Cena

A alma da Orquestra Jovem da Pompeia

08/03/2025 Isabela Marangoni
Arquivo pessoal

Uma força da natureza com nome de estrela e o propósito de transformar vidas por meio da música. Assim é Dalva Menezes, que, há 15 anos, lidera a Orquestra de Jovens da Igreja da Pompeia com paixão e determinação.

O projeto nasceu de uma sugestão inesperada de Flávio Simões, fundador da Projexe Engenharia, que propôs a Dalva que criasse uma orquestra na paróquia da Pompeia. Inicialmente relutante — afinal, apesar de sempre cantar no coral, nunca tocou um instrumento —, ela encontrou apoio no padre Antonio Baldan e decidiu aceitar o desafio. “Sempre gostei de música, canto há anos na Igreja. Ele simplesmente me olhou e disse: ‘a senhora gosta de música, faça’. Foi assim que começou, o Flávio doou todos os instrumentos necessários: violinos, violoncelos, flautas transversais, saxofones e até um piano. Eles foram essenciais para esse pontapé inicial”, comenta.

Transformando vidas

orquestra atende crianças e jovens de 6 a 18 anos, oferecendo não apenas o ensino musical, mas também um refúgio contra influências negativas. Para Dalva, a maior recompensa é ver a música transformando vidas. “Não tem trabalho melhor do que esse. Fazer parte da vida dos jovens, dos idosos com quem atuo também, não tem preço”.

Com orgulho dos alunos, ela cita um dos muitos exemplos que a enchem de felicidade e que mostram que está no caminho certo com a orquestra. O jovem Davi Campolongo chegou ao projeto interessado em tocar violino, mas acabou optando pelo piano. Hoje, ele é um músico talentoso e interpretou o maestro João Carlos Martins nas telonas do cinema. “Onde quer que se apresente, mesmo que não me veja presente, ele sempre diz: ‘Comecei na igreja da Pompeia, com a dona Dalva’. Estive na pré-estreia do filme ‘João, o Maestro’, ao lado dos pais dele, e foi emocionante. É um orgulho sem fim”, diz emocionada.

Audições

Quanto às audições para fazer parte da orquestra, Dalva confessa que têm uma ‘pegadinha’: todos precisam cantar uma música para entrar no curso. Como muitos ficam inseguros e até mesmo envergonhados, a sugestão é que cantem ‘Parabéns Para Você’. Para ela, é notável o impacto da orquestra na vida das crianças, não apenas pelo talento musical desenvolvido, mas pela autoconfiança e crescimento pessoal que eles adquirem no curso.

Escolhido a dedo pela própria Dalva, o repertório da orquestra mescla músicas clássicas e atuais. “Claro que não toco músicas profanas dentro da igreja, mas a mistura é essencial para atrair os alunos”, explica. Entre suas favoritas estão ‘Viva La Vida’, do Coldplay, e ‘Despacito’, de Luis Fonsi. As apresentações são realizadas em vários espaços de Santos, como a Igreja do Embaré e até mesmo na Câmara Municipal.

Sua atuação na música vai muito além da orquestra: ela também canta em missas e acredita no poder da música para combater a depressão na terceira idade. Para ela, o projeto representa um legado inestimável para a comunidade. “Me sinto supervaidosa. Tenho 80 anos, algumas limitações, mas muita alegria e prazer em fazer o que faço. Quando a comunidade acredita, tudo vale a pena”, reflete.

Formação

Com um bom equilíbrio entre meninas e meninos, cada instrumento tem um professor especializado e o maestro Mário Tirolli lidera o grupo. Os professores são remunerados, e os recursos são obtidos através de doações e patrocinadores que acreditam no projeto.

A administração financeira fica a cargo de Maureen Suzan, enquanto a própria Dalva fica responsável por ir atrás dos colaboradores. “Os professores e o maestro são remunerados, porque eles vivem da música, por isso não tínhamos como fazer de graça. Eu corro atrás dos patrocinadores e é muito gratificante ver que tem gente que acredita no nosso trabalho. Isso não tem preço”.

Mas as finanças nem sempre foram um mar de rosas. Ela recorda que, no primeiro mês da orquestra, os professores quase ficaram sem pagamento e o padre Baldan foi essencial nesse momento. “Eu estava desesperada, contei que não tínhamos dinheiro. Ele perguntou quanto precisávamos, enfiou a mão no bolso e tirou a quantia certinha. Quando se tem apoio, não há como não acreditar”.

Experiência

Após tantos anos liderando um projeto tão importante quanto a Orquestra de Jovens da Pompeia, um conselho que dá frequentemente aos alunos é não abandonar os estudos e sempre ter uma profissão além da música. Para ela, a verdadeira transformação vem da educação e dedicação. Muitos deles, hoje pais de família, seguem carreiras diversas e mantêm a música como um hobby.

E o que significa celebrar o Dia Internacional da Mulher dentro da música e da educação? Para Dalva, esse é um momento especial e se sente honrada pelo reconhecimento de seu trabalho. Seu recado para outras mulheres que desejam atuar em projetos sociais e culturais é claro: “Com dedicação e amor, é possível transformar a vida dos jovens. É assim que tem que ser. Vamos caminhar, as pessoas acreditam, e, no final, tudo dá certo.”