Opinião

Um filme de tirar o folego!

01/02/2025 Paulo Schiff
Um filme de tirar o folego! | Jornal da Orla

Babygirl é uma gíria para fazer referência a um homem atraente. Na verdade, com um tipo específico de atração: a sensibilidade, certa vulnerabilidade – o homem “fofo”. A expressão já existia, mas foi impulsionada pelo TikTok. O filme ´Babygirl`, apesar do título, tem como protagonista uma mulher, Romy, interpretada por Nicole Kidman, prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza.

É uma executiva do topo do mundo corporativo, cinquentona que coloca em risco carreira e família, em função de uma aventura sexual, atração irresistível por um babygirl novinho, estagiário da empresa que administra.

O filme não tem absolutamente nada a ver com thrillers eróticos de sucesso. Há mais de uma leitura possível. Mas trata de desejo e, principalmente, de sexualidade feminina. Trata com muita propriedade. A atriz Nicole Kidman, aos 57 anos, é dirigida pela holandesa Halina Reijn, de 49. Já é um diferencial gigantesco: protagonismo e direção femininos.

Um filme envolvente, provocador.

Num momento em que as redes sociais exaltam o modelo de sucesso familiar perfeito, o filme mergulha nas fragilidades escondidas nessa imagem. Num momento em que o feminismo exige das executivas bem-sucedidas comportamentos exemplares, ´Babygirl` expõe os pés de barro delas. Desejo secreto, feminino, reprimido durante séculos de civilização machista.

´Babygirl` não conquistou indicações para o Oscar, que é um prêmio que muitas vezes coroa mais carreiras do que atuações, mais sucesso comercial do que genialidade, mais suor nos bastidores e posturas políticas éticas do que talento, como explica o cinéfilo Marcelo Pavão.

Por que alguém arrisca tudo o que conquistou, como Romy faz? A pergunta persegue quem assiste ao filme. A ameaça está onipresente nas atitudes do estagiário, da namorada dele, do diretor logo abaixo da super executiva na hierarquia da empresa. O enredo exala essa angústia.
Halina Reijn, que também assina o roteiro, ainda não tinha nascido em maio de 1973, quando o roqueiro Raul Seixas expressou insatisfação parecida com o modelo de perfeição social, em ´Ouro de Tolo`: “Eu devia estar contente/ Por ter conquistado tudo o que eu quis/ Mas confesso abestalhado/ Que eu estou decepcionado…”

O desejo em ´Babygirl` está dentro das fronteiras do feminino. A insatisfação em ´Ouro de Tolo` está na base desse desejo. Mas já pertence ao humano: extrapola todas as fronteiras ou “cercas embandeiradas que separam quintais…”