Após voltar da Califórnia, onde estudou no Art Center College of Design e trabalhou com feras da fotografia, ALEX HIGOR KOROLKOVAS impressionou os editores de revistas brasileiras pela qualidade de seu trabalho: as mulheres sensuais que fotografava, não eram meros objetos cenográficos. Apesar de produzir imagens para grifes como Harley-Davidson, Suzuki, Reinaldo Lourenço e Carlota Joakina, foi com fotos de mulheres em poses eróticas que se consagrou. Especializado em ensaios sensuais, ele faz trabalhos para as revistas “Sexy”,” Trip”, “Vip”, “Status” e “Vogue”, além de publicações internacionais como “Stern” (Alemanha), “Nerve” (NY) e “DP Photographer” (Portugal). No ano passado, realizou o curso “Fotografia Para Pervertidos”, que chamou a atenção de Jô Soares e o levou para o sofá do “Programa do Jô”. Um de seus mais recentes trabalhos foi a exposição “Valentina”, que deu vida à personagem de HQ criada pelo italiano Guido Crepax. Alex morou em Los Angeles, onde trabalhou com Earl Miller, renomado fotógrafo da revista “Penthouse” e atualmente está passando uma temporada em Miami, onde realizará uma série de trabalhos para o público brasileiro radicado nos Estados Unidos.
Como surgiu seu interesse pela fotografia?
A fotografia surgiu cedo em minha vida. Meu pai adorava fotografar e levava a câmera para todos os lugares que íamos, tenho muitas memórias incríveis da minha infância graças à fotografia. Além disso, fui alfabetizado em uma escola Montessori, onde fui exposto à arte muito cedo. Eu adorava participar das aulas de educação artística e sempre tirava a nota máxima nesta matéria. Amava desenhar, mas em minha adolescência perdi um pouco a paciência de sentar horas com um papel e lápis na mão desenhando. Vi no imediatismo da fotografia outra forma de me expressar. Quando peguei a câmera pela primeira vez para fotografar uma modelo, adorei a sensação e, ao revelar as fotos, fiquei surpreso com a qualidade delas. A partir daí fiz uns cursos básicos para entender a fotografia e o resto é história.
Por que se especializou em fotos de moda e, depois, em fotos eróticas?
Meus pais tinham uma loja de roupas de moda, e eu sempre ia a desfiles, feiras e eventos, além de passar muito tempo na loja, folheando revistas de moda. Quando comecei a fotografar profissionalmente, queria fazer imagens de moda e ter minhas próprias fotos impressas nas revistas e catálogos. Daí para o erótico, só muda o fato da roupa: melhor que uma linda mulher bem vestida, só ela nua. Também passei boa parte de minha puberdade folheando revistas masculinas, um dia me perguntei: “por que comprar as revistas se posso fotografar para elas?”. Sempre fui fascinado pelo corpo humano e as inúmeras possibilidades de retratá-lo.
Você já fotografou grandes modelos para grandes revistas. As pessoas imaginam que este seja um mundo muito glamouroso. Até que ponto isso é verdade?
Na realidade, a fotografia como profissão não é nada glamourosa. Na maior parte do tempo, não estamos fotografando lindas mulheres em algum lugar paradisíaco, mas, sim, esta possibilidade existe. Além de fotógrafo, precisamos ser também um administrador, pois temos um negócio. Passamos a maior parte do tempo editando e tratando imagens, prospectando novos clientes e administrando um negócio, como qualquer outro. A fotografia pode ser um caminho muito solitário. Nesta área, não estamos em uma empresa interagindo com outras pessoas. Às vezes, acordo e penso “e agora o que vou fazer?”. Você tem que se mexer e correr atrás o tempo todo.
Na sua concepção, o que é preciso para ter uma boa foto? Inspiração pura e simples não basta?
Uma boa foto é o resultado de muito trabalho, dedicação, experiência e um pouco de sorte. Quando faço um ensaio, tiro centenas de fotos, e trabalho com inúmeras variáveis como luz, equipamento, makeup, styling, locação ou studio, modelos etc. Meu trabalho como fotógrafo é quase que o de um maestro da imagem, é fazer com que todos estes elementos estejam em equilíbrio na hora de fazer o “click”. Tudo isso, com um pouquinho de sorte, faz uma grande imagem.
Que conselhos daria a quem está interessado em seguir carreira fotográfica?
Demorei muito para me tornar um fotógrafo profissional e viver exclusivamente da fotografia. Foram anos de cursos, workshops, palestras, centenas de horas enfiado num darkroom (comecei bem antes da fotografia digital) e muito dinheiro gasto em equipamento, filmes e papel fotográfico. Tive de abrir mão de muitas coisas pela minha paixão pela fotografia. Minhas inspirações eram os grandes fotógrafos como Helmut Newton, Richard Avedon, Annie Leibowitz. Um dia, me dei conta que estava esperando por alguma validação das minhas imagens para virar profissional, era o final do milênio e minha vida não estava legal. Eu estava fazendo tudo, menos aquilo que era a maior paixão. Foi quando dei um basta e decidi me dedicar exclusivamente à fotografia. Para mim, não é apenas uma profissão, é um estilo de vida, faço tudo em função dela, desde os livros que escolho ler, as viagens, visitas a museus e exposições. Acordo de manhã fotógrafo e vou dormir fotógrafo e, se passo mais de alguns dias sem fotografar, começo a me sentir como se nada tivesse feito. Levo a câmera para todo lado e, quando não, levo o Iphone. Estou sempre observando a luz ao meu redor, possíveis locações, formas e cores, é uma obsessão. Portanto, se quer ser fotógrafo, faça disso sua obsessão, com paixão e muita dedicação. Não existem muitas regras ou caminho certo, esta é a beleza da vida, cada um faz o seu caminho.
Você começou a carreira no modo analógico, inclusive revelando e ampliando os próprios trabalhos. No seu entendimento, quais são as principais diferenças em relação à fotografia digital?
A fotografia digital como um avanço tecnológico chegou para ficar. Hoje em dia, eu nem cogitaria voltar a fotografar em filme, estou totalmente adaptado ao mundo digital. Antes, eu fazia um ensaio, esperava alguns dias para revelar e só depois via o resultado final. Era algo meio místico e muitas vezes, quando estava começando, ficava torcendo para que desse tudo certo. Hoje não há mais este risco, a gente vê na hora o que está fazendo, a curva de crescimento é bem mais rápida, nos permitindo corrigir nossos erros pelo caminho. De resto é a mesma coisa, ainda é preciso estudar, e ver muita imagem, fotografia, pintura, street art, cinema. Toda forma de expressão visual é um objeto de estudo para um fotógrafo, é preciso ter referências e repertório cultural para se fazer boas imagens e não apenas uma câmera digital.
Você tinha uma carreira consolidada no Brasil, mas decidiu encarar novos desafios nos Estados Unidos. O que busca, exatamente?
Eu sempre gostei de desafios e não consigo ficar muito tempo em um lugar. Já morei fora antes e sempre gostei muito de viajar, é o melhor investimento que podemos fazer. Sair do Brasil agora é apenas uma busca pelo desconhecido, quero viajar o mundo, ver outras culturas e fotografar lugares onde nunca estive antes.