Esportes

Paratleta mostra a força da mulher preta no esporte

08/03/2025 Matheus Vieira
Alessandra Cabral | CPB

“Eu sempre me perguntava: Por que não acham que é uma mulher?”, esse foi o questionamento que martelou a cabeça de Vanessa Cristina Souza, 35 anos, atleta paraolímpica da Fupes, corredora de cadeira de rodas, durante o início de sua jornada no esporte. “Sempre gritavam pra mim ‘Força, guerreiro’ ou ‘Vai, Campeão’ e eu ficava bastante irritada porque nunca pensavam que podia ser uma mulher correndo. Aí eu comprei capacete rosa, comecei a me maquiar mais, comprei cadeira rosa e então as coisas foram mudando”, conta.

Superar o machismo é mais um dos inúmeros desafios que uma atleta feminina tem de enfrentar para alcançar o estrelato. Vanessa defende que as mulheres devem se manter firmes em seus objetivos, não só no esporte, mas em quaisquer outras áreas que buscam sucesso. “Não desistam. Mostrem o poder que uma mulher tem, pois vale a pena. Busque seu espaço e não se importe com o que os outros vão dizer”, alerta Vanessa.

A vida de Vanessa sofreu uma reviravolta aos 24 anos. A mulher que antes fazia esporte apenas por lazer e trabalhava de garçonete sofreu um acidente de moto em 2014 que amputou sua perna. “Quando recebi a notícia fiquei com muito medo, o primeiro médico não me deu nenhuma explicação. Foi só quando o segundo médico explicou minha situação que eu aceitei melhor. A primeira dificuldade foi me desfazer dos saltos que eu gostava muito”, contou com bom humor.

A atleta iniciou sua jornada no esporte adaptado por volta dos sete meses de lesão, quando foi apresentada à modalidade por um professor de educação física em um ponto de ônibus. “Foi aí que vim para Santos e o Eduardo Leonel, que é meu técnico desde o início, me levou para o campo. No início fiz arremesso de disco, mas a treinadora Rose disse que eu tinha muita coordenação nos braços e me levou para a corrida”.

Arquivo Pessoal/ Foto de Isabelle Perestrello

Vanessa conta que sua adaptação à nova vida foi mais tranquila devido à sua mentalidade e a proximidade com a família, além do esporte. A atleta alega que se manteve sorridente, algo que gosta muito de fazer, e agarrou a oportunidade do esporte para se reestabelecer. Apesar disso, ela revela que nunca imaginou que o esporte a levaria para o patamar que chegou. Graças ao atletismo ela se formou em Educação Física, conheceu oito países e tem reconhecimento mundial.

Hoje, a corredora já conquistou três provas São Silvestre, em 2017, 2018 e 2019, participou de duas paraolimpíadas: Tóquio 2020 e Paris 2024. Além de diversas provas de maratona, inclusive quebrando o recorde brasileiro em Sevilha com o tempo de 1h40m21s. Mesmo com todo esse sucesso, Vanessa segue lutando por mais representatividade no esporte. “Na última Paraolimpíadas acho que só tinha eu e mais uma mulher negra na categoria. A gente não vê muitas mulheres negras no esporte que eu faço, então ter mais mulheres como eu no esporte que é uma representatividade muito grande para os próximos que estão vindo. Então eu fico muito feliz quando eu vou em competição que tem mais negras”, conta.

Vanessa Cristina também conquistou três medalhas de bronze no Parapan de Santiago, em 2023

“Agora mesmo está chegando mais uma negra na corrida em cadeira, eu fico muito feliz porque a gente precisa igualar isso. Ter mulheres negras fazendo faculdade, por exemplo, se destacando e tendo, não só no esporte, mas também em outras profissões é uma grande representatividade pra criançada que vem aí. Já chegou a hora de parar com isso de distinção por cores, esse preconceito que nem deveria mais existir no século que a gente está”, afirma a atleta.