Começou nesta sexta-feira (13), em Santos, um plano inédito de urbanização no País: o Parque Palafitas. O projeto-piloto prevê a construção de 60 unidades habitacionais em uma área de mil metros quadrados na comunidade do Dique da Vila Gilda, na Zona Noroeste.
O objetivo da Prefeitura é estabelecer uma nova forma de ocupação nessas áreas originalmente de mangues, promovendo não apenas o bem-estar dos moradores, mas também a recuperação ambiental.
A cravação das estacas pré-fabricadas para as obras de fundação e construção da superestrutura do Parque Palafitas foi o primeiro passo, em ato com a presença do prefeito Rogério Santos, secretários municipais, vereadores, o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa, deputado estadual Paulo Corrêa Junior, a deputada estadual Solange Freitas, vereadores e moradores da área.
“Estamos trabalhando em uma realidade que precisava ser enfrentada. Com a ajuda de parcerias e recursos, que têm sido tão importantes para inaugurar grandes obras na nossa cidade, vamos entregar moradias dignas às pessoas que necessitavam de um olhar de apoio e reconhecimento. E faremos muito mais nos próximos anos. É um compromisso com a população do Dique da Vila Gilda sendo cumprido”, discursou o chefe do Executivo.
Rogério Santos lembrou da obra da primeira Policlínica do Dique da Vila Gilda, que está em fase final, e a entrega de mais de 1.400 moradias nesta gestão, com outras 1.200 em fase de construção, que abrigarão mais famílias em situação de vulnerabilidade social.
Para o secretário de Desenvolvimento Urbano, Glaucus Farinello, o projeto é um marco histórico, social e arquitetônico para Santos. “Muito se discutiu ao longo de décadas sobre qual seria a solução efetiva para essa região tão vulnerável da Cidade. E hoje estamos dando o pontapé inicial a esse projeto inovador, que trará um novo olhar arquitetônico e social para a região e, assim, romperá paradigmas”.
O estaqueamento é a primeira etapa do projeto, que, na sequência, envolve a construção de 60 unidades habitacionais em estruturas modulares. É utilizada uma metodologia de estaqueamento aplicada em outros países e semelhante à utilizada na construção de terminais portuários, destacando-se pelas abordagens sustentável e social, com soluções construtivas mais simples e rápidas.
O Parque Palafitas contará com iluminação pública e saneamento básico. Os prédios comerciais e institucionais terão energia solar, e haverá espaços para lazer e comércio, além de equipamentos públicos, parques e áreas para regeneração do mangue.
“Toda a obra do Parque foi planejada para que pudéssemos executá-la de forma mais adequada, respeitando todas as questões legais, ambientais e de infraestrutura da região, além de proteger a margem do rio. Nossas expectativas são as melhores para entregar algo que acreditamos ser um desafio necessário”, afirmou o secretário em substituição de Infraestrutura e Serviços Públicos, Ronald Lima.
FUNDAÇÃO
Para a execução da fundação da estrutura de apoio das casas, serão fincadas estacas pré-fabricadas de concreto. Na sequência, serão assentados sobre as estacas os blocos de fundação e as vigas que suportarão as lajes de apoio. É sobre essas lajes que serão assentados seis conjuntos habitacionais – quatro de apartamentos, totalizando 44 unidades, e dois de casas, cada um com oito residências térreas.
A laje de apoio será executada com vigas em concreto armado moldadas no local e lajes pré-moldadas, seguindo-se camada de consolidação com tela soldada e outra de concreto usinado, cobrindo quatro mil metros quadrados. O entorno da laje de apoio terá proteções com guarda-corpo metálico e elementos vazados em vidro, tipo veneziana, com 205m de extensão.
Dois dos prédios terão 16 apartamentos, distribuídos no térreo e no 1º pavimento; o outro, 12 unidades dispostas no térreo e em dois andares, e o último, 16 habitações divididas entre o térreo e três pavimentos. Serão quatro apartamentos por andar, cada um com 49,30m² de área privativa.
