A estação que inspira escritores, músicos, poetas, filósofos teve início na quarta-feira (23) e promete subir ainda mais as temperaturas, depois de um inverno excepcionalmente quente no Brasil. O verão é a estação da badalação, mas sem o charme da primavera, que traz com ela uma explosão de cores na paisagem e perfumes no ar.
Neste ano, a estação de transição para o verão está sob a influência do El Niño, o que significa temperaturas acima do normal. O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico.
Cercado por morros de um lado, jardins da praia de outro, e com parques e praças em seu perímetro urbano, Santos é uma cidade privilegiada pela natureza, mas ainda muita abafada, o que castiga a população assim que os termômetros sobem.
“Temos um circuito verde formado pelos morros e com ramificações nos canais, avenidas, praças, escolas, arborização pública. Há mais de 40 mil árvores de mais de 100 espécies plantadas”, comenta o engenheiro agrônomo João Cirilo Fernandes Wendler, coordenador de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de Santos.
Segundo ele, a área verde na cidade atende o número de moradores, a preocupação é com a distribuição das espécies pelos bairros. “Nos últimos dois anos investimos nos bairros da Alemoa, Caruara (Área Continental), Marapé, Santa Maria e Campo Grande. As ciclovias dos canais 1 e 6 são acompanhadas de faixa verde para auxiliar na permeabilidade do solo. Estamos também plantando novas espécies de árvores, o que aumenta a diversidade da flora e melhora expectativa da fauna”, conta.
O objetivo das ações é amenizar o calor e diminuir a sensação que ele produz, mas há uma outra preocupação. “A orientação é plantar ipês rosa e amarelo para a cidade ganhar mais colorido, contrastando com o cinza do concreto. Isso mexe com o psicológico dos moradores”, acredita João Cirilo. A cidade possui cerca de 200 praças, a maior delas é a da Paz Universal, na Zona Noroeste, com 20.800m².
Uma festa para as aves
A primavera é também uma festa para as muitas espécies de aves que voam pelos céus da cidade. Além das populares garças que são vistas pelos canais, mercados de peixe, praia e dos bem-te-vis que se anunciam pelos quatro cantos, há várias outras zanzando pelos ares.
O tiê-sangue, por exemplo, gosta de voar pela Praça do Sesc, Orquidário, Jardim Botânico Chico Mendes e pelo Morro da Nova Cintra. Quero-queros adoram a área do emissário submarino. Já a Avenida Ana Costa atrai periquitos e até os joões-de-barro fazem casinhas nas árvores dos jardins da praia, com a portinha voltada para a avenida, a fim de não pegar o vento que vem do mar. No trecho entre a Avenida Conselheiro Nébias e o Canal 3 há três delas.
Plantas em casa
Àgua em quantidade suficiente, luminosidade e combate às pragas. Estes são os três cuidados que se deve ter para cultivar plantas em casa, como orienta João Cirilo. “É importante saber se é planta de muita ou pouca luminosidade para saber onde posicionar o vaso. Há à venda no mercado controladores de água, mas pode se usar gel dentro da terra, que funciona como reserva. Na falta de outro recurso, sinta com o dedo se a terra esta seca”. Segundo ele, orquídeas e minirrosas são boas espécies para se plantar nesta época.
No caso de infestação por pragas, a dica é usar inseticidas naturais, como calda bordalesa ou de fumo. Já doenças fúngicas, como antracnose ou ferrugem, podem ser combatidas com sulfato de cobre.
O “pulmão verde” da cidade
Considerado o pulmão verde da cidade, o Jardim Botânico Chico Mendes, na Zona Noroeste, abriga mais de 300 espécies vegetais distribuídas entre coleções temáticas, bosques, canteiros de plantas ornamentais e áreas de produção de mudas. Há espécies da Amazônia, da Mata Atlântica, frutíferas nativas, palmeiras, madeiras de lei e outras consideradas em extinção. O Jardim Botânico tem também a função de atuar como laboratório para o desenvolvimento de tecnologias para a germinação de sementes. No local são cultivadas as plantas ornamentais usadas no paisagismo da cidade.
Dentro das comemorações pelo início da primavera e o aniversário de 21 anos do parque será realizada neste sábado (26) e domingo (27), a partir das 9h, a tradicional exposição e feira de orquídeas. O endereço é Rua João Fracaroli s/nº, Jardim Bom Retiro.
As áreas mais verdes:
Jardim da orla – 200 mil m2
Jardim Botânico – 90 mil m2
Orquidário Municipal – 45 mil m2
Jardins à beira-mar
Santos é envolta por uma cadeia de morros, tem parques esplêndidos como o Orquidário (no José Menino) e o Jardim Botânico (na Zona Noroeste), mas são seus jardins à beira-mar o cartão de visita mais famoso. A área ficou conhecida mundialmente em 2001, ao receber o título de maior jardim frontal de praia do mundo pelo The Guinness Book of Records (O Livro do Recordes).
Na primavera, em especial, a orla oferece um espetáculo deslumbrante que mexe com os cinco sentidos das pessoas que passam por ali. Os jardins têm 5.335 metros de comprimento, recobertos por gramados, 920 canteiros, mais de 60 tipos de plantas ornamentais e 1.700 árvores.
O planejamento do jardim da praia privilegia o contraste de cores, formatos e alturas para causar impacto visual. A falta de simetria dá a sensação de movimento. A localização das plantas também é fundamental. Há as plantas mais resistentes e outras mais sensíveis ao ambiente que se mostra agressivo devido à salinidade, vento, sol e areia da praia. Por isso, as mais resistentes são colocadas próximo à faixa de areia e formam uma barreira que protege os canteiros internos, onde estão as espécies mais sensíveis.
O calor do último inverno, porém, prejudicou a floração nesta primavera, adianta Cirilo. “Tivemos que usar extratos para amenizar a seca ao longo do ano, com adubação orgânica e compostagem para reter a umidade no solo”, explicou o engenheiro.