Infelizmente, ressurgiram casos de preconceitos raciais no Brasil e no exterior recentemente. Achei por bem publicar novamente o texto abaixo, já apresentado aqui, no Jornal da Orla, em 2007.
Era uma tarde de domingo e o parque estava repleto de pessoas que aproveitavam o dia ensolarado para passear e levar os filhos para brincar. O vendedor de balões havia chegado cedo, aproveitando a clientela infantil para oferecer seu produto e defender o pão de cada dia. Como bom comerciante, chamava atenção da garotada soltando balões para que se elevassem no ar, anunciando que o produto estava à venda.
Não muito longe do carrinho, um garoto negro observava com atenção. Acompanhou um balão vermelho soltar-se das mãos do vendedor e elevar-se lentamente pelos ares. Alguns minutos depois, um azul, logo mais um amarelo, e finalmente um balão de cor branca. Intrigado, o menino notou que havia um balão de cor preta que o vendedor não soltava. Aproximou-se meio sem jeito e perguntou:
-Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?
O vendedor sorriu como quem compreendia a preocupação do garoto, arrebentou a linha que prendia o balão preto e, enquanto ele se elevava no ar, disse-lhe:
-Não é a cor do balão, filho, mas o que está dentro dele que o faz subir.
O menino deu um sorriso de satisfação, agradeceu ao vendedor e saiu saltitando, para confundir-se com a garotada que coloria o parque naquela tarde ensolarada.
[Anthony de Mello]
O preconceito é uma praga que se alastra nas sociedades e vai deixando um rastro de prejuízos, tanto físicos como morais. O preconceito de raça tem feito suas vítimas, ao longo da história da humanidade. Mas não é somente o preconceito racial que tem sido causa de infelicidade.
Esse malfeitor também aparece disfarçado sob outras formas para ferir e infelicitar. Por vezes, surge como defensor da religião, espalhando a discórdia e a maldade, o sectarismo e os ódios sem precedentes. Outras vezes, apresenta-se em nome da preservação da raça, gerando abismos intransponíveis entre os filhos de Deus. Também costuma travestir-se de muro entre as classes sociais, fortalecendo o egoísmo, o orgulho, a inveja e o despeito.
Podemos percebê-lo, ainda, agindo como barreira entre a inteligência e a ignorância disfarçadas de sabedoria, impedindo que o mais esclarecido estenda a mão ao menos instruído. O preconceito também costuma aparecer travestido de patriotismo, criando a falsa expectativa de supremacia nas mentes contaminadas pela soberba, haja vista o caso recente do corporativismo explícito pelos membros do Senado em relação ao caso do Renan Calheiros.
Ele também pode ser percebido com aparência de idealismo político, explorando mentes juvenis inexperientes e sonhadoras, que são usadas como massa de manobra. Como se pode perceber, o preconceito é um inimigo público que deveria ser combatido como se combate uma epidemia. A fraternidade é a chave que rompe as amarras que nos retêm nas baixadas, quais balões cativos, e nos permite ganhar as alturas, elevando-nos acima das misérias humanas. Para isso, lembremo-nos do vendedor de balões e ouçamos a sábia advertência da nossa própria consciência:
“Não é a cor, nem a raça, nem a posição social, nem a religião, nem as aparências externas, filho, é o que está dentro de você que o faz subir.”
PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE.