Em Off

Trabalho e planejamento, a receita para o sucesso do empreendedor

15/02/2014Jornal da Orla
Trabalho e planejamento, a receita para o sucesso do empreendedor | Jornal da Orla
Ele destaca que, para dar certo, o pequeno empreendedor precisa saber planejar e ter muita capacidade de trabalho. Bruno Caetano afirma que a instituição, que dirige, oferece assessoria, cursos e palestras de graça para que o pequeno e microempresário possam ter sucesso em sua empreitada. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
 
A maioria dos brasileiros, que trabalha em uma empresa, como funcionário, tem um sonho: dirigir seu próprio negócio. É muito difícil realizar esse sonho, Bruno? 
Bruno Caetano –  Você tem toda razão, hoje o principal sonho do brasileiro, depois da casa própria, é ter um negócio próprio. Todo mundo quer se virar e ser seu próprio patrão. Agora, para que isso aconteça com qualidade é preciso que esse empreendedor, ou esse potencial empreendedor se prepare, às vezes, não basta só o sonho. É preciso saber planejar e ter muita capacidade de trabalho para tirar esse sonho do papel. Uma coisa que a gente vê no SEBRAE, todos os dias, são pessoas que nos procuram  porque acham que, ao migrarem da vida de empregado para a de padrão, irão trabalhar menos. Enxergam o empreendedorismo, o fato de virar patrão, como um atalho para trabalhar menos. Isso não é verdade, porque o patrão vai trabalhar mais, muitas vezes, vai passar anos sem férias, sem descansar no final de semana, porque assim que a vida é. 
 
Como é o início de um negócio?
Bruno Caetano – É complicado, depende de muita dedicação de quem empreende. Agora, quem faz nisso aquilo que gosta, que vai empreender naquilo que gosta, também tem muita satisfação quando as coisas começam a dar certo, e tem cada vez mais brasileiros dando certo nesse mundo do empreendedorismo. 
 
O segredo, então, é fazer o que se gosta e muito trabalho. 
Bruno Caetano – É, fazer o que gosta é essencial, e também saber planejar a sua atividade. Aquilo que o SEBRAE chama de plano de negócio. Não basta, por exemplo, você ser um excelente cozinheiro para ter um restaurante de sucesso. Você sabe fazer uma boa comida, mas para você ter um negócio é preciso ter capacidade de fazer gestão. Não, necessariamente, você sabe fazer fluxo de caixa, ninguém nasce sabendo fazer fluxo de caixa, gestão financeira, marketing, gestão de pessoas, relação com o poder público – que no Brasil ainda é muito complicado. A legislação no Brasil é muito travada,  para quem quer empreender, isso tem que melhorar ainda muito no nosso país – então, tudo isso precisa ser levado em conta na hora de abrir uma empresa. Hoje, de cada 100 empresas que são abertas no estado de São Paulo, 22 não completam dois anos de vida, acabam quebrando antes dos dois primeiros anos. 
 
Mas alguma coisa está errada nessa engrenagem, porque não é possível 22% darem errado. ..
Bruno Caetano – Tem duas coisas que precisam melhorar muito ainda no Brasil. Primeira coisa: o empreendedor precisa se preparar mais. Saber fazer gestão ainda é uma deficiência do empreendedor típico brasileiro. Muitos ainda acabam cometendo erros que são elementares, como, por exemplo, misturar as despesas da empresa com as despesas pessoais, às vezes utilizando até a própria, a mesma conta, o que no final do mês traz uma confusão monumental, não se sabe mais o que é o dinheiro da empresa, o que é o dinheiro da sua casa, da sua família.  Isso é um erro que acaba por contribuir muito para as empresas fecharem. Agora, não é só culpa do empreendedor. Há também uma responsabilidade grande do poder público, isso em geral, no que diz respeito ao fechamento de empresas no Brasil. Nossa carga tributária é altíssima e mais do que a carga tributária, a gente tem uma carga burocrática fenomenal. O SEBRAE representa o Brasil em uma pesquisa internacional chamada “Monitoramento Global do Empreendedorismo”. Nela são levados vários aspectos em consideração, a participação das mulheres, educação do empreendedor, enfim, vários quesitos. O Brasil está bem em vários deles, inclusive acima da média mundial. Agora, são 49 países levados em conta. Sabe qual é a posição do país nesse ranking no que diz respeito a relação empreendedor e poder público? 49º. Nós estamos em último lugar no ranking na relação empreendedor e poder público. Porque é muito difícil ainda abrir empresa no Brasil, é muito burocrático, mais difícil ainda é fechar. Fazer a relação cotidiana com o poder público é muito complicado e a carga tributária é altíssima. Então, tem uma série de coisas que precisam ser mudadas no Brasil para que a vida do empreendedor fique um pouco menos difícil. 
 
