Neste sábado (12), às 22h, a banda Camisa de Vênus retorna a Santos para show na Capital Disco. Irreverente, ácido e disposto, o vocalista, Marcelo Nova, conversou com o Jornal da Orla.
Confira a entrevista:
Jornal da Orla – Primeiramente, obrigada por nos atender pela manhã. Vocês, músicos, costumam trocar a noite pelo dia…
Marcelo Nova – Eu não me encaixo em nenhum padrão. Nem nesse. Desde criança sou assim. Nasci na Bahia e fui um menino deslocado. Veja, não gostava de praia, clube e carnaval. Gostava de ficar no meu quarto ouvindo discos. Naquela época não havia Youtube, DVD, nada disso. O primeiro disco que ouvi foi um do Little Richard, aos 10 anos. Aquilo foi um tsunami na minha vida. Sou um cara de sorte por ter transformado o meu hobby em profissão. Não me vejo exercendo outra atividade que não seja a música. A maioria das músicas do Camisa de Vênus foi escrita por mim.
JO – Vocês tiveram alguma dificuldade em escolher o set list para o show em Santos? Afinal, são 35 anos de carreira.
Marcelo Nova – Não tivemos, apesar de estarmos há 28 anos sem fazer uma grande turnê. Separamos os grandes hits, como “Silvia”, “Eu não matei Joana D’Arc” e, eventualmente, um ou outro fracasso (risos). Quem nos ouvia na década de 80 hoje está com 40, 50 anos. Mas a nossa obra passou por gerações porque nunca fiz canções sobre temas efêmeros. Os temas são os mesmos do tempo do meu tataravô: angústia, dor, sexo.
JO – Temas atemporais são uns dos segredos do sucesso, então? É uma boa dica para as novas bandas. Você destaca alguma?
Marcelo Nova – O cenário atual é movido apenas pelo interesse comercial. Então se vê muito pagode, axé, sertanejo, que não sei se é universitário ou analfabeto (risos). Eu trabalho muito, passo muito tempo na estrada. Por isso, não tenho tempo nem saco para ouvir, por exemplo, a “nova sensação do Pará” ou o “grande sucesso do Rio Grande do Sul”.
JO – Até porque não teve outra banda como a Camisa. Vocês são uma das referências do rock brasileiro.
Marcelo Nova – Eu não sou a pessoa mais indicada para jogar confete em mim mesmo. Eu até parei com o “bis” nos shows porque, depois de um tempo, percebi que é uma convenção ridícula usada apenas para massagear o ego do artista, que sai e volta ao palco sob aplausos. Eu termino o show e vou embora.
JO – Como será o reencontro com os fãs santistas?
Marcelo Nova – Temos uma história com a cidade. Em 1986 nós gravamos o álbum “Viva” ao vivo, no Caiçara Clube. Foi o primeiro grande CD da Camisa. Vendemos 160 mil cópias. Tivemos várias dificuldades em gravar o CD durante o show, mais foi muito bom. Na época, todas as bandas escolhiam São Paulo ou Rio de Janeiro para gravar. A gente preferiu descer a serra porque havíamos feito um show seis meses antes e notamos que o público era enérgico. Então pensei : “Vamos gravar com essa plateia selvagem!” (risos).
JO – Certamente será uma plateia heterogênea.
Marcelo Nova – O nosso público selvagem da década de 80 já está de muleta! Por isso, teremos senhores de 60 anos e meninos de 15. É surpreendente como uma banda que estava desativada ainda consegue lotar uma casa noturna. Um adolescente que curte a Camisa entende o que o pai e o avô mostraram para ele. Isso é muito gratificante.
Serviço:
Show Camisa de Vênus – Sábado (12), às 22h, na Capital Disco (Avenida General Francisco Glicério, 206, Campo Grande). Ingressos: R$ 80. Informações: 4003-1212.
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