Santos

Tragédia nacional em Santos

13/08/2014Da Redação
Tragédia nacional em Santos | Jornal da Orla
Marco Santana

Era pouco mais de 10h quando começaram a pipocar mensagens nas redes sociais: “caiu um helicóptero no Canal 3”. “Caiu um helicóptero na rua Alexandre Herculano”. Em seguida, vários telefonemas para a Redação, relatando o acidente. Imediatamente, o repórter-fotográfico Leandro Amaral se dirigiu ao local.


A primeira preocupação foi com os moradores daquele bairro e os ocupantes da aeronave. Pensei logo no amigo Sérgio Furtado, fotógrafo especialista em captar imagens aéreas que costuma decolar do heliponto do Mendes Convention Center. Pensei também em empresários que costumam se deslocar pelos ares. 

Subitamente, lembrei da conversa que havia tido na terça-feira com o jornalista Clóvis Vasconcellos, assessor de imprensa do deputado federal Márcio França, coordenador da campanha de Eduardo Campos em São Paulo. Uma semana antes, havíamos acertado a visita de Campos à Redação do Jornal da Orla, onde ele concederia uma entrevista exclusiva. 
 
No telefonema de terça-feira, Vasconcellos comunicava que Eduardo Campos participaria do Jornal Nacional à noite e, por isso, seria muito difícil chegar ao Jornal da Orla no horário marcado (9h30). A agenda do candidato na Baixada Santista começaria com a participação no seminário “Santos Export”, em Guarujá.

Ficou acertado então que Campos viria ao Jornal da Orla à tarde, após atravessar o canal do porto por catraia.
 

Com a notícia do acidente, a pulga pulou atrás da orelha. Um acidente aéreo no mesmo momento previsto para a chegada de um candidato a presidente. “Seria uma tragédia inacreditável”, pensei.
 
Liguei para o assessor Clóvis Vasconcellos. Ele atendeu e nem esperou eu perguntar nada. “Não tenho nenhuma informação ainda. Não estamos conseguindo nenhum contato”, já  antecipou, demonstrando extrema preocupação.

Entrei em contato com a assessora de imprensa do Santos Export, Ivani Cardoso. “O evento já começou e ele ainda não chegou”, disse. 
 
As informações foram chegando em conta-gotas. Não era um helicóptero, mas um avião. O local exato era a rua Alexandre Herculano. O repórter -fotográfico Leandro Amaral conseguiu depoimentos valiosos com moradores. “O avião já vinha em chamas”, disse uma testemunha ocular da queda. “O avião desviou do prédio da Unisanta e veio caindo, ainda conseguiu se inclinar e passar no vão entre dois prédios”.

O Departamento de Aviação Civil comunicou que a aeronave acidentada tinha decolado do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e deveria aterrissar na Base Aérea de Santos, em Guarujá. 

Tentamos contato com o deputado federal Márcio França, que recepcionaria Campos na Base Aérea, mas seu telefone estava fora de serviço. Quando a ligação foi possível, França disse, visivelmente transtornado: “A gente estava esperando ele aqui, mas o avião sumiu do radar. 
 
A confirmação veio de uma fonte da Base Aérea de Santos: o Cessna PR-AFA, avião usado por Campos, não conseguiu pousar, arremeteu e perdeu contato com a base. Foi aparecer em forma de bola de fogo no bairro do Boqueirão.

Triste coincidência
O presidenciável Eduardo Campos (PSB) morreu em Santos no mesmo dia em que seu avô, Miguel Arraes (13 de agosto de 2005), um dos grandes políticos brasileiros, num acidente aéreo no qual também perderam a vida outras seis pessoas (quatro assessores e dois tripulantes). A tragédia comoveu o país e terá reflexos na eleição presidencial. Marina Silva, que era candidata a vice, deve ocupar o lugar de Campos na corrida pelo Palácio do Planalto, mas a pergunta que se faz hoje no Brasil é: “E agora?”

Estrago poderia ter sido maior

Não era um botijão de gás, um transformador no poste, um meteoro ou terremoto. O barulho que estremeceu casas e apartamentos no bairro do Boqueirão foi proporcional ao tamanho da tragédia. 
 
Mas ela poderia ter sido muito maior. Testemunhas oculares relataram que a aeronoave parece ter sido manobrada para evitar um estrago ainda pior “O piloto conseguiu encaixar o avião no meio de dois prédios”, disse uma delas. 

Por uma feliz coincidência, as aulas de natação na academia ao lado do local da queda foram suspensas, por conta de uma interrupção no fornecimento de água anunciada na véspera.

Mas o trabalho dos bombeiros, após o controle das chamas, dava uma pista do resultado da tragédia: usavam cães farejadores para localizar pedaços de corpos das vítimas, nas residências próximas ao local onde o avião caiu.