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Não me abandone jamais

07/08/2024
Não me abandone jamais | Jornal da Orla

Com toques de ficção científica, o livro é comovente e muito intrigante 

Um livro comoventemente misterioso. Esta é possivelmente a alcunha que melhor define o singular Não me abandone jamais de Kazuo Ishiguro, Nobel de Literatura de 2017. Será pela voz da inocente protagonista que a aura nebulosa que paira por todo o romance lentamente se dissipará até o desvendamento da aterradora verdade.

O livro se situa na Inglaterra da década de 90. O(a) leitor(a), já nas primeiras páginas, sentirá a atmosfera ofuscada e sombria de Não me abandone jamais: Kathy, a protagonista de 31 anos, é uma “cuidadora” que passou grande parte de sua vida em uma espécie de internato. Nada se sabe sobre a origem das crianças que lá viveram, tampouco sobre o futuro que as aguarda como “cuidadoras” ou “doadoras”. Todos ali são reputados como alunos especiais, mas não se sabe para que se preparam.

O quebra-cabeças narrativo vai pouco a pouco sendo montado e cada peça encaixada conduzirá o(a) leitor(a), com assombro, à perplexidade final.

Motivos para ler:

1-Kazuo Ishiguro, japonês de Nagasaki, foi agraciado com o galardão do Nobel em 2017. Sua obra literária, não muito extensa, vale a pena ser integralmente conhecida;

2- O grande trunfo do livro é, sem dúvida, a condução muito obscura de um enredo que vai gradualmente se abrindo aos olhos do leitor até as revelações finais devastadoras. É com mão de mestre que Ishiguro impõe nebulosidade para logo depois abrir uma fresta de luz, estabelecendo um constante e intrigante lusco-fusco;

3- Trata-se de um romance doloroso e de fina tristeza, forjado na solidão e na ingenuidade da personagem principal e de todos aqueles que com ela compartilharam uma estranha vida ao mesmo tempo sem propósito e cheia de significados. É comovente do início ao fim. Uma emotiva declaração de um dos responsáveis pelo internato sintetiza tudo: “Pobres criaturas. O que foi que fizemos com vocês?”

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