Jornalista resgata história da “arte marginal” entre 1979 e 1984
O jornalista, poeta e escritor santista Raul Christiano lança neste sábado (10) o livro “Coletânea Picaré – 40 Anos de Poesia & Artes”, que resgata a história de um dos mais importantes grupos culturais de Santos e região, entre os anos de 1979 e 1984.
Editada pela Realejo Livros, a obra será lançado no Espaço Cultural da Pinacoteca Benedicto Calixto (Avenida Epitácio Pessoa, 100 – Boqueirão). Esse é o oitavo livro de Raul, que vinha pesquisando e escrevendo essa obra desde 2009, sobre o Grupo Picaré, no movimento cultural de Santos e região, entre os anos de 1979 e 1984.
A “Coletânea Picaré” é o retrato de uma época em que o Brasil ainda vivia sob governos da ditadura militar e os artistas tinham dificuldades não só de expressar as suas opiniões, mas também de publicar e divulgar as suas criações nos meios tradicionais de comunicação. A censura política era implacável e os artistas de Santos, a exemplo do eixo Rio- São Paulo, furavam os bloqueios com edições alternativas e marginais do sistema vigente, com livros, jornais e revistas mimeografadas e independentes.
Raul Christiano estudava jornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Santos (FACOS/UNISANTOS) e tomou a iniciativa de criar o Grupo Picaré, em junho de 1979, contando imediatamente com o apoio e envolvimento dos colegas Rafael Marques Ferreira (jornalismo) e Inês Bari (publicidade). Os três planejaram a atuação do coletivo que logo atraiu para a participação, poetas, escritores, músicos, fotógrafos, cartunistas, escultores, artistas visuais etc., escrevendo manifestos contra o marasmo cultural em Santos e defendendo o foco nos valores e linguagens caiçaras. O próprio nome do grupo (Picaré) é uma expressão local para as redes de pesca de arrasto, que eram permitidas para a utilização nas praias santistas e do litoral.
Durante a existência do grupo, 56 artistas foram publicados ou colaboraram nas suas edições de jornais e revistas; 38 deles foram resgatados com seis páginas para cada um, sendo uma com uma biografia sintética e as outras cinco com textos ou trabalhos visuais deles. Nesse novo livro, Raul Christiano contextualiza a existência do grupo na época, discorrendo sobre a temperatura política ditatorial, os movimentos artísticos e estudantis, as referências de Santos na literatura nacional desde o movimento modernista, fazendo uma retrospectiva da existência da imprensa alternativa e manifestações inclusive com pichações de muros com poesias, letras de músicas e protestos contra o regime.
Raul Christiano destaca que a ideia de fazer esse registro, num encontro de alguns membros do grupo e o editor José Luíz Tahan, em 2009, na Livraria Realejo, obrigou-o a uma viagem não só na história dos fazedores de cultura em Santos, mas precisou percorrer as próprias almas e transformações pessoais de cada um: “Naqueles nossos anos dourados, tínhamos em média 20 anos de idade, carregados de sonhos e objetivos comuns. A volta da democracia e as liberdades de expressão nos uniam sob o Grupo Picaré, mas lá se foram 40 anos e cada um seguiu caminhos diferentes. Reunir a maioria dos 56 neste livro, foi uma tarefa árdua e carregada de muita paixão pelo desafio a que me impus.”
A “Coletânea Picaré – 40 Anos de Poesia & Artes” resultou em 326 páginas, que estarão disponíveis a todos, a partir de agora, nesse livro, que custará no lançamento e nas livrarias, R$ 79,90.
