Donald Trump se elegeu para um novo mandato na presidência dos Estados Unidos. A partir da posse, no dia 20 de janeiro, volta a ocupar a posição de ser humano mais poderoso do mundo.
Além de comandar o executivo, Trump conta com maioria nas duas casas legislativas, Senado e Câmara, e também na Suprema Corte. Situação bem mais poderosa do que no primeiro mandato,
Os Estados Unidos continuam sendo a superpotência mais hegemônica do mundo: tem a maior economia e também o maior potencial bélico.
Então não há limites planetários para o poder de Trump? É como se ele fosse um imperador romano, um rei dos hunos, o Rei-Sol?
Não.
Esse poder tem limites claros na Constituição dos Estados Unidos. Na autonomia dos estados que constituem a federação. Na soberania das outras nações. E principalmente no curso dos acontecimentos.
Uma observação genial sobre esses limites de poder, especialmente o do fluxo da história, vem do escritor russo Leon Tolstói. No romance ‘Guerra e Paz’, uma obra-prima, ele diz que um líder político que pensa comandar os acontecimentos tem a mesma ilusão que um polinésio que, ao deslizar no mar numa prancha de madeira, pensa que está conduzindo a onda.
A Polinésia é considerada o berço do surfe, pratica levada para a Europa pelo navegador inglês James Cook em 1778.
Trump começa o mandato com 78 anos. Apesar das dancinhas na campanha e do vigor que reagiu ao tiro na orelha, não parece dispor de recursos físicos para surfar uma única onda. Vai tentar comandar. Vai conseguir?
Vamos examinar algumas das suas ideias centrais, as locomotivas da campanha.
O carro-chefe foi a promessa de deportar imigrantes ilegais. São 13 milhões. Trump chegou a definir esses imigrantes como animais. Para executar essa operação, teria de vencer a oposição de alguns estados importantes contrários a essa ideia, dividir novamente famílias, como já fez no primeiro mandado, ter mais polícias, centros de detenção e juizes de tribunais de imigração. E enfrentar batalhas judiciais para as quais os advogados de entidades como a União Americana das Liberdades Civis vêm se preparando há mais de um ano.
Parece muita coisa a superar em apenas 4 anos mesmo para um “mandato poderoso e sem precedentes”, como o próprio Trump definiu.
Outro ponto central da ideias trumpistas é a de dar uma banana para os acordos internacionais de enfrentamento das mudanças climáticas. Vai tentar remar contra essa correnteza, como já fez no primeiro mandato. Mas qual é a extensão do poder dele nesse campo? Não pode impedir que cidadãos dos Estados Unidos adotem práticas sustentáveis, não pode impedir que outros países cumpram esses acordos, pode fazer com que empresas locais sofram boicotes de outros mercados.
E no terceiro ponto sagrado, atrair de novo empresas dos Estados Unidos a produzirem no país? As multinacionais migraram suas plantas de produção para a Ásia, a África, a América do Sul, em busca de mão de obra mais barata, menores custos de produção e logística de acesso a matérias-primas mais favorável. Podem ser trazidas de volta com os instrumentos que Trump dispõe como incentivos fiscais, taxações de importações e o slogan Make America Great Again?
Vai ser uma batalha muito interessante de acompanhar.