Opinião

Domingo de superação

15/03/2025 Luiz Dias Guimarães

Mais um domingo se repete. A segunda-feira também. Procuro esquecer o amanhã e me concentro no sol que me brinda contrariando a previsão do tempo. É dia de desafio e superação, como todos, mas de maneira especial.
Milhares de corredores de fim de semana competem à minha frente.

Ninguém quer ganhar de ninguém. O desafio é pessoal. Chegar, se conseguir, ao final, em bom tempo e sem precisar de ambulância.

Só copinhos de água e autodeterminação alimentam os corredores. É um prazeroso desafio que tanta gente se impõe, cada qual com sua história.

No pelotão da frente passa conhecido personagem, riscando a paisagem a toda, esticado em seu triciclo de competição.

Passam também dois amigos – ou parentes – unidos por um pequeno elástico-guia que indica o trajeto e o ritmo ao que corre com óculos escuros.

Passa ainda um pai empurrando a cadeira de seu filho de cabeça tombada, olhar perdido e braços soltos no ar.

Quantos cases de sucesso vejo nessa avenida.Deparo com um senhor esbaforido, com cara de desespero. Por milésimo de segundo nossos olhares se cruzam. Trato de evitá-lo para não constranger e demonstrar que percebi seu fracasso.

Mas o fracasso não é de quem tenta chegar ao fim, é de quem assiste sem ter coragem de tentar. Como eu, que não poderia correr com uma bituqueira na mão.
Cada um escolhe seus próprios desafios e seus particulares fracassos, já não bastassem os que a vida impõe.

Há ao redor da pista um empolgado falatório. São anônimos incentivando para a reta de chegada. Atitude que muitas vezes falta em outras avenidas.

A prova está chegando ao fim. Percebo pela ambulância que passa resgatando restos de sonhos e esperança.

Em breve tantos atletas estarão em suas casas narrando a epopéia, ou comemorando num bar seu sucesso com refrescantes goles espumantes. E eu, simples observador, volto a caminhar com Thor, presenteado com um passeio dominical pelos jardins.

Nos próximos dias Thor terá que se contentar com a pressa e meia dúzia de postes no quarteirão. Afinal, amanhã será segunda e os desafios serão outros. Para mim e para tantos que levarão a lembrança do domingo em que enfrentaram seus próprios limites.