Rezo nesta quarta-feira pela vida do Papa, sem saber se o fim de semana será de glória ou tristeza. Rezo por sua vida, abstraindo qualquer confissão de fé ou crença. Rezo pela vida desse homem, sem saber ou querer julgar seu legado. Não é sobre seu destino que escrevo. É sobre a morte dos limites humanos nestes tempos.
A internet expôs virtudes, mas aflorou também o mais sombrio chorume do ser humano, brotado do pântano que muitos habitam. O que me faz exaltar a perplexidade dos meus sentimentos é a lembrança de um post que não me sai da cabeça.
Fui surpreendido por um post no Instagram, editado de forma alarmante: O Papa morreu! Dizia a notícia que a morte havia sido confirmada pelo Vaticano e blá blá blá. Como assim, não ouvira nenhum plim no meu celular, não ouvi sinos tocando, não senti qualquer arrepio ou o apequenamento da minha alma! Sei que os maiores infortúnios têm a marca da surpresa. Mas como assim?
Larguei imediatamente o carrossel e corri para um portal de notícias, rezando para que mais uma vez meu pacto com a desconfiança nas redes procedesse. E de fato, a notícia que encontrei era de que o estado de saúde do Sumo Pontífice continuava crítico, mas havia dormido bem, sem qualquer intercorrência. Ufa!
Percebe a que ponto se chega nestes tempos? O quão fakes são alguns, a ponto de monetizar a morte de alguém? Pois é, tristes tempos em que se usam redes sociais para inconfessos objetivos. Não creio que a intenção do autor fosse maldizer quem deu a vida para aplacar almas sofridas.
Só lamento que no meu afã de confirmar a notícia que deixara meu cérebro trôpego, não me detive em observar quantos likes a fake news recebera. Mas certamente houve um compartilhamento imenso, afinal notícias tristes, preferencialmente as mais trágicas, são costumeiramente o rastilho de pólvora a se espalhar neste mundo de inverdades. E aflorar um lado que talvez todos tenhamos, em maior ou menor grau, se não formos seres iluminados. Como quem dedicou sua existência a conduzir um rebanho imenso.
Até então dizia-se que alguém matava a mãe e não entregava. Encontrei quem matou um Papa e não se envergonhou contando o quanto lucrou com a mentira. Que seu lucro queime no inferno.
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