Quando surgiu como repórter do “CQC”, Danilo Gentili se destacou. Cumpriu sua função tão bem que ganhou uma atração solo na Band, o “Agora é Tarde”. Então veio uma oferta do SBT e o humorista/apresentador trocou de emissora. Com a estreia do “The Noite”, parecia que Gentili ascenderia a um novo patamar. O início até foi promissor, porém a opção por um estilo de humor apenas grosseiro – além da falta de preparo em algumas entrevistas – tem comprometido o programa.
Haja vista o triste espetáculo que Gentili e Léo Lins protagonizaram no quadro “Rodada da Noite” por conta do tema da redação do último ENEM, “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. “Eu já li que a cada 12 segundos uma mulher sofre violência no Brasil, mas estou escrevendo a redação há 30 e não vi nenhuma apanhando… Também é preciso ver quem fez a pesquisa: como saber se o sangue é de violência ou ciclo menstrual? Afinal o sangue que sai de um corpo é o mesmo, não importa o buraco”, discorreu Lins, recebendo uma nota dez do apresentador.
Criticado, Gentili manteve o nível nas redes sociais. Para poupar o leitor, vou citar apenas uma de suas reações. Uma garota escreveu, educadamente: “Fazer piada com mulheres que são agredidas todos os dias??? Que feio Danilo… Eu era sua fã… Mas essa falta de respeito foi de lamentar”. E ele respondeu: “Jura que deixou mesmo de ser minha fã? Eu posso até depositar uma grana pra você me enviar um contrato que nao é mais minha fã. É importante pra mim saber que nao tenho fã arrombada”.
Danilo Gentili e seus colegas de “The Noite” se comportam como garotos tolos recém-ingressos na puberdade que fazem piadinhas inconvenientes no fundão da sala de aula como forma de autoafirmação. Eles se sentem o máximo, mesmo que ninguém – além deles próprios – veja graça.
Ademais, ser politicamente incorreto não implica em, necessariamente, ser inconsequente e rasteiro. Sempre imaginei esse tipo de humor como algo transgressor, de oposição ao status quo – e não de confirmação dele, como faz Gentili.
Pra lembrar alguns exemplos: Charlie Chaplin, com obras primas como “Tempos Modernos”, e os ingleses do Monty Python, com seu nonsense genial. No Brasil, o saudoso cartunista Henfil. Ou até desenhos escrachados como “South Park”, que apostam no sarcasmo e em uma linguagem agressiva para criticar aspectos da cultura norte-americana e da história recente.
Não imagino nenhum deles fazendo piada da violência contra a mulher, ainda mais num país que, entre outras coisas, contabilizou 47 mil estupros em 2014.