Cinema Cultura Leitura

Documentário sobre Maria Valéria Rezende mostra uma autora tão interessante quanto a sua obra

14/03/2023
Documentário sobre Maria Valéria Rezende mostra uma autora tão interessante quanto a sua obra | Jornal da Orla

“Mesmo que dê tudo errado, vai dar tudo certo” destaca andanças da autora, vencedora do Prêmio Jabuti

Autora de um dos conjuntos de obras mais consistentes da literatura brasileira, a escritora santista Maria Valéria Rezende é a protagonista do documentário “Mesmo que dê tudo errado, vai dar tudo certo”, que entra em cartaz em Santos nesta quinta-feira (16 de março), no Cine Arte Posto 4 (av. Vicente de Carvalho, s/n°) e fica até dia 22.

Realizado pela Atena Produções, o documentário dirigido por Laís Chaffe destaca as andanças da escritora como educadora popular, a riqueza das trocas com pessoas de variados cantos do mundo, seu ativismo, incluindo relatos de encontros com Fidel Castro, Frei Betto, bem como de momentos em que ajudou militantes contrários à ditatura civil-militar (1964-1985) a fugirem do país. “Mesmo que dê tudo errado, vai dar tudo certo” conta com animações de Tadao Miaqui, participações de várias escritoras e escritores, depoimentos de familiares e de pessoas próximas a Maria Valéria. Na trilha sonora, músicas dos paraibanos Chico César e Mestre Fuba; do santista Gilberto Mendes (1922-2016) —  um dos principais nomes da música contemporânea brasileira de vanguarda; e do gaúcho Leandro Maia.

O longa-metragem começou a ser rodado em Porto Alegre em outubro de 2018, quando Maria Valéria guiou a equipe pelos lugares que frequentou durante as pesquisas para o livro “Quarenta dias”, vencedor do prêmio Jabuti. No mesmo ano, seguiram-se filmagens em João Pessoa, Guarujá e em Santos, com montagem e finalização em 2022. O filme teve o apoio das produtoras Filmes de Junho, Preto Filmes, Café Cartum Filmes, Post Frontier, KF Studios, Raos, Moenda Arte e Cultura, assim como da Secretaria da Cultura da Paraíba.

O Cine Arte Posto 4 fica na Avenida da Praia , próximo ao canal 3. O ingresso custa R$ 3,00 (inteira). Estudantes, professores da rede estadual de ensino, maiores de 60 e menores de 18 anos, com apresentação de RG pagam a metade. Reservas, somente para o dia, podem ser feitas por telefone (13 3288 4009) — os ingressos ficarão disponíveis, em nome do solicitante, até 15 minutos antes do início da sessão.

Autora premiada

Maria Valéria Rezende publicou sua primeira obra (o livro de contos “Vasto mundo”) em 2001, aos 59 anos. Em poucos anos, passou a colecionar prêmios, como o Jabuti em 2009, na categoria literatura infantil, com “No risco do caracol”; em 2013, na categoria juvenil, com “Ouro dentro da cabeça”; e “Quarenta dias” nas categorias Romance e Livro do Ano de Ficção em 2015. Com o romance “Outros cantos”, levou o prêmio Casa de las Américas (Cuba, 2017), o Prêmio São Paulo de Literatura e foi finalista do Jabuti 2017.

Graduada em Língua e Literatura Francesa pela Universidade de Nancy e em Pedagogia pela PUC (SP), Maria Valéria é mestre em Sociologia (Universidade Federal da Paraíba) e uma das idealizadoras do movimento Mulherio das Letras, que teve sua primeira edição em 2017, na capital paraibana.

Maria Valéria Rezende nasceu em 1942 em Santos (SP), onde morou até os 18 anos. Em 1965 entrou para a Congregação de Nossa Senhora — Cônegas de Santo Agostinho. Integrou a direção nacional da Juventude Estudantil Católica (JEC) e abrigou na sua casa militantes que lutavam contra o golpe militar de 1964. Ainda na década de 1960, começou a trabalhar com educação popular, primeiro na periferia de São Paulo e, a partir de 1972, no Nordeste. Viveu no meio rural de Pernambuco e da Paraíba, mudando-se para João Pessoa em 1988. Percorreu vários países, em todos os continentes, fazendo formação de educadores populares e de lideranças de movimentos sociais.

 

A diretora de “Mesmo que tudo dê errado, já deu tudo certo (2022)”, Laís Chaffe, também coleciona uma série de prêmios como o com o documentário de média-metragem “Canto de cicatriz” (2005), Prêmio Direitos Humanos no Rio Grande do Sul/2005 (Unesco e Assembleia Legislativa), prêmios Galgo Alado de melhor vídeo independente brasileiro e melhor vídeo social no Gramado Cine Vídeo 2006, prêmio Destaque Feminino no II Festival Tudo Sobre Mulheres 2006 (Chapada dos Guimarães/MT), menção honrosa na 33 ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia/2006 e menção especial do júri da Federação Internacional dos Cineclubistas no II Festival Internacional de Atibaia (SP/2007).

Dirigiu e roteirizou os curtas-metragens “Um minuto de silêncio” (1994), “Identidade”(2002) e a série de curtas “Cidade Poema” (2009); é roteirista e produtora executiva do curta “Colapso” (2004). Publicou diversos livros, entre eles, “Segue anexa minha sombra” – prêmios Livro do Ano de Poesia da Associação Gaúcha de Escritores e de melhor livro de poemas da Academia Literária do Rio Grande do Sul. Foi diretora do Instituto Estadual do Livro do RS (IEL).

Publicou os livros “Na praça” (poemas infantis, 2022, editora Casa Verde), “com dedos e lábios roxos” (haicais, 2019, Class/Bestiário), “Segue anexa minha sombra” (poemas, 2018, Class/Bestiário – prêmios Livro do Ano de Poesia da Associação Gaúcha de Escritores e de melhor livro de poemas da Academia Literária do Rio Grande do Sul), “Carne e trigo” (poemas, 2012, Castelinho Edições), “Medusa” (poemas infantis, 2011, Casa Verde), “Minicontos e muito menos” (contos, 2009, Casa Verde), “Não é difícil compreender os Ets” (contos, 2002, AGE), além do e-book “Meias de náilon” (conto em e-book, 2017, Bestiário). Idealizou e está à frente do projeto de estímulo à leitura Cidade Poema e da editora Casa Verde. Participou de diversas antologias.  Entre 2012 e 2014, foi diretora do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul (IEL).