Baixada Santista

Guerreiros de sonhos

10/01/2014Da Redação
Guerreiros de sonhos | Jornal da Orla
Um grupo de 60 jovens de 18 países está em Santos este mês com um propósito ambicioso: realizar sonhos. Eles foram selecionados para a edição 2014 do programa Guerreiros Sem Armas, do Instituto Elos, e quem ganhará com isso são as comunidades da Vila Progresso e Caminho da União (Jardim São Manoel), em Santos, e da favela da Prainha, em Guarujá.
O programa teve início dia 6 de janeiro e prossegue até 7 de fevereiro. Depois de ouvir os desejos dos moradores e planejar as ações, os jovens vão se armar de pás, picaretas, cimento, pincéis, tinta e colocar as mãos na massa no mutirão que acontecerá de 25 a 28 de janeiro. A etapa final será para os moradores pensarem quais outras ações de sustentabilidade sonham para suas comunidades e como poderão viabilizá-las.
 “O programa não trabalha com o conceito da necessidade, mas sim sob a óptica do sonho. A gente acredita que as pessoas se mobilizam mais quando têm um sonho do que quando têm um problema”, diz Mariana Felippe de Oliveira, assessora do Instituto Elos. Este ano, a ação iniciada na comunidade terá continuidade em um programa de desenvolvimento local que durará 18 meses.
O “Guerreiros Sem Armas” segue a metodologia de mobilização cidadã criada pelo Instituto Elos, que já foi premiada pela Fundação Banco do Brasil e referendada por instituições como UNESCO, Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, PNUD, ONU-Habitat, Ministério da Cultura, entre outras.
Juventude do bem
Entre os participantes, brasileiros, latino-americanos, europeus, africanos. Alguns mal saídos da adolescência, muitos visitando pela primeira vez outro país, mas todos com forte desejo de aprender e colaborar com o intuito de aplicar a experiência em suas comunidades de origem. Vindos de mundos desiguais, com culturas e idiomas tão diferentes, entre eles impera a linguagem universal da juventude, que exercita a convivência com tolerância e acredita que veio ao mundo para fazer a diferença.
Uma delas é Cassia Quele Pereira da Costa, de 19 anos, estudante do ensino médio em Angico dos Dias, um distrito do município baiano de Campo Alegre, quase divisa com o Piauí, com apenas 1.700 moradores. “Sempre tive vontade de transformar o mundo, quando soube do programa foi como um ponto de luz. Quero aprender, despertar a melhor versão de mim mesma e espalhar isso onde moro. Quero levar esperança de que é possível viver melhor”, diz a garota, que teve que insistir com os pais para fazer sua primeira viagem.
A belga Laura Claessens, de 24 anos, é mais experiente. Formada em Direito, ela foi fazer intercâmbio na África do Sul e, depois, trabalho voluntário no Quênia, onde ajudou no replantio de árvores. Soube do programa por outro voluntário. “Foi mágico, feito um chamado. Voltei para casa, busquei mais informações na internet, queria que fosse algo inovador. Nos últimos anos fiquei muito no computador, é como se estivesse em um sono profundo. Estou redescobrindo a mim mesma. Quero restabelecer a conexão entre as pessoas e a natureza. A gente perdeu muito a sensação de que todos fazemos parte da Terra, que é a nossa casa”.

O sul-africano Thapelo Kgophane, 27 anos, atua em prisões, escolas, ambientes de trabalho em seu país, através de uma Ong facilitadora de programas de comunicação não violenta. Foi sua primeira viagem para o exterior, a primeira também de avião. Do Brasil, só sabia que vai sediar a Copa do Mundo. “Fiquei com medo da violência que a gente ouve falar pela televisão”, confessa. O jovem sorridente está bastante animado com sua participação no programa: “Não tive uma infância fácil e quero voltar para minha comunidade para apoiar os jovens que estão lá a ter melhor desenvolvimento”.

O Programa
Realizado desde 1999, o “Guerreiros Sem Armas” é um programa de aprendizado, que envolve jovens e moradores na mobilização de uma comunidade e na realização, por meio de mutirão, das intervenções decididas em conjunto. Os jovens são voluntários e bancam metade das despesas pela participação.
Nesses 15 anos, 343 jovens de 32 países viveram essa experiência e voltaram aos seus locais de origem levando na bagagem a inspiração da Filosofia Elos, novas tecnologias sociais e acima de tudo uma experiência prática de mobilização de uma comunidade para a transformação de sonhos em realidade.
As edições se repetem a cada um ano e meio. Só uma aconteceu fora de Santos: no México, em 2008. Na edição de 2012 foram beneficiadas as comunidades do Morro Santa Maria, Vila São Bento, em Santos, e Aldeia, em Guarujá.
O programa foi idealizado por cinco arquitetos, que na década de 90, na condição de estudantes, se envolveram nas obras de restauração do Museu de Pesca. A partir dessa experiência e de visitas a comunidades caiçaras e favelas da região nasceu a ideia de criar o trabalho. “Não houve motivação filantrópica, mas sim uma relação de troca. Não queríamos só pensar abstratamente, mas se relacionar com o mundo real”, comenta o arquiteto Rodrigo Rubido Alonso.
A atual edição conta com o apoio da Fundação Caixa Socioambiental, parceria do Instituto Asas e da empresa Santos Brasil e apoio institucional das Prefeituras de Santos, Guarujá e Itanhaém, Sesc Santos, Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos e Chilli Beans.