Política

Filme destrava casos de desaparecidos na ditadura

04/03/2025 Marco Santana
Filme destrava casos de desaparecidos na ditadura | Jornal da Orla

Além de conquistar o Oscar, o filme “Ainda estou aqui” pode dar outra vitória ao Brasil: o longa-metragem provocou uma ampla discussão no Supremo Tribunal Federal, que poderá destravar uma série de ações em que se questiona a aplicação da Lei da Anistia em casos de desaparecidos durante a ditadura brasileira.

Levantamento do repórter Marcelo Oliveira, da Agência Pública, indica que, das 56 ações criminais divulgadas pelo Ministério Público Federal (MPF) entre 2012 e 2024, 18 seriam retomadas.

No dia 24 de fevereiro, o STF, por unanimidade, decidiu que vai analisar se a Lei de Anistia se aplica a casos de desaparecimento, mas ainda não há data para o julgamento.

O MPF entende que a Lei de Anistia não se aplica para beneficiar os autores de violações de direitos humanos no período da ditadura militar brasileira, marcado por ataque sistemático a uma parcela da população que, com ou sem armas, se opunha ao regime. Os crimes praticados neste contexto seriam contra a humanidade e não prescreveriam, cabendo às autoridades brasileiras processá-los e julgá-los.

Jurisprudência

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) já decidiu afastar a Lei da Anistia para casos de desaparecimento ao julgar recurso sobre o desaparecido Carlos Zaniratto, um ex-soldado do Exército que desertou para seguir Carlos Lamarca na Vanguarda Popular Revolucionário (VPR), como mostrou a Pública.

Em dezembro, ao analisar um recurso em uma ação sobre um caso de ocultação de cadáver de uma vítima da campanha militar das Forças Armadas contra a Guerrilha do Araguaia na ditadura, o ministro do STF Flávio Dino citou o filme ao decidir que o tema era de repercussão geral.

“A história do desaparecimento de Rubens Paiva, cujo corpo jamais foi encontrado e sepultado, sublinha a dor imprescritível de milhares de pais, mães, irmãos, filhos, sobrinhos e netos”. n