Já as 16 casas terão, cada uma, 48,06m² de área construída e testada de 5,75m², dotadas de sala de estar e jantar integrados (10,69m²), cozinha (5,34m²), área de serviço (3,02m²), dois quartos (8,28m² e 8,05m²), banheiro (2,88m²) e varanda dos fundos (3,88m²).
As habitações terão piso e paredes de painéis de madeira laminada, para preservar a comunidade local. Serão removidas apenas as habitações mais vulneráveis junto à água para permitir a regeneração do mangue e criar espaços de lazer, chamados de respiros.
As edificações gerais de apoio, institucionais e comerciais, do Parque Palafitas ocuparão 309m². Serão dois prédios comerciais, um com quatro salas e o outro, com três. A associação de moradores também terá espaço próprio.
INFRAESTRUTURA
Todas as unidades residenciais, comerciais e institucionais contarão com redes de saneamento básico (fornecimento de água e captação de esgoto) a serem instaladas pela Sabesp, o que eliminará a contribuição atualmente despejada no mangue.
O projeto se completa com a entrada de energia, rede de drenagem, iluminação pública e infraestrutura de telecomunicações e de combate a incêndio. Também será instalado um píer flutuante, integrado por dois módulos de 12m por 3m, para utilização de passageiros de embarcações, nos moldes do existente na Ponte Edgard Perdigão, na Ponta da Praia.
ESFORÇOS
A execução do projeto-piloto Parque Palafitas foi possível graças à cessão, pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU), do Governo Federal, de uma área à Prefeitura. O termo foi assinado em 23 de janeiro deste ano e o projeto de urbanização já conta com licença ambiental.
O projeto-piloto desenvolvido especialmente para a área de palafitas do Dique da Vila Gilda foi iniciado em 2018 pelo escritório do arquiteto Jaime Lerner, com apoio da Organização Comunitas, e tem como base a substituição das palafitas por estruturas pré-fabricadas, além da construção de prédios em áreas secas próximas à via.
O plano inovador de urbanização proporcionado pelo Parque Palafitas foi apresentado pela Prefeitura no dia 20 de julho de 2022 durante a 14ª Conferência Anual da Rede de Cidades Criativas da Unesco, realizada em Santos. Ele também foi destaque no evento Smart City Expo World Congress, em Barcelona (Espanha) no dia 6 de novembro, apresentado em painel pela sócia do escritório, a arquiteta e urbanista Ariadne Daher.
TRANSFORMAÇÃO
Há dois anos em uma palafita, Lizandra Carvalho, de 30 anos, reside com os seus cinco filhos em um lugar definido pela própria como ‘inapropriado’. Sonhando com o momento de adentrar em sua futura moradia no Parque Palafitas, a dona de casa afirma que vai dedicar a conquista aos pequenos, alunos dedicados do Arte no Dique.
“Quando menciono a oportunidade que teremos de nos mudar desta casa que, além de quente e vulnerável à chuva, oferece riscos a nós, os meus filhos começam a pular de alegria. Essa conquista é toda deles, que terão uma vida mais digna, segura e feliz. É gratificante saber que vou poder oferecer mais conforto a eles”, disse Lizandra.
INVESTIMENTO
As obras de fundação e superestrutura para a implementação do Parque Palafitas estão a cargo da empreiteira TMK Engenharia S.A., vencedora da licitação pública, com investimento de R$ 13,335 milhões, sendo R$ 12,3 milhões do Governo do Estado, com contrapartida de R$ 1,02 milhão do orçamento municipal.
Já a construção das 60 unidades habitacionais em estrutura modular está orçada em R$ 12.680.000,00, sendo R$ 12,07 milhões provenientes do Governo do Estado e R$ 604.408,00 do orçamento da Prefeitura. Essa etapa está sob responsabilidade da Tecverde Engenharia S.A.