TV em Transe

O legado da Copa do Mundo

17/07/2014Christian Moreno
O legado da Copa do Mundo | Jornal da Orla
A Copa acabou. Como era de se esperar, vivemos um “massacre midiático” que dificilmente se repetirá no Brasil com qualquer outro evento. Imagine a quantidade de horas gastas na telinha com reportagens, mesas-redondas, jogos… De tudo que vimos, pode-se tirar lições? Qual o legado do Mundial? 

Há quem proteste e afirme que, agora, sobrará somente a conta da Copa mais cara da história para pagarmos. Dói, é claro. Como doem, por exemplo, os R$ 400 bilhões que vão para o ralo todos os anos por causa da sonegação de impostos e os R$ 50 bilhões envolvendo casos de corrupção. Nisso, já sabemos que ninguém tira a nossa “taça”. Façamos, portanto, uma análise do torneio sob outros aspectos.

Nos últimos dias, toda a mídia ressaltou o projeto da federação alemã que culminou com o merecido título: um modelo de planejamento, estrutura e organização na formação de jogadores que também prioriza a educação. E a entidade ainda organiza um dos campeonatos mais rentáveis do planeta. Será possível algo semelhante por aqui um dia?

Na Bahia, vimos a delegação campeã interagir com índios pataxós e tratá-los com respeito. Pra completar, os germânicos doaram aos nativos dez mil euros para a compra de uma ambulância e os homenagearam com uma dança durante a comemoração do título no gramado do Maracanã, tendo a taça ao centro. Tratamento bem diferente daquele que a população indígena, normalmente, recebeu e recebe neste país.  
Outra imagem marcante foi a mostra de civilidade dos torcedores do Japão, recolhendo o lixo nas arenas depois das partidas da seleção nipônica. Tal atitude, para eles, é comum por lá.

Falando em torcida, e rivalidades à parte, pudemos conferir em nossos estádios a incrível relação entre o selecionado argentino e seu povo. O motivo é simples: os hermanos costumam honrar a camisa, independente do resultado. Uma identificação há tempos perdida no Brasil, onde interesses mercadológicos parecem estar acima de qualquer outra coisa (até o treinador vira garoto-propaganda). Na tevê, uma emissora detém privilégios – em que outra seleção um treino é interrompido para um apresentador descer de helicóptero e fazer uma matéria com os jogadores?  

Exemplos como estes, envolvendo organização, educação e cultura, mostram que a Copa do Mundo também pode nos servir como aprendizado. Não apenas para aplicarmos no futebol, mas, principalmente, para que possamos abrir os olhos e crescer como sociedade.  

Apocalipse – Analistas apocalípticos que antes do Mundial previram uma “humilhação internacional”, como Arnaldo Jabor, quebraram a cara. Imaginavam que o Brasil daria vexame fora das quatro linhas. Só que, no final das contas, o papelão aconteceu dentro de campo… Né, CBF? Né, Felipão? Claro que não correu tudo à perfeição, mas no geral a imagem deixada junto a turistas e jornalistas estrangeiros foi bastante positiva, em parte devido à hospitalidade do brasileiro.

Excelente – Na cobertura televisiva da Copa, deixo dois destaques. A ESPN Brasil, mais uma vez, fez um trabalho primoroso. Um jornalismo equilibrado e crítico, com profissionais muitíssimo bem informados e preparados. Na transmissão dos jogos, a melhor sacada foi da Fox, que recrutou Paulo Bonfá (do saudoso “Rock Gol” da MTV) para narrar partidas pelo Fox 2, ao lado de convidados especiais. Uma alternativa fora dos padrões, divertida e “totalmente excelente”.