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60 anos de bossa nova

07/07/2018
60 anos de bossa nova | Jornal da Orla

Em 10 de julho de 1958, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente nos estúdios da gravadora Odeon, localizado na Cinelândia, o genial violonista e cantor João Gilberto revolucionou a Música Popular Brasileira.
Neste dia, ele gravou o seu primeiro 78 rotações, acompanhado pela Orquestra liderada por Antonio Carlos Jobim, cantando com seu violão, “Chega de Saudade” no lado A e “Bim Bom” no lado B.

 

Como muito bem fundamenta meu querido amigo Carlos Alberto Afonso, dono da Toca do Vinicius, localizada no bairro de Ipanema, “está aí o primeiro documento fonográfico com o quadro estético da Bossa Nova, em gravação de seu próprio formulador, João Gilberto, acompanhado de seu co-arquiteto Tom Jobim, materializado pela canção”.

 

O disco foi lançado em agosto de 1958 e sem dúvida alguma, esta gravação de “Chega de Saudade”, deu origem ao que chamamos de Bossa Nova, hoje de caráter universal, portanto patrimônio cultural da humanidade.

 

É bom destacar também, que o mesmo samba de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes já havia sido gravado alguns meses antes, no também importante LP “Canção do Amor Demais”, da cantora Elizete Cardoso.

 

Naquele disco, as músicas “Chega de Saudade” e “Outra Vez”, contaram com a mágica levada no violão de João Gilberto e ali já pudemos constatar o que ele era capaz de fazer.

 

No ano seguinte, em 1959, João Gilberto lançou finalmente seu primeiro LP como líder e o nome não poderia ser outro, “Chega de Saudade”. Depois disso, a música brasileira nunca mais foi a mesma.

 

O cenário e a ambientação para tanta inspiração não poderiam ser mais perfeitos: a incrível década de 50, a belíssima orla da praia da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, o incrível “Beco das Garrafas”, os diversos bares localizados na zona sul, sempre oferecendo uma excelente música ao vivo, os seus hotéis, sua boêmia, sua gente, seus músicos e artistas. 

 

E neste momento de questionamentos dos valores morais e éticos, de uma intensa crise política e social que estamos passando na atualidade, a Bossa Nova é a prova de que o Brasil pode dar certo.

 

Na verdade, ela deu muito certo e levou o nome do nosso país para todas as partes do planeta e por incrível que pareça, apesar da pouca repercussão da mídia, continua até os dias de hoje, sendo admirada, cultuada e recriada. É nossa, genuinamente brasileira, digna de um orgulho enorme.

 

Pode ser definida simplesmente, como forma de execução do samba e sua batida característica é atemporal, imortal, capaz de preencher nossas almas e corações, de uma infinita alegria.

 

Parabéns Bossa Nova, sempre nova até no nome. E principalmente na sua essência, que se renova a cada dia.

 

Vamos celebrar os 60 anos joviais da Bossa Nova! Neste seu dia de história, comemorado em 10 de julho de 2018 e em todos os dias! Para sempre Bossa Nova!

 

 

Elizete Cardoso – “Canção do Amor Demais”

 

Para muitos este disco pode ser considerado como o “marco zero” da Bossa Nova. 

 

O que deu origem a tudo que se sucedeu e que até os dias de hoje está em evidência. Reuniu as composições da dupla, bem nova e desconhecida na época, Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes e foi lançado em abril de 1958.

 

Além da cantora Elizete Cardoso, na época dona de um grande prestígio, outra figura muito importante e determinante para a criação do gênero, também participou do disco: João Gilberto tocou pela primeira vez seu violão com a sua batida característica e inigualável em duas faixas do disco, “Chega de Saudade” e “Outra Vez”.

 

Tudo mudaria dali por diante, quebrando definitivamente a estrutura do samba tradicional.

 

O LP “Canção do Amor Demais”, título dado por Irineu Garcia, dono da pequena produtora de discos Festa e idealizador do projeto, é considerado como um dos discos mais importantes da nossa MPB e pode ser considerado como o primeiro “songbook” brasileiro.

 

E para realizar o projeto, Tom, Vinícius e Elizete, se reuniram em Ipanema no apartamento de Tom Jobim por várias noites e daí nasceu anos mais tarde a inspiração para a música “Carta ao Tom 74”, de Vinícius de Moraes, que dizia na sua letra: “Rua Nascimento Silva, cento e sete, você ensinando pra Elizete as canções do amor demais”.

 

O selo Biscoito Fino lançou em 2008, no formato de CD essa preciosidade, marco da história da Bossa Nova.

 

 

João Gilberto – “Chega de Saudade”

 

Como mencionei no Editorial, em agosto de 1958, João Gilberto lançou o 78 rpm da gravadora Odeon, contendo de um lado, o tema “Chega de Saudade” e do outro, “Bim Bom”.

 

Meses depois, lançou outro 78 rpm com mais duas músicas, “Desafinado” e “Ôba Lá Lá”.

 

Nos 2 discos, com a mesma levada sincopada de seu violão e com o seu estilo de cantar de forma intimista e anasalado, que marcou a sonoridade da Bossa Nova.

 

No mês de março do ano de 1959, João Gilberto lançou seu primeiro LP, também para o selo Odeon, intitulado “Chega de Saudade”, que contou com a direção musical de Antonio Carlos Jobim e a produção de Aloysio de Oliveira.

 

No disco foram aproveitadas as 4 gravações feitas em 78 rpm, acrescidas de mais oito músicas e destaco “Lobo Bobo”, “Saudade fez um Samba”, “Brigas Nunca Mais”, “Aos Pés da Cruz” e “É Luxo Só”.

 

Diz a lenda que o suéter usado por João Gilberto na foto da capa do disco era de Ronaldo Bôscoli e que nunca mais foi devolvido.

 

E como destacou Tom Jobim: “quando João Gilberto se acompanha, o violão é ele”.  E disse mais: “um baiano Bossa Nova que influenciou toda uma geração de arranjadores, músicos e cantores”.

 

E que também transformou as nossas vidas para sempre. Obrigado por tudo, João Gilberto, grande arquiteto da Bossa Nova.