
A vó é duas vezes a palavra amor: na semântica e no simbolismo do seu anagrama. Eu explico. Se você reorganizar as letras desta paroxítona, conseguirá formar, no mínimo, duas outras palavras. Uma delas é a conjugação de um verbo na terceira pessoa do singular: MORA. Portanto, é bem verdade dizer que em nossas avós o AMOR MORA.
Talvez, por esta razão, avó seja acolhimento incondicional e terá sempre morada em nossas lembranças e em nosso coração. Dona Iracema nunca teria imaginado que um gesto simples de carinho e amor das suas irmãs, Albertina e Ambilina, viraria memória efetiva. Foi exatamente esta memória que tornou sua netinha uma das empreendedoras mais conhecidas e dona de uma boutique de roupas íntimas conceituada de Santos. Entre as peças, claro, estão os confortáveis pijamas. A palavra vem da Pérsia e no século XVIII foi substituída por outra: negliée, roupa para ser usada a noite e para relaxar em casa, feita com tecidos sofisticados como a seda. Os tais pijamas viraram símbolo da infância de Cris Bexiga. Em quase todos os aniversários, ela ganhava das tias-avós, Albertina e Ambilina as roupinhas para dormir.
Cris foi crescendo e as peças leves, coloridas e confortáveis ganharam cada vez mais espaço no seu guarda-roupa e na bagagem. Todas as vezes que viajava, ela fazia questão de levar pra casa um vestuário novo para o descanso das noites. O que ela não imaginava é que, dentro de si, também adormecia o espírito empreendedor. Ele só despertou depois que ela completou quase 30 anos de experiência num dos setores mais importantes da economia: o comércio. Foi quando a Cris passou de empregada a empregadora.
DISCIPLINA QUE VEM DAS SALAS DE AULA
A história da vida profissional da Cris começou mesmo nas salas de aula, a poucos metros de onde hoje funciona seu próprio negócio. Coincidências que a vida nos mostra com o tempo.
O primeiro emprego foi na Escola Peter Pan. Ao meu ver e conhecendo a fundo a trajetória da Cris, arrisco a pensar que a disciplina como professora foi importantíssima pra que ela se tornasse a empresária de sucesso de hoje.
Das salas de aula, ela migrou para o comércio e foi adquirindo experiência. Cris começou na Roupa Nova, loja de roupas femininas, e passou pela Mufti, de trajes masculinos, onde foi gerente. Tempos depois deu uma pausa pra administrar outro setor: a família. Mas, como muitos dizem: quem é “picado” pelo “mosquitinho” do comércio, não consegue viver sem ele. Cris aceitou um convite e voltou a trabalhar em loja.
Trocou as roupas por sapatos e abraçou um emprego temporário durante as festas de fim de ano na Stilleto Calçados. O que ela não imaginava é que não seria uma breve passagem. “Lá fiquei seis anos. De lá fui trabalhar na loja da Iriana Bottene. Depois eu não queria mais trabalhar aos sábados porque meus filhos estavam no período de pré-vestibulares e aí fui para uma loja fechada, a joalheira da Ana Virginia Shammass no Shopping Pátio Iporanga, onde fiquei por cinco anos.”, conta.
Como nem tudo são “flores”, a crise financeira deu uma sacudida na Cris. Naquele momento o espírito empreendedor acordou. “Eu queria trabalhar com um produto mais leve. E aí eu pensei: O que eu vou vender que eu não concorra com meus ex-patrões mas eu possa levar tudo o que eu aprendi de bom? E eu amava lingerie, amava estar com gente todos os dias e o pijama sempre teve um símbolo especial pra mim.
Então era algo mesmo afetivo.
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