TV em Transe

Não somos Charlie

14/01/2015 Christian Moreno
Não somos Charlie | Jornal da Orla
O covarde ataque terrorista à sede do jornal satírico francês Charlie Hebdo, que causou a morte de 12 pessoas, incluindo jornalistas e cartunistas, tomou conta do noticiário. Não é pra menos: a ação dos irmãos Kouachi contra a publicação, além de representar algo sem precedentes na mídia, trouxe à tona questões envolvendo liberdade de imprensa e expressão, humor, terrorismo, religião, opressão, preconceito, intolerância e fanatismo.
 
Nos últimos dias passei muito tempo lendo e assistindo opiniões sobre o ocorrido na França. 
 
Em relação à liberdade de imprensa, por diversas vezes já ressaltei neste espaço que, no Brasil, há quem confunda “liberdade” com “libertinagem”. E o caso do Charlie Hebdo parece ter tornado essa confusão maior ainda.
 
Deparei-me com gente aparecendo para dar palpite sem ter conhecimento para tal. Ou então sendo oportunista, aproveitando-se de um fato trágico para “puxar a sardinha” para algum lado, não se furtando a distorcer e a fazer comparações esdrúxulas.
 
Tratando especificamente do humor, a incoerência se fez muito presente em comentários na tevê e em redes sociais. Em primeiro lugar, não há NADA no país semelhante à publicação francesa que foi atacada. Aliás, por seu tom agressivo, a Charlie Hebdo não sobreviveria aqui. 
 
Por uma brincadeira tola com Wanessa Camargo, pra lembrar um exemplo, Rafinha Bastos perdeu seu emprego na Band quando atuava no “CQC”. O “Porta dos Fundos” vive sendo perseguido e não são poucos os pedidos na Justiça, vindos de grupos conservadores, para que vídeos sejam banidos da internet – sem falar de ameaças que alguns integrantes já receberam. 
 
É curioso observar gente que levanta a bandeira do jornal francês e brada pela liberdade, mas, ao mesmo tempo, possui um histórico intolerante de não aceitar críticas e piadas, reagindo violentamente a elas: pedem a cabeça de seus autores e recorrem à censura.
 
Depois de tudo o que li e vi, dá pra concluir uma coisa: não somos Charlie. E estamos longe disso.