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Vinícius de Moraes e o Jazz

19/09/2016
Vinícius de Moraes e o Jazz | Jornal da Orla
No dia 19 de outubro, iremos comemorar mais um aniversário de nascimento de Vinicius de Moraes, poeta, diplomata, jornalista, compositor e intérprete da MPB e um dos criadores da Bossa Nova.
 
Por mais estranho que possa parecer, o saudoso poetinha teve uma intensa relação de amor com o Jazz, quando viveu nos Estados Unidos, mais precisamente em Los Angeles, entre os anos de 1946 e 1951, exercendo funções diplomáticas, como vice-cônsul, e de lá escrevia textos e artigos muito interessantes para as revistas e jornais brasileiros, falando sobre a sua descoberta pelo gênero. 
 
Para descrever este período ainda pouco conhecido da vida de Vinicius de Moraes, foi lançado o livro “Jazz & Co.”, pela Editora Companhia das Letras e que contou com a organização, prefácio e notas do competente Eucanaã Ferraz. O formato do livro, que lembra um disco “compacto simples”, traz também belas fotos e um ousado projeto gráfico, que surpreende pelo bom gosto. 
 
Dividido em 3 partes: “Jazz Jazz” (melhor parte do livro e a mais extensa com vários textos importantes), “Jazz & Cinema” (uma compilação de suas resenhas sobre os musicais da década de 40 que tinham o Jazz como base de suas músicas) e “Jazz & A América” (composta apenas de poemas), o livro, nas suas 152 páginas, nos leva a uma deliciosa viagem pelo tempo, ao lado deste ser humano genial que escreveu sobre a turma do cinema de Hollywood e sobre o pessoal do Jazz. Uma reunião muito interessante de textos, reportagens e poemas, inclusive, com alguns inéditos. Ele escreveu com absoluta propriedade, afinal, pode vivenciar ao vivo, nos bares e casas de shows mais importantes da época, grandes momentos musicais. Ele, literalmente, bebeu na fonte e teve a sorte e a competência (pois estava no lugar certo, na hora certa), podendo conhecer vários personagens importantes. E Vinicius foi um dos primeiros a falar de Jazz no Brasil e conseguiu traçar rotas paralelas por onde andaram o Jazz e a Bossa Nova.
 
Seus amigos: o cineasta Orson Welles, Carmen Miranda, o trompetista e cantor Louis Armstrong (seu grande ídolo), a cantora Sarah Vaughan, que estava no início de carreira, e por lá, pôde acompanhar o nascimento do “Bebop” e do “West Coast Jazz” e ouvir por repetidas vezes, apresentações da cantora Billie Holiday E a sua definição sobre Jazz, dada no início dos anos 50, é muito interessante: “Jazz, de início, é tudo o que não é Bing Crosby, Frank Sinatra, Doris Day (…) Jazz, por outro lado, é qualquer coisa que saia do trompete de Louis Armstrong ou de suas cordas vocais. É qualquer trecho de qualquer peça do criador do boogie, o fabuloso Jimmy Yancey. É a clarineta do George Lewis, é o piano do imortal Jelly Roll Morton, a bateria do telúrico Zutty Singleton. Jazz, minha amiga, é justamente esse galo que você ouviu cantar e não sabe onde”.
 
Um ponto curioso que me chamou à atenção é o fato de Vinicius de Moraes não gostar de George Gershwin, um dos compositores mais importantes de todos os tempos e curiosamente um dos preferidos do seu grande parceiro na Bossa Nova, Tom Jobim. E os amores na vida de Vinicius foram muitos e eternos enquanto duraram. Foi assim que ele nos ensinou. Para sempre, Vinicius. Para sempre, o Jazz. 
 
Ricardo Leão – “Rio Bossa Nova”
 
Uma das maravilhas lançadas recentemente pela Bossa Nova é o trabalho do pianista, tecladista, produtor, arranjador goiano e ex-engenheiro, radicado no Rio de Janeiro, Ricardo Leão, no formato CD/DVD (é obrigatório ter os dois), pelo selo MZA Music.  Justifico: o CD pelo repertório, arranjos e solos incríveis do pianista e dos seus convidados.  
 
E o DVD pela mesma trilha musical do CD, porém com o diferencial de conter imagens da cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro, em clipes de emocionar da primeira à última imagem. 
 
E a homenagem ficou ainda mais especial depois que a cidade do Rio recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.  O repertório do disco apresenta os clássicos “Rio”, “Corcovado”, “Samba de Verão”, que contou com a participação muito especial do piano elétrico inconfundível de Marcos Valle, “Garota de Ipanema”, “O Barquinho”, que teve a participação de Roberto Menescal, “Samba do Avião” e “Eu e a Brisa”, numa sensível e justa homenagem a Johnny Alf. 
 
Contou com as participações de André Vasconcellos no contrabaixo acústico, Marco Lobo na percussão (e que percussão), Zé Canuto nos saxofones, Márcio André no flugelhorn e trompete, Márcio André no trombone e Aldivas Ayres no trombone.  
 
Os arranjos são muito inspirados e a sonoridade do disco agrada em cheio. Como é gostoso todos estes clássicos com uma levada revigorada pelo talento de Ricardo Leão e seus parceiros.  E como ele mesmo destacou no CD, lembrando Jobim: “Minha alma canta”. Leve para casa o CD e o DVD. Você não vai se arrepender.
 
BeBossa, Roberto Menescal & Wanda Sá – ” A Galeria do Menescal”
 
A gravação deste CD aconteceu de forma inesperada e seguiu a ordem natural das coisas.  Foram vários shows por diversos palcos do país desde 2009, reunindo o grupo vocal carioca “a capella”, o sexteto BeBossa com Roberto Menescal e sua dedicada ex-aluna Wanda Sá.  A química foi tão intensa, que decidiram levar o show para o estúdio. A capa do CD é uma nítida reverência às capas antológicas do Selo Elenco, criadas com muita simplicidade pelo designer Cesar Villela e que se tornaram ícones de ousadia e criatividade. 
 
Foi lançado em 2011 pelo selo Sala de Som Records. O nome do disco foi
 
inspirado no local pitoresco do Rio de Janeiro, a Galeria Menescal, onde, coincidentemente, o querido “Menesca” morou por alguns anos.  Uma forma que o grupo vocal encontrou para homenagear os cinquenta anos de carreira deste que pode ser considerado como um dos principais personagens da Bossa Nova (como intérprete e compositor). 
 
As 14 músicas do disco são as principais do seu repertório, incluindo algumas boas surpresas.  As minhas eleitas são “Bênção Bossa Nova”, “Bye, Bye, Brasil”, o clássico cinquentão “O Barquinho”, “Rio”, “Agarradinhos” e mais “Eu Canto Meu Blues”, “Japa” e “Balansamba”. E como é bom saber que no Brasil temos grupos vocais de qualidade, seguindo o legado de Os Cariocas, atual Quarteto do Rio,
Quarteto Em Cy, MPB-4 e dos inesquecíveis The Hi Lo’s, The Four Freshmen, The Modernaires, L.A. Voices, The Manhatan Transfer e Take 6. E o BeBossa dá um verdadeiro show de interpretação vocal, ao lado do capitão do “Barquinho”, Roberto Menescal, e de Wanda Sá. Simplesmente, sensacional.