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A difícil escolha de Jolie

27/03/2015
A difícil escolha de Jolie | Jornal da Orla
A atriz Angelina Jolie mais uma vez surpreendeu o mundo ao anunciar a remoção de seus ovários e trompas de Falópio (tubas uterinas) para prevenir a incidência de câncer.  A atriz, que perdeu a mãe, a avó e a tia para a doença, já havia retirado as mamas em 2013. A escolha de Jolie foi baseada em exame de sangue que revelou que ela carrega uma mutação no gene BRCA1, o que lhe dava uma estimativa de risco de 87% de ter câncer de mama e de 50% de ter câncer de ovário.

A cirurgia à qual ela agora se submeteu é menos complexa do que a mastectomia dupla (retirada das mamas), mas seus efeitos são mais graves, porque coloca a mulher em uma menopausa forçada. “Então, eu estava preparando-me fisicamente e emocionalmente, discutindo opções com os médicos, pesquisando medicina alternativa e mapeando os meus hormônios. Senti que eu ainda tinha meses para tomar essa decisão”, explicou a atriz.

Até que ponto Angelina Jolie tomou a decisão correta? A própria atriz, que consultou vários especialistas, disse que há alternativas menos radicais. “A coisa mais importante é aprender sobre as suas opções e escolher o que é certo para você pessoalmente”, argumentou. Para saber mais, conversamos com a médica geneticista Michele Migliavacca, do Delboni Medicina Diagnóstica. 
 
Que tipo de exame permite detectar esse risco de câncer?
Michele Migliavacca – O câncer de ovário é de difícil rastreio pela sua localização e o ultrassom pélvico muitas vezes não consegue identificar alterações características dos estágios iniciais da doença. O ultrassom pode ser realizado pela rede pública. Quando existe uma suspeita de câncer hereditário, testes genéticos podem ser realizados. Portanto, quando um diagnóstico é realizado, o câncer já está em um estágio mais avançado. Em pessoas que preencham critérios para câncer hereditário, o teste genético pode ser oferecido e é coberto pelos planos de saúde.
 
A decisão da atriz foi acertada ou há alternativas menos radicais?
Michele Migliavacca – O médico tem a obrigação de informar o paciente de todas as alternativas possíveis, permitindo que o paciente possa tomar a melhor decisão. Esta, por sua vez, é individual. Ou seja, não existe certo ou errado, mas sim o que cada indivíduo considera mais adequado. Isso geralmente é influenciado pela história de vida da pessoa. Pacientes que tiveram parentes próximos com a mesma doença tendem a ser mais pró-ativos, pois conheceram a doença por outro aspecto.
 
Os cânceres de mama, ovário e útero podem ser hereditários? 
Michele Migliavacca – A Síndrome de Predisposição ao Câncer de Mama e Ovário Hereditário é causada por mutações nos genes BRCA1/BRCA2. A forma de herança é autossômica dominante, ou seja, uma mãe portadora tem 50% de chance de passar essa mutação para os seus filhos. As pessoas portadoras de mutações nestes genes apresentam um risco maior de desenvolver câncer ao longo da vida quando comparados à população geral. Para o câncer de mama, este risco pode ser de 80% e para ovário até 50%. 
 
A retirada desses órgãos traz quais consequências ao corpo da mulher?
Michele Migliavacca – A retirada do ovário leva a uma menopausa cirúrgica, diferentemente da menopausa natural, na qual os níveis hormonais sofrem um decréscimo gradual. Na cirúrgica, a queda é abrupta, geralmente levando a sintomas mais exacerbados da menopausa, como perda da libido e maior risco para osteoporose e doenças cardiovasculares.  A retirada das mamas pode ter um impacto emocional em algumas mulheres, e por conta disso somente a paciente pode tomar a decisão de realizar a cirurgia ou não.
 
Entre os efeitos da menopausa, quais os mais preocupantes e que precisam de maior atenção?
Michele Migliavacca – Deve-se ter cuidado para os riscos de osteoporose e doenças cardiovasculares. A manutenção de hábitos de vida saudável contribui sobremaneira para diminuir a incidência destas doenças. 
 
A reposição hormonal pode ser feita por qualquer mulher, mesmo aquela que geneticamente tem maior risco de câncer? 
Michele Migliavacca – Não. Na verdade as mulheres portadoras de mutações que predispõem ao câncer devem ter uma indicação muito especifica para o uso de reposição hormonal.
 
Há um tempo determinado para fazer a reposição hormonal ou ela é para toda a vida? 
Michele Migliavacca – Há sim, geralmente as mulheres utilizam a terapia de reposição no período que os sintomas são mais intensos e depois ela é interrompida.
 
Toda reposição hormonal é igual? 
Michele Migliavacca – Basicamente, a reposição hormonal visa mimetizar os hormônios femininos que sofreram um decréscimo pela falência dos ovários esperada durante o processo de envelhecimento. Ela consiste na tomada via oral de hormônios sintéticos. Para sintomas mais específicos podem ser utilizados outros tratamentos como cremes com hormônios para evitar a perda de lubrificação da região genital. A prática de atividades físicas e uma alimentação adequada têm um grande impacto na manutenção da integridade óssea, evitando o aparecimento de osteoporose.