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Até breve João Gilberto

13/07/2019
Até breve João Gilberto | Jornal da Orla

Infelizmente no último sábado, dia 06 de julho de 2019, foi confirmada a morte do genial João Gilberto. Ele que foi sem nenhuma dúvida, o grande arquiteto da Bossa Nova.

 

Quando ele gravou o clássico “Chega de Saudade” em 10 de julho de 1958, com apenas 27 anos de idade, há exatos 61 anos, a Bossa Nova ganhou a sua certidão de nascimento.

 

Depois desta gravação, a música popular brasileira nunca mais foi a mesma. Temos o período da nossa música marcado em antes e depois de “Chega de Saudade”, gravada de forma mágica e definitiva por João Gilberto.

 

Sua influência musical vai muito além das nossas fronteiras. Ele quebrou paradigmas e até os dias de hoje continua influenciando gerações e mais gerações de músicos.

 

A sua batida no violão é absolutamente mágica e surpreendente. Ao lado de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e todos os outros da turma já conhecidos, revolucionou a cultura.

 

Sou um admirador contumaz do trabalho musical executado pelo contrabaixista, jornalista, musicólogo, radialista, pesquisador, crítico e produtor Zuza Homem de Mello, uma das maiores referências do assunto música deste planeta e que, assim como eu, tem muita música nas veias. 

 

Zuza escreveu vários livros essenciais e com o conhecimento de poucos, teve a coragem de escrever em 2001, pela Editora Publifolha, da coleção "Folha Explica", um livro sobre a obra musical do cantor e violonista João Gilberto, marcando as comemorações dos seus 70 anos de vida, completados na época do lançamento. Dividido em 13 capítulos e 128 páginas deliciosas, o livro, que não é e nem pretende ser uma biografia, aborda vários aspectos muito interessantes deste personagem da nossa música, que é cercado de lendas, mistérios e uma genialidade absurda. 

 

O autor investiga, e traduz, através das suas palavras, o caráter único e diferente do músico.  Zuza conta que a gravação de "Desafinado" foi um marco na carreira de João Gilberto e no movimento da Bossa Nova (esta canção lançou uma nova forma de se ouvir e interpretar a MPB e que resultou na Bossa Nova), embora considerando que ela não é a mais perfeita. Para o autor, a mais perfeita canção da Bossa Nova é "Samba de Uma Nota Só". E, para encerrar, uma dica essencial do autor para que possamos absorver na totalidade a arte de João Gilberto: "Devemos ouvir a música de João pela primeira vez concentrando na voz. Depois, reouvir concentrando no violão. E, depois, reouvir pela terceira vez, concentrando na sonoridade da voz e do violão. Esse é o ponto crucial para se ouvir João Gilberto".  

 

João Gilberto vai deixar muita saudade e não tenho dúvidas que a sua música e genialidade permanecerão para sempre.

 

Um banquinho, um violão e uma saudade eterna do João, que nos deixou aos 88 anos! Nossa reverência!

 

 

João Gilberto – “Chega de Saudade”

Em 10 de julho de 1958, João Gilberto gravou o 78 rpm da gravadora Odeon, contendo de um lado, o tema "Chega de Saudade" e do outro, "Bim-Bom". E depois outro, com mais duas músicas, "Desafinado" e "Oba! Lá Lá".  

 

Meses antes, mais precisamente em abril de 1958, ele participou de forma definitiva do disco "Canção do Amor Demais", da cantora Elizete Cardoso. Ele tocou com seu violão em 2 faixas, "Chega de Saudade" e Outra Vez", apresentando sua batida característica e inigualável, quebrando definitivamente a estrutura do samba tradicional.

 

Porém, somente no mês de março do ano de 1959, João Gilberto lançou seu primeiro LP, também para o selo Odeon, "Chega de Saudade", que contou com a direção musical de Antonio Carlos Jobim e a produção de Aloysio de Oliveira. 

 

No disco foram aproveitadas as quatro gravações em 78 rpm, acrescidas de mais oito músicas, e destaco "Lobo Bobo", "Saudade fez um Samba", "Brigas Nunca Mais", "Aos Pés da Cruz" e "É Luxo Só", com a mesma levada sincopada de seu violão e com o seu estilo de cantar de forma intimista e anasalada, que marcou para sempre a sonoridade da Bossa Nova.  

 

Conta a lenda que o suéter usado por João Gilberto na foto da capa do disco era de Ronaldo Bôscoli e que nunca mais foi devolvido. Como destacou Tom Jobim: "quando João Gilberto se acompanha, o violão é ele".

 

O nosso Maestro Soberano disse mais: "um baiano Bossa Nova que influenciou toda uma geração de arranjadores, músicos e cantores". E que mudou as nossas vidas para sempre. Obrigado por tudo, João.

 

 

João Gilberto – “Amoroso”

Se você me perguntasse qual o disco de João Gilberto que mais me impressionou ou marcou, responderia, sem hesitar, que é o "Amoroso", originalmente lançado no ano de 1977 e, no formato de CD, 10 anos depois pelo selo Warner Bros. 

 

Lembro-me que a primeira vez que escutei o disco, no formato "bolacha", tinha uns 13 anos de idade e sempre o escutava por várias vezes. Primeiro o lado "A", depois o lado "B" e vice-versa. Foi um daqueles casos de amor à primeira audição. 

 

Sem dúvida, ele é um dos discos mais marcantes para ouvintes leigos como eu, e principalmente para vários músicos, que o consideram como referência, divisor de águas e muito mais. Um disco que se tornou uma obra universal. Merecidamente. 

 

Foi gravado no período em que João Gilberto ainda residia nos Estados Unidos e contou com um repertório bem eclético, que se encaixou com perfeição à voz e ao seu violão, que teve uma levada mágica, inconfundível e incomparável.  

 

Outro diferencial do disco que merece destaque, são os arranjos assinados pelo mestre Claus Ogerman (arranjador preferido de Tom Jobim), que trouxe uma ambiência musical exuberante de cordas. Sonoridade perfeita unindo uma afinada orquestra e uma cozinha jazzística com contrabaixo, teclados e bateria.  

 

E não é preciso nem dizer que João Gilberto arrebentou cantando em português, inglês, espanhol e italiano. 

 

Os temas "S'Wonderful", "Estate", "Tim-Tim por Tim-Tim", "Wave", "Triste" e "Caminhos Cruzados" (que virou um hino para mim) são as que merecem ser ouvidas com a máxima e especial atenção.

 

Pode ser Jazz, Samba, Bossa Nova, pouco importa, apenas música feita com muito amor e talento por este gênio que revolucionou a música popular brasileira.