No domingo (23), a cidade de Cubatão promoverá um evento em homenagem às vítimas e aos sobreviventes do incêndio da favela Vila Socó. Haverá mobilização cultural com uma série de atividades gratuitas na Praça da Cidadania da Vila São José. Além de apreciar a criação de painéis por artistas do grafite, o público poderá se divertir com a apresentação de grupos de pagode, forró, DJs e MCs. As crianças também terão seu espaço reservado nas tendas da recreação comunitária. Já os amantes dos esportes radicais disputarão um campeonato de skate. As quadras e campos da praça também serão tomados por equipes de vôlei e futebol. O evento faz parte da programação em homenagem às vítimas e aos sobreviventes do incêndio da favela Vila Socó, tragédia que completa 30 anos no próximo dia 24 (segunda-feira).
A maratona de atividades começa às 9h e só termina às 22h. Pela manhã ocorrem os torneios de futebol e vôlei. Já a partir das 14h, os skatistas prometem um show de manobras radicais ao som das bandas e das performances do DJ Jogado, DJ Koala, MC Fosco, MC Alex, R.O.G., Nova Paz, Sensimilla Jhon e Mayara Magalhães. Também estão programados grupos de pagode e forró, além de hip hop. Também está prevista para o domingo a entrega de uma escultura criada pelo artista plástico cubatense Giovanni Nazareth, alusiva à tragédia. A obra será instalada na rotatória da Vila São José.
Na segunda-feira (24), às 19h, no mesmo local, haverá ato ecumênico em homenagem às vítimas da tragédia de fevereiro de 1984, lembrando também dos que sobreviveram ao incêndio. Em seguida, será projetado o filme-documentário “Uma Tragédia Anunciada”, do jovem diretor cubatense Diego Moura, produzido por 60Filmes, Anima Produções e PontoHum. O curta-metragem será lançado oficialmente terça-feira (25), às 19h, no Cine Roxy Novo Anilinas, com entrada gratuita, seguido de debate.
Incêndio – No dia 23 de fevereiro de 1984, os moradores da favela Vila Socó – situada entre as vias Anchieta (KMs 56 a 59) e Bandeirantes, em Cubatão – começavam a se queixar do forte cheiro de gasolina que emanava do mangue. Porém, os responsáveis pelos dutos que por ali passavam entenderam que seria apenas mais um cheiro que saía dessas águas, conforme reportagens da época.
A esse erro, somaram-se outros: às 23h30, a Refinaria de Capuava iniciava o bombeamento de gasolina para o terminal santista da Alemoa, mas as válvulas de dois tanques, em Santos, estavam fechadas e o combustível começou a se acumular nos dutos. E o mais grave: foram ignoradas as advertências de dirigentes políticos e moradores, de que o antigo oleoduto (construído em 1951) estava podre, cheio de buracos, vazando, como seria confirmado depois. Não existia ainda o atual sistema eletrônico de detecção de vazamentos, nem as comportas ao longo dos dutos, que podem ser fechadas em caso de emergência.
O excesso de pressão do combustível nos dutos corroídos fez o resto: na madrugada do dia 24, o duto A-S estourou e o fogo resultante do vazamento de 700 mil litros de gasolina consumiu a favela, então com quase 6 mil moradores. O número de corpos encontrados – 93, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública – foi contestado por muitos sobreviventes, que denunciavam número maior de vítimas, por conta dos que desapareceram calcinados, em cenas dantescas que fizeram bombeiros chorarem e o governador desmaiar na manhã do dia 25, ao visitar os destroços. Cerca de 1.200 barracos foram destruídos.
Vila Socó deu lugar a um núcleo residencial urbanizado nas proximidades, com 253 casas de alvenaria, ruas asfaltadas, escola e posto de saúde. A Petrobrás indenizou as vítimas, construiu cerca de 400 novas casas na Vila São José, novo nome do local. Outros sobreviventes foram transferidos para a Vila Natal, onde construíram mais 290 casas. No lugar dos restos da favela, um aterro e grama cobrem os atuais dutos, com ampla sinalização de segurança.
Praça da Cidadania – Em 2011, na entrada da antiga Vila Socó, a prefeita Marcia Rosa inaugurou uma das mais importantes obras de seu governo: a Praça da Cidadania da Vila São José, projeto pioneiro da Prefeitura que reúne em um mesmo local diversas opções de lazer e esportes.
Com projeto paisagístico marcante e uma concepção moderna e diferenciada, o local possui teatro de arena, half (meia parede) e pista de skate, quadra de areia para vôlei; campo de futebol society de 40 m x 20 m (medidas oficiais), com iluminação automática (das 18 às 22 horas), dotado de piso sintético e arquibancada; playground com oito brinquedos e caixa de areia; e Academia do Idoso, com 12 equipamentos e seis mesas para jogos.
Nesses três anos, as milhares de pessoas que já passaram pelo local puderam aproveitar diversas atrações realizadas semanalmente: bailes de carnaval, torneios de futebol e skate, peças de teatro, Recreação Comunitária, Circuito Cultural Paulista, Coleta Cultural Hip Hop, Dia do Desafio etc.
Segundo a prefeita Marcia Rosa, a Praça da Cidadania foi uma das principais realizações de seu primeiro mandato. “Com essa obra, pudemos recuperar a dignidade e a história da Vila São José, que sofreu uma das maiores tragédias do País. Precisávamos definir um local para começar a instalar o projeto e a Vila São José não poderia ser melhor escolha. Com o sucesso da iniciativa, levaremos a ideia a outros locais da Cidade, como o Jardim Nova República”.
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