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“A morte e o meteoro”, o macabro exílio de um misterioso povo indígena

23/11/2022
“A morte e o meteoro”, o macabro exílio de um misterioso povo indígena | Jornal da Orla

Uma trama macabra costurada por misticismos e segredos, um clima quase permanente de terror, desagregações sociais que culminam numa tragédia total. Encoberto por uma aura tormentosa, A morte e o meteoro é um livro que se destaca pelo distópico enredo talentosamente conduzido pelo seu criador.

São cinquenta indígenas da misteriosa tribo kaajapukugi, os últimos de seu povo. Cinquenta homens: já não há crianças ou mulheres. A Amazônia acabou. Foi o primeiro caso da história em que um povo originário pediu asilo político noutro país. Em uma operação governamental sem precedentes, inicia-se o desventuroso degredo para o México aos cuidados do dedicado sertanista Boaventura. Contudo, em meio a arrepiantes eventos, Boaventura morre e caberá ao narrador do livro concluir a missão.

O leitor, ao mesmo tempo em que se verá enfeitiçado pela desgraça particular de Boaventura, contemplará o apocalipse na apoteose final. Nela, o Grande Mal paradoxalmente venceu e foi vencido. Um livro-pesadelo de sombria beleza.

Motivos para ler:

1- Joca Reiners Terron, cuiabano radicado em São Paulo, integra a revoada dos grandes escritores brasileiros contemporâneos. Além de romances (p. ex., Do fundo do poço se vê a lua, vencedor do Prêmio Machado de Assis), o escritor já entregou poemas no seu O sonâmbulo canta no topo do edifício em chamas. Uma carreira que vale a pena acompanhar de perto;

2- Apesar de não envergar caráter panfletário (o livro existe e se distingue pela brilhante estória tocada com mão de maestro), evoca-se uma questão importante: o drama vivido pelos povos originários. Garimpeiros, madeireiros e latifundiários, ao menos nos últimos 4 anos, praticaram atrocidades sobre aldeias indígenas no Brasil, com a leniência – senão criminosa colaboração – de agentes governamentais. Oxalá as coisas mudem e os indígenas recebam o respeito e proteção que são a eles garantidos pela Constituição;

3- Índios, anarquia, política, misticismo, uma missão espacial chinesa à Marte, insetos alucinógenos, terror, desastre. Tudo isso – e mais – foi enredado em A morte e o meteoro, um livro marcado sobretudo pela originalidade.

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