O amor apresenta, quase sempre, um traço curioso econtraditório: você se dá todo o direito de falar mal daquela, daquele ou daquilo que ama. Mas não aceita absolutamente nenhuma crítica de outra pessoa a esse ser ou a esse objeto amado.

Assim com Santos. Quem nasceu aqui, ou quem adotou a cidade para morar, pode reclamar dela. E reclama muito. Mas vá um vicentino, paulistano ou carioca apontar defeito…

O calor no verão é insuportável? A carreira profissional decola com mais facilidade em São Paulo? O melhor hospital de Santos é o Sistema Anchieta-Imigrantes? Os prédios da orla da praia são tortos? A água do mar fica imprópria para banho depois de cada abertura das comportas dos canais? O tempo de espera nos semáforos é insuportável? A população em situação de rua faz o nosso coração sangrar todos os dias?

Tudo isso pode ser verdade. Mas o santista sente a cidade como o compositor carioca Tom Jobim sentiu o Rio depois de morar uma temporada nos Estados Unidos:

“Morar em Nove York é bom, mas é uma merda; morar no Rio é uma merda, mas é bom.”

Uma infinidade de maravilhas faz o nosso coração bater mais forte quando estamos longe e lembramos de Santos.

A orla da praia tem um jardim lindíssimo que o Livro Guiness dos Recordes reconheceu em 2000 como o mais extenso do mundo: 5335 metros. Do lado direitodesse jardim, pra quem olha o mar, o futuro seapresenta iluminado de esperança pelo rubro e pelo amarelo-ouro que o por-do-sol no Emissário o passado espalha no horizonte.. Do lado esquerdo, na Ponta da Praia, é o passado da Fortaleza da Barra, que acende uma confiança multissecular no nosso espírito:

“Verás que um santista não foge à luta.”

Os piratas sempre saíram daqui derrotados. Mas não só eles. Quando as epidemias ameaçaram a nossa sobrevivência, a cidade, conduzida com competência e visão de futuro pelo sanitarista Saturnino de Brito, no começo do século 20, rasgou canais, coletou e tratou esgotos, derrotou os vírus e bactérias e abriu caminho para a consolidação do porto como a maior porta de comércio internacional do hemisfério sul do planeta.Os canais se tornaram inclusive referências geográficas:

“É perto de que canal?”.

Ensinamos ao país a caridade desde que nascemos na fundação da primeira Santa Casa de Misericórdia das Américas. Mantivemos essa tradição com os médicos sanitaristas David Capistrano e Fábio Mesquita nos anos 80 e 90 com a adoção de politicas públicas pioneiras em nível mundial na saúde mental e no enfrentamento da epidemia de Aids.

Com José Bonifácio, um dos principais estadistas da história do continente americano, participamos como protagonistas da construção da liberdade, da independência e da autonomia do país.

A estrelada Vila Belmiro, palco de Pelé e do grande Santos, é reconhecida em todo o mundo com um templo do futebol.

Temos grandes desafios pela frente para a manutenção dessa grandeza: o túnel Santos-Guarujá, a integração metropolitana, uma arena multiuso para o Peixe, a multiplicação dos acessos ferroviários e rodoviários…

Mas temos esse caminho iluminado pelo brilho desses vultos e de muitos outros que caberiam aqui: Latorraca, Chorão, Athiê, Luiz Alca, Covas, Plínio Marcos, Pagu, Rubens Ewald…  

No aniversário das pessoas, desejamos paz, saúde, realizações, amor, evolução… No aniversário de Santos, desejamos que a cidade continue gerando oportunidades pra todas essas coisas pra quem nasce aqui e pra quem adota esse solo abençoado pra viver.