Saúde

Os erros médicos de Amor à Vida

31/01/2014Da Redação
Os erros médicos de Amor à Vida | Jornal da Orla
Esta semana, chegou ao fim mais um melodrama da telinha. Durante meses, telespectadores de todo o país acompanharam as voltas e reviravoltas da novela “Amor à Vida”, exibida na Rede Globo, que, entre tantos outros assuntos, abordou alguns tipos de doenças e tratamentos de saúde, com muitos médicos e enfermeiros entre os personagens. Trata-se de uma ficção, é claro, mas informações equivocadas podem confundir a cabeça das pessoas, por isso o site Minha Vida ouviu especialistas das respectivas áreas médicas sobre os deslizes cometidos. Acompanhe:
Tratamento psiquiátrico – De acordo com o psiquiatra Hewdy Lobo, diretor do Vida Mental, uma instituição de saúde que utiliza choques elétricos aliados a doses de medicamentos cavalares da forma que foi aplicada à personagem Paloma “certamente está indo contra a conduta médica adequada e atuando de forma criminosa”. Ele explica que o tratamento com choques elétricos, chamado de eletroconvulsoterapia, é usado em pacientes que não podem usar medicamentos e também quando a medicação não está trazendo resultados, e o paciente tem risco de suicídio, agressão ou desnutrição. “Quando indicado, ocorre em centro cirúrgico com a presença tanto do médico anestesista quanto do psiquiatra”.
Linfoma de Hodgkin – Trata-se de um tumor que se localiza nos glânglios linfáticos, como os presentes no pescoço. O normal é o paciente apresentar sintomas como o inchaço do glânglios linfáticos em 70% dos casos, e pode ter também perda de peso, sudorese excessiva, febre persistente, fadiga, entre outros sintomas. Manifestações na pele, como as ocorridas no início com a personagem Nicole, são incomuns. “Para atingir a pele com manchas teria que ser um fase bem avançada do tumor”, informa o oncologista clínico Vladimir Cordeiro de Lima, do AC Camargo Cancer Center. Segundo ele, na vida real, antes de chegar a essa fase o paciente já teria mostrado outros sinais clássicos da doença que iriam permitir o diagnóstico precoce. Segundo ele, ao contrário do que a novela mostrou, o linfoma de Hodgkin é considerado um dos tipos mais curáveis de câncer, principalmente se for diagnosticado e tratado a tempo.
Diabetes – O deslize começou com a opção por insulina para o tratamento do diabetes tipo 2, diagnosticado no personagem César. Existem dois tipos de diabetes: o tipo 1 ocorre porque o pâncreas não produz insulina, por isso é necessário repor o hormônio, e o mais comum é que a pessoa desenvolva o problema até os 20 anos. “Já na maior parte dos diabéticos tipo 2 há apenas uma resistência à ação da insulina. Por isso, geralmente o tratamento do diabetes tipo 2 é iniciado com antidiabéticos orais”, descreve a endocrinologista Denise Ludovico, da ADJ Diabetes Brasil. Além disso,nenhum endocrinologista foi consultado.
Fertilização in vitro – De acordo com a resolução CFM Nº 2013/2013, podem gestar a criança apenas a mãe, irmãs, tias, avós ou primas de um dos membros do casal. “O útero de substituição ou ‘barriga solidária’ é autorizado para parentes de até quarto grau; em situações que não há tal parente, é obrigatória uma autorização ao Conselho Regional de Medicina (CRM)”, expõe o ginecologista e obstetra Alfonso Massaguer, especialista em reprodução humana. Ao que consta, não houve nenhuma espera de notificação ao CRM antes de a barriga de aluguel, a personagem Amarilys, receber o primeiro óvulo.
Lúpus – A doença autoimune que ataca a pele, as articulações, os rins, o cérebro e outros órgãos normalmente é caracterizada por manchas na pele e dores e edemas nas articulações. Segundo a reumatologista Ieda Laurindo, do Hospital das Clínicas, um transplante como a que foi submetida a personagem Paulinha não seria necessário. “O lúpus acomete o fígado com certa frequência (cerca de 20 a 50% dos casos), mas de forma subclínica, ou seja, aparecem alterações nos exames do fígado, apenas nas enzimas que ele produz, mas o paciente não apresenta sintomas. Não há na literatura médica casos de transplante de fígado devido ao lúpus, apenas um caso de uma criança, que tinha também uma hepatite autoimune associada, o que justifica o procedimento”, conclui a reumatologista.
Câncer de mama – Após a mastectomia (retirada completa da mama) a que foi submetida a personagem Silvia, diagnosticada com câncer de mama, nenhum outro tratamento foi feito. “Na maioria dos casos é preciso fazer um ou mais desses três tratamentos: quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia”, explica o oncologista clínico Vladimir Cordeiro de Lima, do AC Camargo. De acordo com o médico, algumas pacientes podem não precisar de nenhum desses tratamentos, mas é muito raro. Porém, na trama não foi mostrado se a personagem foi analisada quanto a isso.

Autismo – Existem graus de autismo e a personagem Linda não parece se encaixar em muitos deles. “Ao que parece, o grau de habilidade de lidar com situações e linguagem da personagem muda conforme as cenas: em algumas ela parece ter um desenvolvimento muito atrasado, em outras parece mais avançado e, depois, ela volta a ficar como antes. Não é assim que um autista se desenvolve”, avalia a psicóloga Ana Arantes, mestre em Educação Especial e doutora em Comportamento e Cognição. No geral, é importante que o autista seja diagnosticado o mais cedo possível, receba o  tratamento adequado que o estimule de forma correta, de acordo com o grau de seu quadro, para que possa ser inserido na sociedade.