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Sobrevivendo no inferno

25/10/2023
Sobrevivendo no inferno | Jornal da Orla

A periferia em destaque: o fenômeno Racionais MC´s 

Entre 1992 e 1993, o Brasil foi palco de eventos terríveis que assombraram o mundo: os massacres do Carandiru e da Candelária e a chacina de Vigário Geral. A violência institucional do Estado contra a periferia se tornou generalizada e validada por parte de uma desinformada opinião pública. Mas a periferia reagiu: o ano é 1997 e os Racionais Mc´s lançam o disco Sobrevivendo no Inferno.

O disco, um fenômeno cultural sem paralelo que vendeu mais de 1,5 milhão de cópias, consistiu numa tentativa -esteticamente brilhante- de sobreviver em meio a uma sociedade doente. Em prosa e verso, os Racionais, de uma vez só, revelaram o DNA das favelas brasileiras, promoveram o autorreconhecimento e o orgulho do sujeito periférico e colocaram a realidade aos olhos de todos sob uma luz nunca vista.

O livro Sobrevivendo no Inferno traz um instigante prefácio do Prof.º Acauam (Cadeira de Literatura da Universidade de Pernambuco) e congrega as letras do disco. Uma obra-prima da música brasileira convertida num livro que certamente arrebatará o leitor a cada verso.

 

Motivos para ler:

1- Moradores do extremo Sul de São Paulo, os Racionais surgiram em 1988 nas vozes de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. Sobrevivendo no Inferno gerou repercussões em toda a sociedade civil. A Revista Rolling Stone situou o disco na 14ª posição dos 100 melhores de todos os tempos da música brasileira. Um fenômeno que continua;

2- A obra dos Racionais faz apologia ao crime? Muito pelo contrário. Nas palavras do Prof.º Acauam: “basta acompanhar as letras de todas as canções e tentar encontrar algum caso de um criminoso que não tenha final trágico. “A vida bandida é sem futuro”: esta talvez seja a principal lição do disco”;

3- A “teologia da sobrevivência” pregada pelos Racionais é uma luta sem fim. O preconceito é fortíssimo. Meses atrás um Ministro compareceu à Favela da Maré para falar de segurança com uma respeitada associação sociocultural local. Foi o bastante para a horda do ódio (que destila pobrefobia e quer a periferia invisível) hostilizá-lo e levantar o preconceito clássico que define todo favelado como criminoso. Esquecem-se que é dever do Estado se aproximar dos problemas sociais e encará-los com responsabilidade, onde quer que eles estejam.

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