Clara Monforte

Olhos nos olhos com Marcelo Noronha Rezende

20/03/2021
Olhos nos olhos com Marcelo Noronha Rezende | Jornal da Orla

MARCELO NORONHA REZENDE é um ótimo médico e diretor presidente da empresa HQI Saúde (Home Care). Foi infectado pelo Corona Vírus, com tanta gravidade que ficou internado na UTI, durante 50 dias. Se para qualquer pessoa já é terrível, imaginem para um médico, consciente de todas as consequências que poderiam advir! Muito querido por todos, com fé e esperança guerreou, venceu a batalha e vai nos contar um pouco dessa trajetória.

 

1. Como você está, depois de passar por uma fase tão difícil?

Estou bem. A recuperação é lenta, mas progressiva. Exige muita força de vontade para fazer os exercícios físicos e respiratórios todos os dias. E tem também que cuidar do psicológico.

 

2. Como foi essa experiência, ainda mais você sendo médico, conhecendo todas as consequências da doença?

Foi muito ruim. Dos 50 dias que fiquei na UTI, parte estava sedado e parte acordado. Mesmo sedado tinha muitos pesadelos e quando acordado, tudo era muito ruim. Não tinha forças pra nada e ficava praticamente imóvel. Sendo médico, sabia de todos os riscos que corria, principalmente com a entubação. 

 

3. Quais os principais sintomas que sentiu antes da internação e depois de quantos dias foi internado?

Eu comecei com dor no corpo e febre. Perto do nono dia de evolução, começou a falta de ar. Foi quando fui hospitalizado no Hospital Oswaldo Cruz, em SP. Graças a Deus, fui tratado de forma extremamente profissional e carinhosa pela equipe do Dr. Erico Oliveira.

 

4. Qual o percentual do seu pulmão foi atingido?

Oitenta por cento.

 

5. Quais as maiores consequências de ficar 50 dias na UTI?

A atrofia muscular é muito grande. Dos 20kg que perdi, 90% foi muscular. Você tem que, praticamente, reaprender a andar. A lesão pulmonar também deixa sequelas que vão regredindo com o passar do tempo, mas muito lentamente.

 

6. E quando você acordou, como foi?
Fui acordando lentamente da sedação profunda, muito confuso e sem entender direito o que estava acontecendo.

 

7. Sentiu medo de morrer?

Senti sim. Medo de nunca mais ver meus filhos e minha esposa. Mas é este medo que me fez lutar com todas as forças que me restaram e vencer.

 

8. O que mudou em você, após esse período?

Muita coisa. Valorizar as pequenas coisas. Dar muito mais valor aos momentos de lazer com os amigos e a família e um desejo ainda maior de ajudar quem precisa.

 

9. E na sua vida, mudou alguma coisa?

Sim. Durante esses três primeiros meses me afastei do trabalho em minha empresa. Voltei há duas semanas e retornarei ao consultório em abril. Mas daqui pra frente, mais importante do que trabalhar é viver.

 

10. Você percebeu o quanto é querido por todos os amigos?

Muito. Muito mesmo. Tenho a sensação de que nunca conseguirei agradecer o suficiente. Mas preciso registrar que, principalmente neste período de recuperação, a Flávia (minha esposa) foi e está sendo incrível. Sem palavras.

 

11. Uma mensagem para quem ainda não teve Covid.

Tomem todos os cuidados. Máscara, higiene adequada, evitar aglomerações, mas, se alguém pegar a doença não entrar em desespero porque mais de 90% dos casos evoluem sem necessidade de hospitalização. Agradeço a Deus todos os dias pela segunda chance que recebi. Fé e esperança andam juntas e são armas poderosas.


FUNÇÃO OU MISSÃO? 

Por falar em entidades carentes, vale lembrar as dificuldades que estão enfrentando, há um ano. Claro que todas precisam de ajuda, sempre. Imaginemos, então, nesse período em que a situação, de uma maneira geral, está bem pior. Aqueles que dedicam boa parte de suas vidas a fazer o “bem”, na minha opinião, estão cumprindo a “missão” que lhes foi conferida. Mas não é fácil. 

As promoções sociais que organizam, ajudam em muito a manutenção das instituições. Há um ano estão proibidas. O fechamento do comércio inviabiliza a colaboração de muitos empresários e comerciantes. O incentivo do Poder Público é insuficiente.

Cabe a nós, então, fazermos a nossa parte e, de uma maneira ou de outra, voltarmos o nosso olhar para quem precisa. Precisamos sair da área de conforto e apoiarmos os projetos beneficentes!


Confira galeria de fotos desta coluna.

 

Incertezas na vida

Há pessoas, entre as quais eu me incluo, que são oito ou oitenta. Assim: vão ou ficam; calam ou gritam; amam ou não amam; brigam ou ignoram. Esse grupo não tem meio termo e não suporta incertezas.

No momento que estamos passando, gostaríamos de poder dizer que as coisas estão bem, mas na verdade só vemos incertezas. Não sobre nossos sentimentos. Refiro-me ao todo. E assim, pensamos que o certo é incerto ou que o incerto é certo. É o mesmo que estarmos em alto mar, sem a menor garantia. Um dia sorrimos, choramos no outro, e em alguns, apenas enxergamos um enorme vazio. A sensação é muito ruim. Nós temos medo de perder alguém que amamos, do mesmo modo que temos medo de perder a batalha que estamos travando. É claro que o certo seria termos apenas fé, mas como seres humanos que somos, fraquejamos na iminência da perda.

Na incerteza da vida, se perdermos o chão, temos que preparar as asas para aprendermos a voar e optarmos por sempre tentarmos, ouvindo o nosso coração. E assim, na certeza da incerteza, vamos levando a vida!