Para muitos judeus, a época das Grandes Festas começa com Rosh Hashaná e o início do novo mês de Tishrei.
A tradição judaica, no entanto, ensina que o mês anterior de Elul é um tempo de autoanálise e reflexão para se preparar para a magnitude dos Dias Intensos.
É durante este tempo que recitamos Selichot, a partir de agora, começo do mês Elul.
Numa definição mais ampla, Selichot são orações penitenciais ditas antes e durante as Grandes Festas e também outros dias de jejum ao longo do ano.
Mas o termo primeiro aparece como uma referência aos versículos bíblicos que foram adicionados à liturgia do Yom Kippur.
As orações de Kippur foram combinadas com orações gerais de arrependimento.
O livro de orações de Rav Amram Gaon, do século IX, por exemplo, inclui uma coleção desses escritos poéticos e meditações.
Embora essas orações fossem inicialmente recitadas apenas durante os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kippur, o costume desenvolveu-se para usá-las nos dias anteriores também.
Selichot, estas orações por perdão, são orações antigas que já eram mencionadas na Mishná.
A Mishná descreve os dias públicos de jejum e a ordem da oração para tais ocasiões, apresentando uma série de exortações que terminam com as palavras “Ele nos responderá”, relembrando os tempos na história judaica em que Deus respondeu àqueles que O invocaram.
O Tanna Debei Eliyahu Zuta, uma obra midrashica que data no máximo do século IX, menciona um serviço especial de perdão instituído pelo Rei Davi quando ele percebeu que o Templo seria destruído.
Davi perguntou à Adonai: “Como eles vão alcançar a expiação?” e lhe foi dito que o povo recitaria a ordem de Selichot e então seria perdoado.
Deus até mesmo mostrou a Davi que este ato de contrição incluiria uma recitação dos 13 Atributos da Misericórdia, uma passagem descritiva do Êxodo que expressa a natureza misericordiosa de Deus:
Adonai Adonai, El rachum v’chanun, Erech apayim v’rav chessed ve-emet; Notser chessed la-alafim, Noseh avon vapesha v’chata’ah v’nakeh.
Adonai, Adonai, Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado.
Em hebraico, selichot significa literalmente “perdão” e, de fato, há uma ênfase nessas orações nos atributos misericordiosos com os quais se diz que Deus governa o mundo.
De muitas maneiras, as orações que constituem o serviço de Selichot refletem o que encontramos no Dia da Expiação, que se segue logo depois.
A linguagem dessas qualidades deve soar familiar para qualquer pessoa que tenha recitado a liturgia durante todo o Yom Kippur, quando falamos sobre a capacidade de Deus de perdoar “transgressões, iniquidades e pecados”.
A tradição de recitar Selichot durante todo o mês anterior pode resultar do fato de que era costume jejuar seis dias antes de Rosh Hashaná.
Visto que as Selichot se originaram como orações para os dias de jejum, era natural que fossem recitadas nessa época.
As comunidades sefarditas começam a recitar Selichot no início de Elul, de modo que um período de 40 dias, semelhante ao tempo que Moisés passou no Monte Sinai, é dedicado a orações de perdão.
A prática entre os judeus Ashkenazitas é começar a repeti-las na noite de Shabat antes de Rosh HaShaná. No entanto, se houver menos de quatro dias entre o início de Selichot e Rosh HaShaná, as orações serão iniciadas na noite do Shabat anterior.
A conclusão do Shabat foi considerada particularmente propícia para essas orações de perdão, uma vez que marca o início de uma nova semana e a conclusão de um dia sagrado de descanso e estudo.
Embora o foco esteja na Selichot pré- e pós- Rosh HaShaná, devemos nos dar conta que existem versões de Selichot a serem ditas como parte do serviço matinal nos dias de jejum comunal de Tzom Gedaliah, 10 Tevet , Taanit Esther e 17 Tammuz (mas não em 9 de Av).
Uma vez que nossos Sábios não estabeleceram explicitamente a recitação das Selichot, consequentemente, Selichot carece de um padrão único, cada comunidade acrescentou seus próprios apelos e poemas.
No entanto, há uma estrutura geral usada em todas as comunidades, como aparece no siddur do Rabino Amram Gaon, com a recitação do Yud Gimmel Midot (Treze Atributos da Misericórdia) sendo o ponto focal da oração.
O efeito de um serviço Selichot pode ser bastante comovente. O simples encontro de pessoas em um momento em que geralmente estão dormindo é impressionante.
Sentimos a natureza extraordinária da oração e nos voltamos introspectivamente para dentro de nós.
As próprias orações são pedidos de misericórdia. As melodias são tristes e cheias de saudade. Devidamente cantadas, elas formam um oratório que expressa o desespero que acompanha a separação de Deus e o desejo de mudar e arrepender-se.
A auto depreciação contida nas palavras, que expressam o sentimento da fugacidade da vida, e o peso da vaidade que tanto motiva o que se faz, nos levam a refletir sobre como podemos quebrar o ciclo de nossas vidas e nos transformar para o Melhor. A possibilidade de mudança e de uma vida melhor é inerente a estas orações.
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