Comportamento

Hora de estudar e mexer o corpo

06/02/2015
Hora de estudar e mexer o corpo | Jornal da Orla
O início do ano letivo marca o retorno da velha rotina: acordar cedo, ir para a escola, fazer a lição de casa e deixar um tempo para a diversão, até porque brincar é preciso. Se no passado isso já era o bastante para ocupar a agenda diária dos filhos e dos pais, hoje as famílias se preocupam também em oferecer atividades extracurriculares para as crianças e adolescentes gastarem energia e queimarem calorias e ainda adquirirem novas habilidades, como o domínio de uma segunda língua, que mostrará sua importância na vida futura. 
 
O ser humano tem o instinto do movimento. Por isso nasce, rola, engatinha, fica de pé, anda, corre, salta, arremessa e brinca conjugando todos os movimentos. Acontece que por motivos de segurança, falta de espaço e com a nova e sufocante dinâmica familiar, antigas brincadeiras, como queimada, amarelinha, pular corda, corrida e outras, saíram de cena e abriram espaço para o domínio das telas dos computadores. Como resultado, na fase da vida em que é natural esbanjar vitalidade, não são poucas as crianças e os adolescentes que vivem de forma sedentária e desconectados do ambiente em que estão inseridos. 
 
Mario Cesar Martins, especialista em reabilitação e tratamento preventivo de patologias ósseas e articulares, destaca que as atividades físicas, além de afastar o risco de obesidade, estimulam a coordenação motora e ajudam no desenvolvimento intelectual da criança. Muitos pais sabem disso, as dúvidas aparecem na hora de decidir sobre quais esportes os filhos devem praticar, com que idade começar, a partir de quando eles devem entrar em competições?
 
Para o especialista, um dos principais cuidados dos pais no momento da escolha deve ser em relação à forma correta de os pequenos realizarem as atividades. “A orientação de um profissional qualificado é fundamental para evitar problemas como desvios posturais, instabilidade articular e artrose. Algumas modalidades, como o tênis, requerem mais cuidado”, exemplifica. 
 
FILHO DE PEIXE, PEIXINHO É?
A influência hereditária na obesidade infantil é bem menor do que se imagina, mas o mesmo não pode ser dito sobre o exemplo dado pelos pais. É a chamada “transferência cultural”: filhos de pais que não fazem atividades físicas e se alimentam mal, tendem a assumir os mesmos hábitos nocivos à saúde. 
 
Segundo especialistas, quando os pais comem alimentos com pouca gordura e adição de açúcar, e ricos em fibras, as crianças aprendem a gostar dessas comidas também. É preciso persistir, pois as crianças frequentemente precisam ver uma nova comida muitas vezes antes de experimentar. E não deixe seu filho passar horas de olho na tela do computador ou do celular; não coma em frente à TV e tire o aparelho do quarto do filho.
 
Atividades indicadas para cada faixa etária
Até 2 anos – Mário Martins comenta que, geralmente, o primeiro contato dos pequenos com esportes vem com a natação ou a yoga para bebês, antes mesmo de eles completarem um ano. “A natação é uma atividade muito importante para a parte respiratória, para eles desenvolverem a coordenação motora e também para defesa no meio aquático”, explica.
 
Dos 2 aos 5 anos – Dependendo da maturidade da criança para entender os comandos, os pais podem pensar em matriculá-la em um esporte individual. Nesta fase os exercícios devem ser mais lúdicos. Quanto mais naturais os movimentos nesse período, melhor. Correr, pedalar, pular corda e dar cambalhota são atividades inseridas nas brincadeiras. O judô é uma boa aposta, pois, além de desenvolver a coordenação motora, auxilia no equilíbrio físico e emocional. 
 
De 6 a 11 anos – A partir dos 6 anos, a estruturação espacial e corporal já permite que ela pegue a bola e arremesse de volta, por exemplo. Os pais podem começar a considerar um esporte coletivo, que ensine à criança a necessidade de respeitar e aceitar os erros dos outros e os seus próprios insucessos. Martins recomenda que a criança frequente uma escola de esportes, para experimentar diversas modalidades e trabalhar a parte motora de diferentes formas. “No começo, ele pode praticar todos os esportes que estiverem à sua disposição. Com o tempo, ele vai sentindo com quais se identifica mais, e as possibilidades vão se afunilando”.
 
De 12 a 15 anos – As crianças desenvolvem equilíbrio, força e destreza, por isso o momento é considerado ideal para iniciar competições de diferentes atividades esportivas, que promovem a integração social. Segundo Mário Martins, “apenas na pré-adolescência, com cerca de 13 anos, os pais devem incentivá-los a participar de competições com foco em resultado. Antes disso, eles devem entrar em competições apenas de uma forma mais moderada, para que aprendam a encarar diferentes situações, como a frustração pela perda e o comodismo que pode surgir com as vitórias”.
 
A partir de 16 anos – A partir dessa fase, é possível diversificar as opções, incluindo aulas coletivas em academias. O mais importante é oferecer atividades que ajudam a desenvolver a coordenação motora como um todo, deixando que o adolescente escolha a que mais lhe agrada.
 
Como estimular o ensino de inglês
Quem não domina uma segunda língua sabe o quanto este aprendizado faz falta na vida. Principalmente se o idioma em questão for o inglês, adotado universalmente e com muitas palavras incorporadas ao vocabulário da era digital. Quem não entende fica literalmente “a ver navios” e tem as oportunidades de trabalho e até de lazer limitadas. 
 
Para crianças e adolescentes o ensino da segunda língua pode se tornar mais fácil se for relacionado a atividades divertidas, prazerosas e fáceis. “Se a criança se sentir forçada a aprender, vai desenvolver resistência à língua e criar um bloqueio de aprendizado”, argumenta Sylvia de Moraes Barros, diretora do The Kids Club no Brasil.
 
Decisão é dos pais – Sylvia Barros comenta que uma criança de cinco ou seis anos não sabe a função que o inglês terá em sua vida. “Ela não consegue ver a importância desse idioma no futuro, pois ele ainda é muito distante. Passar no vestibular, ter boa colocação profissional, tudo isso é muito abstrato”, explica.  Por isso, ela defende que são os pais quem devem decidir sobre a educação das crianças. 
 
“Se os pais acham que aprender inglês é importante, não precisam perguntar à criança a opinião dela, pois ela não saberá responder. Cabe a eles matriculá-la em uma escola que atenda a criança de maneira adequada. E isso significa mais que ensinar; é o aprendizado de uma maneira divertida e prazerosa”, diz.
 
De acordo com a educadora, para que a criança use a língua além dos limites da escola, basta que os pais demonstrem interesse na atividade dos filhos. “Os pais não precisam saber inglês, nem precisam ensinar a criança; este é o papel da instituição”, pondera Sylvia, que dá as dicas de como proceder. 
 
Para facilizar o aprendizado
 Repare se a criança gosta de frequentar o ambiente da escola de inglês. Este é o mais importante indicador de que o ensino está sendo divertido e prazeroso – e, portanto, eficaz;
 
 Brinque com seus filhos com jogos em inglês. Escolas especializadas fornecem atividades para serem feitas em casa, como jogo da memória e músicas para que a criança cante junto;
 
 Quando estiver com a criança, coloque músicas em inglês que despertem a atenção dela. Não é necessário que sejam as músicas aprendidas na escola. Se a música interessar à criança, ela vai querer saber de qual assunto trata – e será estimulada a aprender mais;
 
 Até os quatro anos de idade, as crianças não têm resistência a novas palavras e outros idiomas. Por isso, aproveite esse tempo e coloque-a para assistir a seus desenhos preferidos em português e inglês;
 
 Sempre relacione o idioma a atividades divertidas, prazerosas e fáceis. Se a criança se sentir forçada a aprender, vai desenvolver resistência à língua e criar um bloqueio de aprendizado;
 
 Evite perguntar, fora de contexto, a tradução de uma palavra em português para o inglês, pois isso bloqueia o aprendizado natural, que acontece sem que a criança decore informações;
 
 Se a criança for desinibida, vale sugerir que ela apresente para visitas ou parentes as músicas ou atividades que aprendeu na escola de inglês. Mas se a criança não quiser entrar na brincadeira, não force, para que ela não se sinta obrigada.