Respira e Vai

O peso invisível

01/03/2025 Vanessa Martins
O peso invisível | Jornal da Orla

Outro dia, vi uma mulher no ponto de ônibus segurando um guarda-chuva fechado com força, como se fosse uma bengala, seu último ponto de apoio. Seu olhar estava perdido, mas a postura e seus ombros falavam. Havia ali um cansaço que ia além da rotina, um peso invisível que tantas pessoas carregam sem perceberem o tamanho da carga.

A saúde mental, dizem, é um luxo para quem tem tempo. Mas a verdade é que ela é a base silenciosa de tudo. Sem ela, o corpo pesa mais, o sono não descansa, a comida não alimenta. As pessoas acham que ansiedade é só um nervosismo exagerado e que depressão é apenas tristeza, quando, na realidade, são tempestades inteiras acontecendo dentro de um só peito.

A rotina que consumimos sem piedade nos impede de perceber o quanto estamos negligenciando a nossa própria mente. O ruído constante da cidade, os prazos intermináveis, a pressão por desempenho, tudo contribui para um desgaste invisível que não aparece nos exames médicos. É preciso parar e escutar o próprio silêncio, dar espaço para a introspecção e permitir-se sentir, sem medo de julgamentos. Um momento de pausa pode ser o primeiro passo para um verdadeiro encontro consigo mesmo.”

“Talvez, se tivéssemos mais empatia e compreensão com as dores alheias, se parássemos de mensurar sofrimento pela quantidade de lágrimas derramadas ou pelo número de dias de cama, poderíamos construir uma sociedade mais acolhedora. A mulher no ponto de ônibus, com seu guarda-chuva firme, é um reflexo de todos nós. Precisamos reconhecer e valorizar nossas próprias batalhas internas, porque é na aceitação e no cuidado com a nossa saúde mental que reside a verdadeira força.

“Entender que a ansiedade é uma emoção que nos regula. Não tem como olhar para ela como um problema, e sim como um aprendizado sobre si mesmo”, explica a psicóloga Alessandra Moreno. “Perceber o que tem sido o seu ritmo, momentos de pausa, de autocuidado são fundamentais para entrar em contato consigo e se autorregular diante de momentos mais estressantes.”

“Você não parece doente.” Ah, essa frase. Como se apenas o que sangra fosse real. Mas ninguém vê os pensamentos acelerados na madrugada, a respiração curta antes de sair de casa, o esforço para sorrir quando tudo dentro pede silêncio. A saúde mental não deixa cicatrizes visíveis, mas pode ferir mais do que qualquer corte.

Há quem diga que pedir ajuda é fraqueza. Mas a psicóloga Alessandra Moreno costuma dizer que “reconhecer limites é um ato de coragem”. Afinal, o que é mais forte: fingir que está tudo bem até desabar ou admitir que precisa de um respiro? Se pudéssemos enxergar o desgaste emocional como vemos um braço quebrado, talvez houvesse mais acolhimento e menos julgamentos.

Talvez o segredo seja a gentileza consigo mesmo. Diminuir a cobrança interna, respeitar os dias difíceis e, principalmente, permitir-se cuidar. Terapia não é frescura, descanso não é preguiça, dizer “não” não é ingratidão. Tudo isso é preservar a si mesmo antes que a exaustão decida fazer isso por nós.

No fim, saúde mental não é sobre estar sempre feliz. É sobre estar em paz, mesmo nos dias nublados. É sobre aprender a segurar o guarda-chuva sem tanta força, deixando que algumas gotas caiam, porque é impossível controlar a chuva o tempo todo.

E se eu pudesse dizer algo àquela mulher no ponto de ônibus, diria: “Você não está sozinha. E tudo bem pedir ajuda.” Porque, no fundo, é isso que todos nós precisamos ouvir de vez em quando.