O Brasil é um caldeirão de heranças gastronômicas dos povos que para cá vieram e a ceia de Natal está diretamente ligada à nossa formação. Levamos à mesa alimentos calóricos e pesados que não são adequados ao clima insuportavelmente quente desta época do ano no país, mais um bom motivo para evitar excessos no garfo e no copo.
Por meio da colonização, a cultura portuguesa foi o ponto de partida, mas os alimentos que hoje fazem parte da ceia brasileira têm diversas origens. Raros são os pratos que, de fato, nasceram em solo tupiniquim.
Com uma mesa farta de alimentos calóricos, ricos em gordura, sal e açúcar, fica difícil manter uma dieta saudável. A situação é ainda mais complicada para quem possui alguma restrição alimentar ou convive com doenças cardíacas, diabetes ou colesterol alto. Porém, é possível fazer uma ceia equilibrada sem precisar abrir mão do sabor ou passar vontade. A palavra é moderação.
Peru
Um dos pratos mais famosos da ceia de Natal, o peru assado é uma herança dos índios da América do Norte. A ave foi levada para o velho continente e em pouco tempo substituiu o cisne, o ganso e o pavão como ave oficial da ceia natalina. “O peru é considerado uma carne magra, mas a versão com o tempero pronto pode exceder o limite de sódio de 2g indicado por dia, contribuindo para elevação da pressão arterial”, alerta o cardiologista Diego Garcia.
Panetone
Uma das histórias mais aceitas é a de que o primeiro panetone saiu de um dos fornos das padarias de Milão, em meados de 1400 d.C. Após passar por diversas transformações ao longo dos séculos, o ”pão do Toni” ganhou o seu aspecto atual no século 18, com o formato circular e a disposição das frutas cristalizadas. Há hoje muitas variações da guloseima, com chocolate, sorvete e outros ingredientes que o tornam ainda mais delicioso, mas elevam o valor calórico do alimento.
Nozes e castanhas
A associação entre o Natal e as nozes remonta às espécies de nogueira nativas da Europa e Ásia, que dão frutos no fim do outono e começo do inverno. Devido à facilidade de seu armazenamento e valor calórico, acabaram se tornando alimentos bastante consumidos para quem pretende suportar temperaturas extremamente baixas. As oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas, avelãs) são ótimas fontes de gorduras boas, vitaminas e minerais, mas em grande quantidade elas podem ocasionar ganho de peso, por isso a recomendação é de apenas um punhado por dia.
Bolinho de bacalhau
Clássico da mesa de Natal das famílias descendentes de portugueses, o bolinho de bacalhau feito com batata e lascas do peixe já era consumido em larga escala há pelo menos dois séculos. A limitação neste caso é pela fritura usada no seu preparo.
Frutas
Servir frutas e usá-las para decorar a mesa natalina é uma das variações de um costume adotado na Roma antiga para homenagear o “solstício de inverno” – a noite mais longa do ano, quando a Terra atinge o ponto mais distante do sol. Para a sobremesa, as frutas frescas são sempre são as melhores opções por terem poucas calorias e fornecerem diversos nutrientes para o nosso corpo.
Leitão assado
Homens assam leitões em ocasiões especiais desde a fundação do Império Romano. Porém, o comércio desses animais só teve inicio no século 8, devido provavelmente a uma superpopulação em diversos pontos da região conhecida hoje como Península Ibérica e também da Itália. Por conter muita gordura acumulada, geralmente o suíno era consumido no inverno, quando as pessoas precisavam de uma alimentação mais forte. O cardiologista Diego Garcia recomenda, entretanto, que se dê preferência para assados e grelhados, se possível sem a pele.
Rabanada
Seus primeiros registros históricos são datados do século 14, em Portugal. Como o bolinho de bacalhau, o doce feito com pão, leite e ovo envolve fritura no seu preparo e açúcar com canela na finalização. O que significa consumir com moderação.
Salpicão
Um dos raros pratos da ceia do brasileiro que, de fato, nasceram em solo tupiniquim. Entre as variações conhecidas ao paladar brasileiro, os ingredientes que correntemente são atribuídos ao prato são: maionese, cenouras, batatas, pimentão de varias cores, carne de frango ou peru, salsão e pimenta, além de frutas como abacaxi, maçã verde e uva-passa. É preciso cuidado com a conserva devido à maionese.
Para substituir o bacon na farofa é possível utilizar amêndoa, que além de ser fonte de vitaminas e fibras, ela ainda é capaz de reduzir os níveis do colesterol ruim e elevar o colesterol bom no sangue.
ESCOLHAS SAUDÁVEIS
Em meio a tanta fartura à mesa, ainda é possível consumir pratos saudáveis? Para não descompensar sua saúde e nem brigar com a balança depois, a médica Louise Soares, especialista em emagrecimento e adequação nutricional, listou algumas dicas que permitem comer de tudo um pouco, mas de forma equilibrada.
– Separe as refeições no dia do Natal e Ano Novo para consumir alimentos e pratos típicos.
– As fibras ofertadas por vegetais, por exemplo, fornecem saciedade e amenizam aquela fome de leão. Durante o dia, queimamos mais calorias do que à noite. Por isso, na ceia, prefira as proteínas e as gorduras. Deixe os carboidratos e os doces para o almoço do dia seguinte. E ainda, não exagere no consumo de bebidas alcoólicas.
