Comportamento

O anel de Giges

27/03/2015
O anel de Giges | Jornal da Orla
Conta uma fábula da Grécia Antiga que o pastor Giges era tido como um homem bom e honesto em sua comunidade. Até que um dia ele descobre um anel que confere o poder da invisibilidade. Ao acionar o anel mágico, oculto de todos, Giges revela seu verdadeiro caráter – completamente diferente do que imaginavam seus conterrâneos. 

Esta história é utilizada pelo filósofo Clóvis de Barros Filho para analisar a prática da corrupção pelo cidadão comum. “A corrupção é uma escolha. Sempre haverá a opção de se negar a fazê-la. É decidir não fazer, mesmo que não tenha ninguém olhando”, argumenta.

Barros Filho explica que a corrupção é uma questão ética. “A ética é uma luta coletiva pelo aperfeiçoamento da convivência. É normal que, individualmente, tenhamos pretensões, apetites e desejos que possam colocar em risco esta melhor convivência. A ética é esta disposição inicial para submeter nossos apetites ao crivo da convivência e satisfazê-lo apenas se não forem lesivos a este patrimônio coletivo. Ética pressupõe saber abrir mão. Em uma sociedade subdesenvolvida eticamente, cada agente não vê com naturalidade abrir mão de nenhum de seus apetites”, afirma.

Mário Sérgio Cortella acredita que é preciso discutir a ética não só na política, mas na família, no trabalho, na convivência, no trânsito… “O mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para o mundo. Quais os valores? Honestidade ou levar vantagem a qualquer custo? A boa convivência ou competir, mesmo que seja destrutível? Os pais precisam educar seus filhos para não terem uma vida banal, fútil e inútil. Infelizmente, hoje é comum a percepção de que ser honesto, pagar tributos e ajudar as pessoas é ser otário. Ética é uma questão de prioridade, de escolha, de vergonha na cara”, declara. 

E conclui citando uma frase do filósofo Immanuel Kant: “Tudo o que não puder contar como fez, não faça”.