilização de arenas, profissionalização da administração. Vão ser cinco ou seis clubes de topo. O Santos manteve a grandeza centenária com suas armas: a tradição na formação de jogadores e o alçapão da Vila. Mas perdeu terreno nos últimos anos em alguns daqueles itens. E, em 2015, em todos. Teve um retrocesso até no processo de profissionalização e no quadro de associados. O critério para preenchimento de muitos cargos da administração voltou a ser o apadrinhamento. E muitas decisões voltaram a ser pautadas pelo provincianismo.   

Pela Copa do Brasil, contra o Figueirense, no Pacaembu, 30 mil pessoas. Mas o 18º lugar entre os públicos da Série A como mandante é o mais tétrico dos índices. E preocupa ainda mais porque em boa parte do Brasileiro o Peixe de Dorival Junior e Lucas Lima exibiu um futebol de fazer brilhar de encantamento o olhar do torcedor.