– Nas refeições de rotina, coma vegetais, proteínas e gorduras saudáveis. Deixe as guloseimas apenas para momentos de confraternização e os dias de festa.
– A vida não vai acabar em dezembro, então não se esqueça da sua meta. Se você quer emagrecer cinco quilos, não vai querer entrar o ano tendo que eliminar 8.
– Se você já está feliz com sua saúde e sua forma, pense duas vezes antes de comer. Faça boas escolhas.
MONTE GRUPOS ALIMENTARES
Para que ninguém fique com peso na consciência por ter castigado o organismo com exageros, a nutricionista Vânia Barberan sugere que as ceias sejam planejadas com base nos grupos alimentares. Isso significa que, em vez de preparar três tipos de carnes, dois de arroz e quatro sobremesas, melhor escolher um tipo de cada coisa, para poder provar de tudo com moderação sem sentir culpa (ou azia) depois.
Carnes
Peru, chester, tender. Esses são os três tipos de carne que costumam reinar nas festas de fim de ano, mas a nutricionista afirma que não é necessário fazer todos de uma vez, para não haver um excesso de proteínas no menu. Carnes de porco, como pernil e lombinho, e a bacalhoada podem ser uma forma de variar o cardápio.
Usar tempero caseiro e evitar óleo
Na hora de preparar as carnes e outros alimentos da refeição, Vânia também recomenda não comprar as opções já temperadas, pois os temperos naturais são mais saudáveis. Alguns deles são: alho, vinho branco, suco de laranja, cravo, ervas e especiarias mais fortes. Assar sem óleo é o mais adequado, já que o molho do tempero serve para ajudar no cozimento e na hora de dourar a carne.
Trouxinhas de legumes
Quando a carne já estiver dourando, é possível usar o calor do forno para assar trouxinhas de legumes, como inhame, batata-doce, abóbora, brócolis e couve-flor temperados com azeite, alho e sal, e envoltos em papel-manteiga e papel alumínio. Segundo ela, é importante não colocar o metal diretamente no alimento para não haja transferência da substância para o alimento. Além das trouxinhas, ainda dá para fazer saladas de grão-de-bico, de lentilha ou feijão branco.
Arroz
Com tantas opções no cardápio, quanto mais simples o arroz, melhor. Mas, se quiser deixar o prato diferente, pode acrescentar passas e azeitona depois de o cereal ficar pronto. Como os carboidratos já estarão representados pelo arroz, o ideal é que a batata seja acompanhada de leguminosas ou frutas, pois o prato fica enriquecido.
Farofa
Outro item indispensável das ceias, a farofa pode ficar ainda mais interessante para o organismo, caso seja usado azeite no lugar da margarina em seu preparo, para reduzir a quantidade de gorduras. A mistura da farinha de mandioca com algumas colheres de farinhas de aveia e de linhaça faz ainda com que a quantidade de nutrientes aumente, já que elas são ricas em fibras, vitaminas, proteínas e ácidos graxos, como o Ômega 3.
Castanhas na casca
As castanhas são uma tentação traiçoeira, principalmente para aqueles que não prestam muita atenção nas quantidades consumidas e que adoram beliscar até a hora da refeição principal. Para evitar que esses abusos aconteçam, Vânia afirma que é válido comprá-las com casca e não salgadas. Assim, diante da dificuldade de quebrar o invólucro de uma noz, por exemplo, a chance de uma pessoa querer comer demais é menor.
Na sobremesa, menos leite-condensado e creme de leite
Fora o tradicional panetone, as sobremesas costumam ser uma bomba de leite-condensado e creme de leite. Isso, claro, não é recomendado pela nutricionista. Apesar de não serem proibidos, esses ingredientes devem ser usados com moderação e, sempre que possível, e importante usar frutas nos doces.
Moderação no sal, açúcar e álcool
Quando o assunto é a saúde do coração, é preciso moderar no sódio, mas também reduzir o consumo de açúcar e álcool. O excesso de açúcar pode resultar em diabetes, obesidade e aumentar o nível de triglicérides, três fatores de risco que estão associados às doenças cardiovasculares.
A melhor opção seria tentar fazer escolhas mais saudáveis, como frutas ou fugir de sobremesas industrializadas, mas para aqueles que não conseguem abrir mão dos doces, a principal dica é buscar moderação.
“Ninguém precisa deixar de comemorar com prazer a data tão importante. Dá para preparar uma ceia, saudável, equilibrada e deliciosa”, comenta a nutricionista Rosana Perim, gerente de nutrição do HCor.
Para tentar amenizar os efeitos no organismo, ela recomenda controlar o consumo de alimentos industrializados ricos em sódio, açúcar e gorduras, que aumentam a retenção de líquidos e dificultam a digestão, e inserir na ceia frutas, verduras, carnes magras, grãos, carboidratos integrais e muita hidratação.
O consumo exagerado de bebidas alcoólicas também pode contribuir com o aumento do peso, principalmente as destiladas que são mais calóricas. “Uma dica são as águas aromatizadas com pedaços de frutas ou ervas. São menos calóricas e boa opção para refrescar os dias e noites quentes”, orienta a nutricionista.