Não há, também, uma parcela de responsabilidade de nossos parlamentares? Por que não mudam a legislação? 
Bruno Caetano – O que eu acho que está faltando, por incrível que pareça, é legislar menos. Eu tive a paciência de fazer um levantamento, em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, para verificar quantas normas tributárias foram editadas no Brasil desde a Constituição de 1988. O número é astronômico: são 292 mil normas tributárias editadas no Brasil desde a Constituição. Um emaranhado de normas que transformam a vida do empreendedor em um inferno. Hoje, por exemplo, para você entender a legislação do ICMS, que rege as principais atividades econômicas brasileiras, nosso principal imposto aqui no estado, você precisa ser um especialista. Por melhor que seja sua formação, se você não for um especialista no assunto, você não entende. O fato de ter uma legislação tão complicada como a nossa, abre a possibilidade para a má fé; fiscalização, corrupção e tudo o mais que a gente vê na vida do pequeno empresário brasileiro.
 
Qual seria a saída? 
Bruno Caetano –  A fórmula é simplificar, até para você ter a população do lado na fiscalização. Se você entende a legislação, se ela é transparente e simples, a população ajuda a fiscalizar. Isso vai desde a legislação urbana nas cidades – hoje não se sabe bem quais são as áreas residenciais, onde se pode construir, ou o que não pode. Você precisa ser arquiteto para entender a legislação urbana – até os grandes códigos tributários. A gente precisa ter um choque de simplificação nas nossas normas. 
 
Anos atrás, o governo criou o Ministério da Desburocratização;  Hélio Beltrão era o ministro. Por que isso não andou?  
Bruno Caetano – Talvez pela burocracia do próprio estado. Agora temos uma nova ofensiva, feita pelo Guilherme Afif, que é ministro da Pequena Empresa. A gente tem ajudado o ministério com algumas pautas. Uma coisa simples de a gente resolver no Brasil: nós temos hoje um regime de tributação para o pequeno empresário que é o simples nacional. É uma boa lei, só que ela é incompleta, porque, primeiro, as faixas de enquadramento não são atualizadas. Hoje, para pertencer ao simples nacional, você pode faturar no máximo até 3 milhões e 600 mil reais por ano. Em faturamento bruto, não no lucro líquido da empresa.  Pois bem, desde que a legislação foi criada, já faz mais de oito anos, houve uma única atualização dessas faixas, criando empresários com medo de crescer. Porque quem fatura mais que 3 milhões e 600 mil reais é expulso dessa fórmula de tributação. Acaba criando o que nós chamamos de elisão fiscal. Você pede para abrir uma empresa no nome da irmã, do filho ou dos parentes para ter vários CNPJs e aí não superar o teto. Está errado. Agora está errado também o governo porque essas atualizações deveriam ser anuais. Atualiza salário mínimo, atualiza também as faixas de enquadramento do simples. Todo ano, uma vez por ano deveria ser atualizado. 
 
Mas isso não acontece Bruno, porque o governo tem boca de jacaré, quer sempre arrecadar mais… 
Bruno Caetano – Aí é que está o erro. Quando você facilita a vida do empreendedor, além de melhorar para o empreendedor, para os empregados e para a sociedade em geral, também melhora para o poder público porque diminui a informalidade. Diminuindo a informalidade, o governo acaba arrecadando mais. Sobre isso nós temos dados pelo SEBRAE, a lei geral da pequena empresa, onde aqueles municípios que implantaram a lei da pequena empresa, em nenhum deles houve diminuição da carga tributária, e há muito incentivo para a abertura de empresas naqueles municípios onde existe a lei geral da pequena empresa. Agora, ainda na questão do simples nacional, o que a gente defende. Além da atualização anual das faixas de faturamento, tem uma segunda coisa importante: acabar com as atividades que são enquadradas no simples, porque hoje, além faturar, provar que seu faturamento é de até 3 milhões e 600 mil você precisa se enquadrar em algumas das atividades que são previstas na lei. Existem atividades, que por mais que você fature até essa faixa, você não pode pertencer ao simples nacional. Exemplo, um médico, que tem uma clínica não pode recolher pelo simples, um dentista não pode recolher pelo simples, mas eles são pequenos empresários, muitas vezes são pequenos empresários. Outra coisa interessante na lei: um corretor de seguro não pode recolher pelo simples nacional. São coisas que a gente não consegue entender, e acabam criando uma norma muito difícil de ser cumprida pelas pessoas. 
 
