A história é contada pelos vencedores, mas tudo pode ser dito de outra maneira.
Veias abertas da América Latina foi lançado em 1971. Em 2010, Galeano prefaciou a tradução de seu livro para o português e lamentou sua atualidade: os países do sul continuam subjugados por interesses supranacionais; ontem europeus, hoje norte-americanos. Mas que ninguém se engane: a pobreza não foi escrita nas estrelas, o subdesenvolvimento não é fruto de um desígnio obscuro de Deus. É o que Galeano quis contar com este seu clássico: nada é por acaso.
O escritor encarou nos olhos o colonialismo latino-americano e seguiu até a Idade Contemporânea para, em tons macabros, contar o tormento de todo um povo: a espoliação de insumos até a escassez, os genocídios dos nativos, a escravidão e a posterior dominação político-econômica (neocolonialismo) orquestrada pelo capital estrangeiro.
Galeano abriu as entranhas deste continente para nos revelar sua terrível sina: o subdesenvolvimento da América Latina nunca foi uma etapa para o desenvolvimento, mas um projeto permanente manipulado pelo estrangeiro. Correm nas veias destas terras toda a dor, e pelos escombros ainda ecoa a voz profética de Simón Bolívar: “nunca seremos felizes”.
Motivos para ler:
1- Eduardo Galeano (1940-2015) foi um escritor que rompeu barreiras. Não se cataloga o uruguaio numa chave literária: narração, romance, poesia e crônica se fundem num estilo único. Sempre será o cidadão nº 01 da América Latina;
2- Os modos de interferência estrangeira na soberania dos países do sul impressionam. Mais do que um jogo econômico, sempre houve atuação direta norte-americana para formar governos servis. Por aqui, a ditatura militar golpista – comprovadamente apoiada pelos EUA – permitiu a prática de múltiplas receitas do FMI que arrasaram a economia brasileira e elevaram fortemente a desigualdade. Os militares entregaram o país com mais de 200% de inflação;
3- Ler causa um efeito devastador: acaba com a ingenuidade. Desconfie quando um governo latino-americano se coloca contra o Mercosul (por todos, Paulo Guedes), contra os direitos de seus povos primitivos (lembremos Jair, histérico, gritando que índios não teriam terra demarcada) e desnacionaliza setores estratégicos. Tudo isso, além de antipatriótico, pode representar subserviência. É preciso abrir os olhos.
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