Ah, o café… Só de ler a palavra dá para imaginar o gosto na boca, lembrar do quente no paladar e o cheiro delicioso que fica no ar. No mundo, o Brasil é o país que mais consome e exporta a bebida. Devido a sua importância até os dias atuais, Santos realiza, pelo quinto ano consecutivo, o Festival Santos Café em diferentes pontos do Centro Histórico. De 5 a 9 de julho, o evento contará com gastronomia, arte, passeios e, claro, muito café.
A relação do brasileiro com a bebida pode ser considerada singular, pois nela há a memória emotiva que faz o café ir muito além de um mero produto de consumo. Em Santos, dificilmente encontra-se alguém que não tem um familiar que nunca trabalhou com café. Seja o maquinista, o colhedor ou o estivador. No Museu do Café, o acervo “Café, patrimônio cultural do Brasil: ciência, história e arte”, resgata a história de personagens que fizeram parte disso, com o intuito de mostrar que sem a ação do homem, o café seria só um grão.
A exposição é sensível ao exibir como o café possibilitou a abertura de ferrovias, a modernização do Porto de Santos, a mudança nas relações de trabalho, geração de riquezas e novos hábitos. Com os imigrantes, a arte e a arquitetura europeia tomaram espaço nas construções. Catadeiras, corretores de café, classificadores, estivadores e costureiras, trabalhavam igualmente neste processo.
A coordenadora do Museu do Café, Marcela Rezek, acredita que esse vínculo é diferente por conta da identificação. “Entrou como um produto de consumo no Brasil, mas foi além e se tornou uma memória, principalmente no Estado de São Paulo. As pessoas têm orgulho de falar que somos os maiores exportadores do mundo. Aonde você for, vai ter café brasileiro. Essa afetividade que o café traz é o que dá a importância”, declara.
Nação produtora e consumidora
Com dimensões continentais, o Brasil proporciona uma ampla diversidade de terras e climas. Isso faz com que os cafés de cada região tenham características diferenciadas e únicas.
Dos dois tipos de plantas de café existentes no país, a Arábica é considerada como a melhor, pois possui um aroma diferenciado, contém mais sabor e corpo. Esse tipo contém 50% menos cafeína que o Robusta (Conilon), que, quando produzido, há uma maior preocupação com a quantidade e o volume, do que a qualidade.
Sensibilidade na produção e no consumo é mais uma qualidade do café em terras brasileiras. “Não é só tomar um café, é saborear e saber que ele é encorpado não porque é amargo, mas porque tem uma persistência melhor no paladar. Isso traz a nota sensorial do café, seja ele coado ou expresso”, explica o barista do Museu do Café, Hallyson Ramos.
O cuidado começa desde o plantio. Sementes são escolhidas, plantadas e mantidas em viveiros que dão origem às mudas. O barista explica que a planta demora, em média, dois anos para alcançar o ponto de colheita. “Depois disso a colheita é anual, e aquele mesmo pé dura de 25 a 30 anos”.
A etapa seguinte é a colheita. No Brasil, existem três tipos básicos: derriça, a dedo e mecânica. Durante o processo de derriça, um plástico é colocado embaixo da planta. Os grãos são arrancados e depositados sobre uma lona, evitando o contato com a terra. Mais caro e demorado, o chamado “a dedo”, exige mão de obra, e consiste na escolha apenas dos grãos maduros. Já a mecânica é rapidamente feita por uma máquina que acumula os grãos em sacas, que depois são despejadas em caminhões para transporte.
No processo de separação, as chamadas “impurezas” e “defeitos” como, pedra, folhas e terra são eliminados do café. Após isso, o processo de fermentação retira a parte úmida e deixa a semente pronta para a secagem.
Na fábrica é onde eles se transformam no conhecido pó. “Para dar o sabor que o café tem, quando as sacras chegam aqui, são torradas adequadamente ao seu tipo”, explica o barista. É necessário respeitar onde o café foi plantado, as características e o aspecto. “É um perfil que designa a variação entre temperatura e fluxo de ar, e você tem controle de alterar isso. Após isso, ele é moído e o café é feito”, finaliza.
Um processo antecessor a esse é o da classificação. A Associação Brasileira da Indústria de Café seleciona o café em três tipos: o tradicional, superior e o gourmet. “O tradicional é o torrado e moído das marcas mais comuns e eles são avaliados mediante o que se tem de volume de defeitos e impurezas. Quanto melhor for a pontuação será mais alta podendo chegar até a um café gourmet”, detalha Hallyson.
O jeito certo de fazer café
Ainda que seja o produto mais consumido no país, o brasileiro escolhe o café de uma forma equivocada. O barista explica que o café extraforte, por exemplo, tem esse rótulo porque é mais torrado, quando a escolha de um café não deveria ser pela torra e sim por sua origem. “O certo é comprar de onde veio e da região específica porque é ela que faz o café ser diferente”, instrui.
Em casa, vale o cuidado também. A dica do barista é não ferver a água e, sim, retirar a panela do fogão quando a começar a aparecer as primeiras bolinhas. Os métodos “coador de pano” e “melitta” não podem ser utilizados por mais de 1 mês e meio e 90 dias, respectivamente. Quanto ao uso do filtro de papel, é ideal higienizá-lo. “Antes de colocar o café, jogue água quente neste papel para que não haja contato do pó com a química e gosto do material”. Se colocado na garrafa térmica, o café não pode ser mantido lá por mais de uma hora, pois pode oxidar, envelhecer e até causar azia quando consumido após o período.
Café vicia?
Para algumas pessoas essa bebida é uma necessidade e, sem o seu consumo diário, relatam ter reações tanto físicas quanto emocionais. Segundo a nutricionista Bruna Figueiredo, o café é psicoestimulante, ou seja, ele ajuda a acelerar o metabolismo em determinadas quantidades, além de auxiliar na concentração. Mas, alerta a profissional, pode levar a uma certa compulsão.
“Em doses moderadas (85 a 250mg), os usuários relatam uma sensação de bem estar, melhora de atenção e pensamento. Porém em doses elevadas (acima de 250mg), surgem efeitos de nervosismo, inquietação, insônia e tremores. O consumo superior a 300/400mg (de 3 a 4 xícaras) em um longo período de tempo, em determinadas pessoas, podem sim a levar a certa sensação de dependência”, explica.
A nutricionista ressalta que nem todo organismo metaboliza do mesmo jeito a cafeína. Enquanto algumas pessoas ficam agitadas e perdem o sono com uma xícara de café ou bebida à base de cafeína industrializada, outras não produzem esses efeitos.
“Cada organismo tem uma tolerância, metabolização e é preciso sempre estar alerta e procurar um profissional nutricionista a fim de determinar as necessidades individuais de cada organismo”, ressalta.
Para tranquilizar os amantes da bebida, a cafeína como parte da dieta diária é aceitável e sem efeitos adversos, quando ingerida de maneira moderada, e com supervisão de um profissional nutricionista.
Fotos: Fabrizio Rodrigues
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