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O que é aquilo?

15/08/2015Da Redação
O que é aquilo? | Jornal da Orla
O cenário é comum, a cena é singela. Num banco de jardim da casa estão sentados um homem idoso e um jovem.

O jovem lê o jornal, com atenção. O idoso parece imerso em algo indefinível. 

Então, um pequeno pássaro pousa no arbusto próximo e canta. O homem parece despertar e indaga:

-O que é aquilo? – Apontando com o dedo na direção da pequena ave.

O rapaz alça os olhos e diz, secamente: -É um pardal.

A pequena ave saltita de um galho a outro e a pergunta se repete: -O que é aquilo?

A resposta agora não é somente seca, mas também denota enfado: -Já disse: é um pardal!

O pássaro voa do arbusto para a árvore, continuando na sua dança matinal.

-O que é aquilo? – Soa de novo.

Agora, o rapaz se irrita e quase grita: -É um pardal!

A ave, feliz, prossegue no seu bailar. Alça voo e parece desaparecer. Poucos segundos passados e retorna ao chão, bicando aqui, saltitando acolá.

O homem leva a mão aos olhos, como se desejasse ajustar a visão embaçada e, com natural curiosidade, pergunta: -O que é aquilo?

O jovem, na verdade filho deste senhor,  responde, em altos brados: -É um pardal! Já disse: um pardal.

E soletra, aos gritos: -P – a – r – d – a – l. Você não entende?

O homem se ergue, sobe os degraus, adentra a casa, lento e decidido. Pouco depois, retorna com um velho caderno nas mãos.

A capa é bonita, denotando que foi guardado com cuidado, como se guardam preciosidades.

Abre-o, procura algo, depois o entrega ao filho, ainda inquieto e raivoso.

-Leia! – Ele pede. E acrescenta: -Em voz alta!

Há surpresa no rosto do filho, que lê pausada e cada vez com maior emoção: 

“Hoje, meu filho caçula, que há uns dias completou três anos, estava sentado comigo, no parque, quando um pardal pousou na nossa frente. Meu filho me perguntou vinte e uma vezes o que era aquilo e eu respondi em todas as vinte e uma vezes que era um pardal. Eu o abracei todas as vezes que ele repetiu a pergunta, vez após vez, sem ficar bravo, sentindo afeição pelo meu inocente garotinho”.

Então, o filho olha o pai. 

Há culpa e dor em sua alma.

Abraça-o, lacrimoso, beija-lhe a face, emoldurada pela barba por fazer.

Estreita-o, puxando-o para perto de si. E assim ficam: um coração ouvindo outro coração.

[com base no texto: “O que é aquilo” de Constantin Pilavios e na Redação do Momenta Espírita]

Cenas como essa acontecem todos os dias, em milhares de lares, em todo o mundo.
Nossos anciãos, de braços dados com Alzheimer, demência senil ou outras problemáticas, indagam, perguntam, questionam.

A memória recente lhes falha. Mergulhados em retalhos de lembranças do passado, não entendem por que recebem gritos como resposta.

E se as lágrimas nos umedecerem os olhos, não tenhamos vergonha de abraçar com amor nosso velho pai, nossa mãe, vovó, vovô, madrinha, tia… Agora.
 
PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE