Um homem caminhava em demorados passos pelas calçadas do nobre bairro.
Estava cansado. Embora fosse o último dia do ano, ele saíra muito cedo de casa, como fazia diariamente, a fim de encontrar trabalho que lhe pudesse sustentar a família. Mais um dia chegava ao fim. Mais um dia em que ele não lograra êxito em sua busca. Sentia o coração partir ao pensar em chegar em casa e dar a triste notícia aos entes queridos, ceifando-lhes, mais uma vez, a esperança de dias mais venturosos.
Foi então que ele avistou, através da vidraça, uma família reunida em torno de uma mesa farta. Sentiu um nó se formar em sua garganta e furtivas lágrimas começaram a lhe escorrer pela face.
Lembrou de seus filhos: magros, desnutridos, sempre esfomeados. De sua esposa fiel, forte e cheia de esperança. Sentindo-se fraquejar, se sentou na calçada e chorou. A família reunia-se feliz em torno da mesa. O chefe da família estava orgulhoso. Lá estavam seus pais, filhos e sua amada esposa. Todos brindando, com muito amor, o novo ano que se anunciava. Havia sido um ano bastante próspero para ele, em especial nos negócios de sua empresa.
Entretanto, sentia que alguma coisa lhe faltava. Embora seu coração estivesse iluminado, vez ou outra uma sombra pairava sobre ele. Entre sorrisos carinhosos, fitou a rua, através da janela, e alguém que ali estava lhe chamou a atenção. Tratava-se de um homem que, sentado na calçada, mantinha a cabeça baixa e parecia chorar.
Incomodado com aquela situação, dirigiu-se ao imenso portão de sua residência e, tomado de um impulso, o chamou. Apertando-lhe a mão e apresentando-se, perguntou se havia algo que podia fazer para auxiliá-lo. O triste homem, um pouco constrangido, relatou sua má sorte àquele estranho, que o ouviu pacientemente. Comovido e certo do que estava fazendo, o dono da propriedade asseverou:
-Pedirei ao meu motorista que vá com você buscar sua esposa e filhos. Hoje vocês irão jantar conosco, como meus convidados.
E assim se fez. A humilde família, embora um pouco constrangida, foi recebida muito bem por todos da casa e o jantar foi bastante harmonioso e feliz. Percebendo a boa vontade do novo amigo, o anfitrião do jantar ofereceu a ele um emprego, a fim de que pudesse, a partir dali, dar uma vida digna aos seus familiares.
Naquele instante, fez-se verdadeiro Ano Novo para ambos: o ex-desempregado não mais se sentiu fracassado como marido, pai e o empresário nunca mais sentiu aquela estranha sombra sobre o seu coração…
[com base em texto da Redação do Momento Espírita]
A caridade, a fé, o perdão, o amor são agentes renovadores do homem. Verdadeiro Ano Novo se faz somente para aquele que se renova. Assim, não importa se 10 de abril, 11 de agosto ou 1º de janeiro: o Ano Novo, a nova vida, ocorre no exato dia em que escolhemos renascer do amor e para o amor. Eu escolho hoje. E você? E que a renovação ocorra dentro de nós, todos os dias, não apenas no prenúncio do Ano Novo.