O alerta é do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, hospital referência nacional em doenças infectocontagiosas: a utilização errada de antibióticos é considerada uma das principais causas da onda de “superbactérias” pelo mundo. Essas temíveis inimigas da saúde são versões mais poderosas de bactérias já conhecidas, que ganham resistência aos antibióticos que tiveram o uso banalizado ou foram utilizados frequentemente de forma equivocada (quando o paciente suspende o tratamento antes da hora, por exemplo).
Segundo a médica infectologista Rosana Richtmann, o uso errado desses medicamentos fortalece as bactérias e torna muito mais complexo e demorado o seu controle, podendo levar até à morte. Além disso, a medicação quando ministrada sem respeitar a prescrição pode causar gastrite, danos ao fígado e aos rins, infecção sanguínea e reações alérgicas (choque anafilático), entre outros problemas. “Muitas pessoas creem que o antibiótico é a solução para tudo, mas, na verdade, é uma medicação muito forte e que pode causar sérios danos à saúde, se não for usado de forma adequada”, adverte.
De acordo com Rosana, a exigência da prescrição médica para a comercialização de antibióticos no Brasil foi um avanço, mas é preciso que haja uma mudança de mentalidade. “Um relatório da Organização Mundial de Saúde apontou que estamos vivendo a era pós-antibiótico, em que as pessoas estão morrendo de infecções simples, que eram tratáveis há décadas. Novas drogas têm sido desenvolvidas, mas elas não serão capazes de resolver o problema por si só”, diz a especialista.
As oito crenças erradas sobre esses medicamentos
Estou doente, logo preciso de um antibiótico – Os antibióticos são necessários apenas para o tratamento de infecções causadas por bactérias como inflamação na garganta, infecção de ouvido ou relacionadas à urina, por exemplo. A utilização deve ser, obrigatoriamente, prescrita por um médico.
Gripes e resfriados só saram com antibiótico – Tanto gripes quanto resfriados são causados por vírus, e não por bactérias. Os antibióticos não têm efeito sobre essas doenças. A única exceção é caso o paciente desenvolva uma complicação que resulte em infecção bacteriana como a pneumonia.
Se o médico não prescrever um antibiótico, é melhor pedir- Jamais pressione o seu médico para prescrever um antibiótico. Deixe-o a vontade para tomar sua decisão de forma profissional e ética.
Se o médico prescreve antibiótico, posso ficar tranquilo – Se o seu médico prescreve um antibiótico, você está com uma infecção. Ainda assim, tente sempre ficar bem informado sobre o seu quadro e não se acanhe em perguntar ao médico por que ele está prescrevendo um antibiótico e por que ele lhe é necessário.
Estou bem melhor, por isso vou interromper o tratamento no meio – A medicação deve ser utilizada rigorosamente como o médico prescreveu, tanto em número de doses, quanto na concentração e no número de dias. Jamais se deve interromper um tratamento com antibióticos antes da hora. Mesmo que os sintomas tenham melhorado, as bactérias ainda não foram eliminadas e a doença pode voltar com ainda mais força.
Vou tomar o antibiótico depois do horário previsto porque o efeito é o mesmo – É importante saber que o intervalo entre as doses é sempre calculado de forma a manter a concentração adequada na corrente sanguínea do paciente. Uma dose ingerida depois do horário prescrito pode gerar a volta dos sintomas. Mas também não adianta tomar antes do horário, pois a concentração irá ficar alta demais e você pode ter intoxicação.
Sobrou antibiótico do meu tratamento, então vou guardar – Se você cumprir a prescrição toda, dificilmente irá sobrar medicação. Se ainda assim houver sobra, você não deve guardar. Somente uma nova avaliação poderá indicar se existe a real necessidade de antibiótico, qual deles e em qual quantidade.
Se sobrou medicação vou doar a alguém com o mesmo problema – Antibióticos podem causar doenças e afetar as bactérias “boas” que existem naturalmente no nosso corpo. Você deve abrir as caixinhas e eliminar o conteúdo, caso haja sobra. A automedicação é um erro, ainda mais quando se fala em antibiótico. A receita médica é sempre pessoal e intransferível.
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