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Adriana Carranca lança livro inspirado em Malala Yousafzai

26/09/2015
Adriana Carranca lança livro inspirado em Malala Yousafzai | Jornal da Orla

Adriana Carranca, uma das mais importantes jornalistas do país – que começou a sua carreira no Jornal da Orla – lança o livro infantil “Malala, a menina que queria ir para a escola”, baseado na história de vida da paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014. Para Adriana, Malala é anti-Cinderela, uma menina que aprendeu o seu valor e não queria se realizar pelo casamento, como todas as outras de sua tribo no Paquistão, mas por si própria e pela educação.Em entrevista ao Jornal da Orla, Adriana, que também é autora de outros três livros (“O Afeganistão depois do Talibã”, “O Irã Sob o Chador” e “Os Endereços Curiosos de Nova York”) fala sobre as crianças paquistanesas e a importância da educação.

Malala é uma garota incrível. Como você decidiu transformar a história dela em livro para crianças?
Adriana – Fui ao Paquistão com a ideia de escrever um livro adulto sobre o assunto. Mas tudo que aconteceu à Malala e tudo o que ela fez foi quando ainda era uma criança. Ela começou a escrever contra o Talibã aos 10 anos. Foi o blog dela que pressionou o governo sobre o que estava acontecendo na região. As mulheres naquele país são tão oprimidas que até as meninas foram proibidas de ir às escolas pelos talibãs. O pai da Malala é dono da escola que servia como um oásis para ela e as outras meninas. Eu convivi com as amigas dela por muito tempo e me hospedei em uma casa onde moravam oito crianças. Ali, vi que deveria escrever uma história para crianças.
Esse não é um dos temas mais fáceis de contar para elas…
Adriana – Antes de escrever este livro, estudei Literatura por um ano. Percebi que todos os clássicos infantis têm históricos de violência, como a Branca de Neve, por exemplo, em que a Rainha Má manda um caçador arrancar o coração da menina. Até mesmo o Harry Potter era perseguido. O livro traz a história de uma criança que conseguiu chamar a atenção do mundo, mas poderia ser a história de qualquer criança brasileira, que vive em uma favela e que fosse impedida de ir à escola por traficantes locais.
Como é a infância no Paquistão? As crianças entendem o que se passa no país?
Adriana – Entendem e muito! Elas até se organizam para lutar. Escolas como a do pai de Malala estimulam para que elas falem sobre os problemas que acontecem na região. Algumas se reuniram em uma assembleia de crianças para encaminhar suas propostas ao governo. Além disso, aprendem várias línguas, como o inglês e o hindu.
Você conheceu a Malala?
Adriana – A primeira vez em que estive no Vale de Swat (noroeste do Paquistão, local onde a menina cresceu), Malala estava em coma, pois tinha sofrido um atentado e sido baleada na cabeça. Todos pensaram que ela não sobreviveria. Enquanto ela se recuperava, eu escrevia o livro. Então, tive a oportunidade de encontrá-la e foi muito emocionante! Foi como encontrar o personagem de um livro! Para ela também foi emocionante, porque levei fotos de todas as amigas de sua escola.
Este é o seu primeiro livro infantil. Como foi a experiência?
Adriana – Foi especial. Esta história mostra o poder transformador da escola. É um livro sobre o amor à escola. Ele mostra como o professor pode mudar a vida de uma criança. Ainda mais no Brasil, país em que os professores são tão desvalorizados. A história também fala da importância da participação dos pais na educação dos filhos. O pai de Malala sempre a incentivou a estudar, quanto que ela sempre foi uma menina muito articulada, sabia do que estava falando.  Ela me disse: “Não me pergunte o que meu pai não fez. E, sim, o que ele fez: ele não cortou minhas asas”.