E prejudicam drasticamente o pequeno empreendedor e a economia do país…
Bruno Caetano – Sim, porque de cada 100 empresas hoje formalizadas no Brasil, 99 são pequenas. Juntas, essas empresas são quem mais gera emprego no Brasil. De cada dez empregos gerados no Brasil, hoje, sete estão nas pequenas empresas. Tem muita gente fazendo esforço para trazer grandes empresas para o estado ou para os municípios, mas o grande empregador hoje no Brasil é o pequeno empresário, e esse precisa de um maior carinho de nossos governantes. 
 
Bem Bruno, o cidadão que deseja montar o seu próprio negócio e quer ajuda do SEBRAE, como deve proceder? 
Bruno Caetano – Primeiro deve procurar o SEBRAE, e o SEBRAE está instalado em todo o estado de São Paulo. Aqui na Baixada Santista a gente tem a nossa unidade em Santos, tem vários pontos de atendimento, e o mais importante: 95% dos nossos produtos e serviços são gratuitos. Então não tem nem desculpa para não procurar o SEBRAE. 
 
Será orientado? 
Bruno Caetano – Bastante. A gente tem mais de 100 cursos, palestras e oficinas a disposição, tudo de graça. Agora, você vai dizer “poxa, não posso sair da minha empresa para procurar o SEBRAE”. Então o SEBRAE vai até a sua empresa.  Você pode agendar uma consultoria na sua empresa, e  também pode ter consultorias pela internet, através do site que é o www.sebraesp.com.br ou pelo telefone que é 0800 570 0800, ligação em horário comercial de segunda a sexta-feira. E o 0800 não é telemarketing, tem sempre um gestor especializado em negócios que vai te atender e vai tirar sua dúvida. 
 
Em São Paulo o SEBRAE atende quantas  pequenas empresas? 
Bruno Caetano – Todos os anos a gente atende aproximadamente 700 mil micro e pequenas empresas e mais 400, 500 mil potenciais empreendedores. Então são mais de um milhão de atendimentos no estado de São Paulo todos os anos. Isso dá uma amostra do quão grande é o empreendedorismo no estado de São Paulo. Do quanto esse assunto está crescendo e deve crescer ainda mais. 

O que já está ruim pode piorar
 
Os impactos causados pelo escoamento da safra de grãos pelo Porto de Santos foram debatidos no programa “Painel Regional Debates”, na quinta-feira (13), na Santa Cecília TV. O secretário municipal de Assuntos Portuários, José Eduardo Lopes, demonstrou sua preocupação não só com os problemas neste ano, mas também daqui a 12 anos, quando a expectativa é de que o volume de cargas no porto dobre. “Em 2025, deveremos ter sobre pneus, vindo para a Baixada Santista, um adicional de 50 milhões de toneladas, ninguém vai suportar”, alertou.
 
Investimento em ferrovias
Para ele, a solução para se evitar o caos absoluto passa pelo investimento pesado em ferrovias. “Temos que crescer exponencialmente no modal ferroviário porque um único vagão tira de três a quatro caminhões. Enquanto um caminhão transporta de 25 a 60 toneladas, um vagão transporta de 80 a 120 toneladas”. 
 
Mais uma estrada
Lopes também considera fundamental a construção de mais uma estrada entre o Planalto e a Baixada Santista. Ele citou um projeto de rodovia ligando Suzano a Santos, que reduziria em 50% o volume de tráfego pesado na Via Anchieta. 
 
Grãos na Ponta da Praia
Outro tema abordado foi a movimentação de grãos na Ponta da Praia, no chamado Corredor de Exportação, que provoca diversos prejuízos à população. Lopes comentou que a Prefeitura aguarda uma decisão do Supremo Tribunal Federal, sobre a liminar que anulou a lei municipal proibindo a instalação de terminais de grãos na área urbana de Santos. 
 
Além de Lopes, também participaram do programa o jornalista Marco Santana, do Jornal da Orla, e o advogado Elias Jacob. Comandado por Edgard Boturão, o “Painel Regional Debates” é apresentado de segunda a sexta-feira, em dois horários: às 13h30 (com reapresentação às 20h) e às 22h.