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Jóquei

09/10/2024
Jóquei | Jornal da Orla

A singular poesia de Matilde

(1) Uma jovem escritora. (2) Um livro de estreia. (3) Poesia. Três circunstâncias que, amalgamadas, sugerem um caminho difícil no competitivo mercado editorial. Mas não para a portuguesa Matilde. Jóquei, seu potente primeiro livro, conseguiu combinar, com invulgar habilidade, a prosaica verve contemporânea com a estilística clássico-poética em perfeita simbiose.

Joquéi foi em grande parte gerado no Brasil – Matilde trabalhou no Rio de Janeiro por três anos, o que explica a ambientação de alguns poemas por aqui. Apesar do texto ser catalogado como poesia, o leitor encontrará algumas estruturas inusuais que escapam do esquema clássico do poema e se convolam em belíssimas prosas poéticas. Por observação empírica já notamos que os leitores nunca passam indiferentes por este livro – ao contrário, é sempre lembrado como um “livro para sempre”. E melhor lugar do que este não há.

Em prefácio da edição brasileira, Carlito Azevedo (que sabe tudo) bem definiu “a capacidade da poeta de nos fazer querer viver o que ela imaginou”. É mesmo assim: viramos a última página pensando na moça girando seu vestido amarelo, no café da manhã na confeitaria, no ministro demissionário, no simpático colibri. E, entre tristezas e felicidades, concordamos com Matilde: “Apesar das visitas / Breves do pavor / A beleza é tudo / O que permanece”.

Motivos para ler:

1- Matilde Campilho nasceu em Lisboa (1982). Em certa passagem, diz: “Ama e faz o que quiseres”. Ela é isso. Poeta nômade, estudou em Milão, trabalhou em tantas outras cidades mundo afora, fala e escreve com enorme desenvoltura. Na FLIP-2015 foi aclamada por unanimidade como a musa do evento, encantando a todos com sua figura, a desenvoltura intelectual absurda e um sotaque adorável;

2- É em Jóquei que encontramos o mini poema que viralizou nas redes sociais. Talvez você já o tenha visto: “Era capaz de atravessar a cidade em bicicleta só para te ver dançar. E isso diz muito sobre a minha caixa torácica”;

3- A conhecida charge que ilustra esta coluna, remetendo a uma conversa de amigos que possivelmente sofrem alguma opressão e elegem a poesia como arma de resistência, exprime bem esse gênero literário: um espaço de liberdade, onde a subjetividade muito profunda toca os melhores e mais nobres sentimentos do humano. Leiamos poesia, portanto.

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